Silvana Nardello Nasihgil
O amor venceu
Vários pacientes meus conheceram a história de Emily. Quando falo dos afetos, de como fazer para criar laços, eu cito a nossa história com ela.
Emily é uma gata de rua que deu cria três vezes no nosso telhado. Na segunda vez chamamos até os bombeiros para resgatá-los e foi impossível chegar perto.
Então, pensamos em um meio para conquistá-la. Começamos deixando comida e água todos os dias. Não demorou e ela aceitou vir na varanda se servir. Era só abrir a porta que ela fugia em disparada.
Fomos conversando calmante com ela para que criasse intimidade conosco. Ela veio se achegando e cada dia se tornou mais próxima.
Demorou alguns meses para podermos vê-la se alimentar na nossa presença.
Fomos chegando mais perto e ela foi permitindo. Passados mais alguns meses conseguimos tocá-la.
Hoje ela mora na varanda e no quintal, tem duas casinhas, comida e água fresca todos os dias.
E o amor venceu!
Daí reflito com meus pacientes o quanto o amor precisa de paciência, determinação e persistência, de como o amor é uma construção e que para manter ao nosso lado quem amamos, precisamos fazer a nossa parte sem nunca desistir. A conquista é um exercício diário que movendo o nosso sentir, toca o outro.
Hoje, todos os dias ela nos espera para receber carinho. Somos todos envolvidos com ela que é a primeira a receber comida e água todas as manhãs. Ela em contrapartida nos agradece pedindo carinho que damos até que se sinta bem e confortável.
Ela deve ter uns seis anos, imaginamos. Foi criada na rua e a uns quatro mora aqui. É livre e feliz, pois conheceu o amor de quem cuida e zela por ela.
Voltando a nós, humanos: o que estamos fazendo quando não conseguimos a atenção e o amor de quem nos rodeia? Será que estamos dando amor, respeito e nos dedicando?
Não se conquista nada e ninguém dentro de relações tóxicas, com cobranças infinitas, xingamentos, desmerecimento, falta de atenção, sem tempo para se dedicar, faltando paciência, respeito e amor.
Nunca teremos um resultado positivo quando insistimos nos mesmos erros. Precisamos repensar seriamente em mudar os nossos comportamentos, se realmente a vida fizer sentido e se não desejamos que quem amamos se afaste de nós. É preciso fazer diferente.
Pra gente pensar!
Por Silvana Nardello Nasihgil. Ela é psicóloga clínica com formação em terapia de casal e familiar (CRP – 08/21393)
silnn.adv@gmail.com
@silnasihgil