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Editorial

Ah, que bom seria!

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Para quem tem muito pouco, quase nada já é alguma coisa. Nos últimos dias choveram comentários na região de quão boa está a viagem de Marechal Cândido Rondon a Toledo. Os cerca de 15 quilômetros de duplicação já liberados para o tráfego mudaram a rotina de quem transita entre as duas cidades.

Além de mais segurança e uma pista novinha em folha (a outra já precisa de reforma), a viagem ficou mais rápida, mais ágil. Ainda falta um bom trecho para ligar os dois municípios, mas o que já está pronto mostra que essa obra será fantástica para toda região. Tente imaginar se todo o dinheiro arrecadado com impostos no Brasil, que é a oitava economia do mundo, fosse aplicado em benefício dos cidadãos. Nem dá para saber onde o país poderia estar hoje?

O sistema de saúde, que na teoria é um dos melhores do mundo, certamente na prática também o seria. Não haveria filas que hoje duram anos, haveria médicos e outros profissionais da saúde para todos, a população adoeceria menos. Ao invés disso, faltam remédios, as estruturas são precárias, a morte é uma fiel companheira dos corredores. A população adoeceria menos porque existiria saneamento básico e água tratada para todos. Nesse país surreal, onde os impostos são empregados fielmente, não haveria a necessidade de planos de saúde complementares, pelo menos não em tão larga escala.

Ah, se os corruptos, digo, as instituições públicas e os políticos dessem valor ao dinheiro do pagador de impostos. Ah, que bom seria.

As estradas seriam duplicadas, os trens fariam parte da rotina, as hidrovias transportariam grandes cargas, os aeroportos seriam mais acessíveis. Ao invés disso, as pessoas morrem todos os dias em acidentes violentos por falta de infraestrutura. A Transamazônica está em construção desde 1972, há quase meio século. As obras para a Copa de 2014 ainda não funcionam ou não foram entregues. As que funcionam foram superfaturadas. Ah, o trem bala.

A segurança pública, nem se fala. Os policiais seriam bem remunerados, as ruas e escolas seriam bem patrulhadas, o Estado até pegaria de volta para si regiões que hoje são de propriedade de quadrilhas, como as favelas das grandes cidades, notadamente o Rio de Janeiro. Ao invés disso, grades e cercas elétricas, carros blindados, alarmes e seguros de todos os gêneros e população instigada a se armar.

A educação. Ah, a educação. O Brasil deixaria a zona de rebaixamento no ranking mundial. Teria dinheiro não só para pagar bons professores, mas para a tão desanimada ciência e pesquisa que hoje as faculdades têm, para o ensino em tempo integral, para a preparação real de alunos ao mercado de trabalho.

Pois bem, estamos no Brasil. Terra da corrupção, da falta de técnica, da burocracia, da morosidade. O dinheiro do pagador de impostos é pessimamente utilizado pelas instituições públicas. Um dia a coisa muda, tenha fé, mas enquanto isso sejamos felizes com o pouco que retorna, nem que seja meia pista duplicada. Ah, que bom seria!

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