Silvana Nardello Nasihgil
Centro da felicidade. Qual é o seu?
E a vida precisa prosseguir, doa aonde doer, faça a falta que fizer. Muitas vezes, ir embora ou deixar ir é só o que resta para se manter a dignidade dos sentimentos.
Sofre-se uma dor doída quando o outro passa a ser o centro da felicidade, porque se o outro falhar, sucumbiremos fatalmente!
Dói muito quando sozinho(a) se crê que ser feliz é estar junto, é amar o sorriso, o cheiro, a voz, os detalhes, todas as pequenas coisas que um dia nos roubaram a essência, chegando a nos escravizar a alma. Esse sentimento confuso tem o poder de fazer com que se deixe de existir por si, passando-se a experimentar a sensação de que sem o outro tudo deixará de fazer sentido.
Muito facilmente nos abandonamos naquilo que criamos, na expectativa que colocamos no outro e na exigência de sermos amados reciprocamente. Então passamos a viver fora de nós, numa ansiedade que supera todo o amor próprio, nos escravizando ao ponto de desconhecermos a felicidade longe do ser amado.
A isso chamamos de amor?
O amor de verdade não é feito do sentimento que vive sem ter do que se alimentar, unilateralmente, sem parceria, sem respeito, cumplicidade, reciprocidade, gentilezas, ternura, sem colo, abraço, beijo, carinhos, olhares… sem rumo e sem futuro.
O amor de verdade não pode crescer aonde não exista um lugar para se abrigar e fazer ninho, aonde não for bem-vindo e acolhido em toda a sua grandeza.
Vivemos um momento de pessoas presas na extrema carência. O mundo de hoje, a celeridade da vida e os detalhes egotistas fazem do amor um sentimento secundário, que, muitas vezes, é trocado e confundido com sexo, dinheiro e vantagens.
Pela necessidade de sermos amados, criam-se expectativas imensuráveis, delegando ao outro o dever de nos fazer feliz.
Sem muitos critérios, o que se pode constatar é uma gama enorme de confusões emocionais, um querer desmedido aonde a maior falta é o amor próprio.
Poucos são os que buscam uma parceria de sentimentos baseados naquilo que merecem ter, não para completar o que lhes falta, porque já sabem que são inteiros, mas para ter alguém com quem compartilhar a magia de viver com o coração transbordante de sentimentos incríveis.
Falta então um olhar para si, compreender o que significa se amar de verdade, saber o próprio valor, criar expectativas para si dentro de um projeto de vida consistente, desejar o melhor que a vida tem a oferecer e batalhar por cada detalhe.
Falta compreender que para acrescentar alguém à própria vida se faz necessário saber o que se deseja viver, respeitar cada detalhe de si, saber ser merecedor daquilo que existe de melhor e sem medo, se permitir ser feliz, com, sem e apesar de alguém.
Às vezes, precisamos ter discernimento para desistir daquilo que dói, mesmo que queiramos ficar. Escolher ser feliz exige atitudes. O amor precisa ser sempre muito exigente quando se trata de nos amarmos em primeiro lugar.
Silvana Nardello Nasihgil é psicóloga clínica (CRP – 08/21393)
silnn.adv@gmail.com