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Tarcísio Vanderlinde

Se identificou como Maria

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Embora nem todas as vertentes cristãs reconheçam dezembro como a época do ano em que se comemora a visita do Messias em forma humana à Terra, há um contágio emocional mundial em torno da causa. Não será preciso repetir que a festa, apesar das muitas luzes, fica obscurecida pelo volume de atividades profanas que se realizam no período. Acertando contas, alterando cadastros, tendo em vista mudança de endereço, parei numa lotérica para quitar bloquetos de internet e telefone.

A lotérica é um ambiente ambíguo frequentado por pessoas para acertos de contas normalmente sem a burocracia e o estresse que costuma haver em agências bancárias. Mas ali também se vendem sonhos, sonhos que se materializam para poucos com a contribuição dos muitos que continuarão apenas sonhando. É curioso observar a devoção de como as pessoas chegam ao guichê com os “folhetos de oração”.

Naquele dia percebi uma mulher de baixa estatura entregando um papelote dourado aos que iam entrando na lotérica. Aparentava ser uma mulher indígena. Enquanto aguardava minha vez, verifiquei que o papelote consistia num pequeno envelope onde constava dados de uma entidade missionária, e sugeria uma contribuição para auxiliar as crianças pobres.

A desconfiança que paira nestes tempos tem impactado a generosidade das pessoas. Seria um golpe? Enfim, acabei cedendo, coloquei um valor naquele envelope, entreguei na saída e aproveitei para dialogar um pouco com a pessoa.

Se identificou como Maria. Resistiu em me responder de que religião era, mas acabou se revelando como missionária católica, tendo já dedicado 15 anos ao ministério que representa. Falou que existem coisas da alma que são mais importantes do que revelar a filiação religiosa. Me pegou de surpresa ao me chamar várias vezes de papai. Disse que era das Filipinas, e me pareceu muito convincente ao responder perguntas que fiz sobre a cultura daquele país do extremo Oriente.

Nas escrituras consta o relato de sábios que vieram do Oriente trazer presentes por ocasião do nascimento do Messias. Num mundo que destila fartura e provoca miséria, Maria revela a antítese da visita dos reis magos. Somos de fato tardios em entender certas coisas.

É sintomático que clubes de serviço e mesmo igrejas, esquecendo diferenças, tenham percebido a existência de crianças pobres em suas redondezas, e tenham realizado campanhas nesta direção.

Maria parecia estar antenada a essa realidade. Desconfianças a parte, ela se posicionou na entrada do templo que comercializa sonhos para levar adiante sua missão.

FELIZ NATAL!!!

 

O autor é professor da Unioeste

tarcisiovanderlinde@gmail.com

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