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Editorial

Estádios: terras sem lei

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O futebol é daquelas paixões arrebatadoras. Faz o fortão chorar como um bebê, faz a cara fechada se transformar em sorriso farto, faz sofrer, faz palpitar mais forte o coração, produz frios na espinha e é capaz de gelar a barriga naquele lance que dura menos de um segundo.

Emociona, faz trancar a respiração, vidra os olhos no lance importante, derrama hormônios que enchem os torcedores de prazer. Tudo isso embasado em uma fidelidade pouco vista em outras áreas das atividades humanas. Como dizem por aí, o cara troca o carro, a casa, troca de religião, troca até de família, mas não troca de time.

O brasileiro é um apaixonado por futebol. De Norte a Sul, de Leste a Oeste, são milhões de pessoas que vivem intensamente e diariamente esse amor. As cores, os escudos, os gritos, as histórias do futebol brasileiro são escritas a cada momento por uma legião de fanáticos torcedores.

No entanto, um lado cruel desse esporte nos faz rever rotineiramente essa paixão: a violência que cerca os estádios de futebol. No último fim de semana, mais um episódio de violência manchou o futebol brasileiro. Integrantes de torcidas organizadas se confrontaram no jogo entre Coritiba e Palmeiras, pela Série A do Campeonato Brasileiro.

Polícia, cavalos, bombas, espancamentos, gente no chão, spray de pimenta, torcedores que nem se conhecem querendo o “coro” um do outro em mais um episódio lamentável, repudiável, mas também criminoso.

Foi, mais uma vez, a tempestade perfeita, com a lamentável morte de um jovem que presenciou o conflito entre os grupos que eram para ser rivais, mas demonstram ser inimigos. Ele não foi agredido, mas a briga generalizada, as cenas chocantes, podem ter sido o estopim para uma crise que acabou com a sua vida e trouxe dor e um vazio eterno a seus familiares e amigos.

O que acontece nos estádios de futebol é crime, mas geralmente esses episódios não parecem ser tratados com o mesmo rigor como outros tipos de crimes semelhantes ou que aconteçam longe das cercanias dos clubes de futebol.

Os estádios não são terra de ninguém mesmo que os confrontos frequentes tentem dizer o contrário. O Estado precisa agir com rigor, identificar e punir severamente os culpados. O torcedor não está acima da lei. Aliás, o criminoso travestido de torcedor é um dos grandes males do futebol brasileiro.

Por baixo de mantos e cânticos, muitas torcidas organizadas em clubes brasileiros escondem bandidos, gente que age fora da lei, que agride, que mata em nome de uma paixão ou por qualquer outra coisa exceto a razão e a humanidade. Essas pessoas precisam ser retiradas do convívio social, precisam ser encarceradas para tornar os estádios uma fonte de alegrias, não de medo e traumas.

Um esporte tão apaixonante quanto o futebol merece um pouco mais de atenção das autoridades públicas, da sociedade civil e dos dirigentes dos clubes. É preciso mais segurança para todos. Não dá mais para aguentar tanta violência em um lugar que deveria ser sinônimo de paixão, competitividade e respeito.

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