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Tarcísio Vanderlinde

O último pedido insano de Herodes

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Herodes, o Grande, foi um dos personagens bíblicos que mais recebeu atenção do historiador Flávio Josefo. Amparado pelo Império Romano, Herodes governou Israel de forma cruel e despótica de 37 a 4 a.C.

Temendo complôs, mandou eliminar membros de sua própria família. Megalomaníaco, destacou-se pela construção de obras suntuosas, como a monumental reforma do Templo de Jerusalém.

Ao encontrar-se gravemente enfermo num de seus palácios na cidade de Jericó, e suspeitando que a população já estivesse preparando festejos após sua morte, arquitetou um plano cruel para que ninguém deixasse de chorar com sua partida. O plano é narrado por Josefo.

Através de um edito, determinou que todos os judeus mais ilustres do reino fossem a Jericó, sob pena de morte caso desobedecessem, e à medida que foram chegando foi encerrando-os no hipódromo sem indagar se eram culpados ou inocentes.

Admitindo a gravidade de sua saúde, chamou Salomé, sua irmã, e seu marido Alexas e argumentou que não podia ser privado da honra, que é devida aos reis por um luto público: “Ele sabia que o ódio que os judeus lhe tinham era grande, que eles com sua morte teriam se rejubilado, pois mesmo durante sua vida eles não tinham temido revoltar-se contra ele e ofendê-lo”.

E para que não houvesse uma só pessoa no reino que não derramasse lágrimas após sua morte, determinou que eliminassem a flechadas todos os sábios que estavam encerrados no hipódromo. Com isso, tornaria o luto de suas exéquias mais célebre do que qualquer outro que o antecedeu. O pedido de Herodes teria sido feito entre lágrimas diante da promessa do cumprimento da ordem por Salomé e Alexas.

Josefo anotou que “jamais se viu tão espantosa desumanidade em querer que, estando ele para deixar a vida, todas as famílias e mesmo amigos ilustres sofressem também um luto, por sua ordem, a fim de que todo o reino padecesse ao mesmo tempo com absoluta tristeza, pela morte de alguém”.

Felizmente esta última ordem não foi cumprida: “Antes que a notícia de sua morte fosse divulgada, Salomé e Alexas puseram em liberdade todos os judeus ilustres que estavam encerrados no hipódromo e disseram que o faziam por ordem do rei, e nisto merecem os agradecimentos de nossa nação”.

Após a morte, Herodes foi sepultado no castelo Herodiom, como ele mesmo havia determinado. Não consta que houve alguma dificuldade em acatar tal decisão.

 

O autor é professor sênior da Unioeste

tarcisiovanderlinde@gmail.com

 

 

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