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Tarcísio Vanderlinde

Toque na Alma

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Johan Sebastian Bach nasceu em 21 de março de 1685, na cidade alemã de Eisenhach, em uma família de grande tradição musical. Bach se destacou desde cedo como compositor e multi-instrumentista. Desempenhou vários cargos em cortes e igrejas alemãs, mas foi na igreja São Tomás na cidade Leipzig, onde atuou como mestre de coro, que o músico faria história. Trabalhou ali de 1723 até sua morte em 1750.

Entre as várias obras que o consagraram, quase sempre motivadas por salmos e outros textos bíblicos, apareceu uma composição que se universalizou e é muito apreciada até por quem não curte música clássica: “Jesus alegria dos homens”.

Bach praticou quase todos os gêneros musicais conhecidos em seu tempo, embora tenha se destacado pelas cantatas. Sua habilidade ao órgão e ao cravo foi amplamente reconhecida enquanto viveu e se tornou lendária, sendo considerado o maior virtuoso de sua geração e um especialista na construção deste tipo de instrumento.

À época de Bach, Leipzig era o principal centro universitário da Alemanha. Porém até hoje a cidade guarda uma atmosfera que a singulariza no âmbito das demais cidades germânicas. O movimento pacífico pela reunificação da Alemanha começou numa igreja desta cidade. A universidade de Leipzig mantém até hoje uma capela para quem quiser fazer ali suas orações.

E foi assim que, caminhando pelas ruas daquela cidade, nos vimos em frente à igreja de São Tomás, monumento que passou por diversas restaurações desde os anos de 1100, quando se acredita que ali teria sido colocado a pedra fundamental. A última restauração teve como motivação a reunificação da Alemanha. Os trabalhos foram conclusos no ano 2000, coincidindo com os 250 anos da morte do músico. Na oportunidade o templo também recebeu um novo “órgão Bach”.

Numa espécie de prelúdio para o que viria a seguir, no momento da visita havia um quarteto de ucranianos executando músicas de Bach ao lado da igreja. Antes de adentramos àquele ambiente, nosso guia fez uma fala que contagiou os presentes ao explicar o porquê de aquele território guardar uma sacralidade.

O lugar havia resistido à destruição provocada pela 2ª Guerra Mundial e a condição de ter ficado no “outro lado do muro” para os que ficaram na Alemanha Ocidental. Foi o ambiente que se identificou com o auge da carreira de Bach. Naquele lugar Lutero discutiu e pregou sobre suas crenças no século XVI. Mozart tocou na igreja após a morte de Bach. As tropas napoleônicas utilizaram a igreja como depósito de munições. Durante a Batalha das Nações, da qual Napoleão sairia derrotado, a igreja se converteu em um hospital militar.

Ao entrar naquele templo sentiu-se a sacralidade sobre a qual havia falado o guia. Lá estava o túmulo do imortal Bach. Ao lado, vários instrumentos que utilizara em vida. Não fosse o suficiente, e numa dádiva imerecida concedida aos que entram ali pela primeiras vez, ouviu-se uma contundente tocata que emergia do novo órgão Bach. A música impregnada de vida tomou conta daquele lugar e impactou mentes e corações dos visitantes. Foi de arrepiar.

Assentados naqueles bancos ouvimos num silêncio reverencial. Era como se Bach nos recepcionasse pessoalmente com o que de melhor sabia fazer. Saímos dali sentindo que a alma havia sido tocada. Feliz Natal amigos e amigas!

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