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Editorial

Cachorrada

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No sentido figurado, cachorrada pode ser algo ruim que alguém fez, uma atitude reprovável, uma trapaça. Pois cachorrada é o que muita gente está fazendo em Marechal Cândido Rondon. Com o perdão do trocadilho, mas o número de cães abandonados nas ruas de Marechal Cândido Rondon liga o alerta dos profissionais e mostra uma tremenda falta de consciência de parte da população.
A ONG Arca de Noé, que cuida exemplarmente desses pets abandonados, tem hoje o maior número de animais desde que foi criada, em 2006. São mais de 200 cachorros e cadelas, velhos, novinhos, de todos os tipos, recolhidos das ruas do município.
Não só das ruas. Nos últimos meses, cresceu o número de pessoas que, aos fins de semana, amarram seus desafetos no portão da ONG, que se vê obrigada a fazer a recolha, tratamento e castração desses bichanos, além de dar alimentação e carinho até que possam ser adotados. Além de rondonenses, moradores de outras cidades do entorno têm sido flagrados deixando os cães próximo à Arca de Noé. Que cachorrada!
Ter um animal de estimação requer muito além do que o pedido do filho de três anos, o desejo de passear com o animal de raça. Requer, acima de tudo, muita responsabilidade e amor. Os cães comem, adoecem, latem, crescem, fazem cocô e xixi, precisam de banhos rotineiros e espaço para brincar, rasgam a almofada… Mas, especialmente, vivem por dez, 15, até 20 anos. Durante todo esse tempo, ele precisa de cuidados, mas invariavelmente precisa de carinho, carinho, carinho, carinho…
Se você está pensando em adotar ou comprar um cachorro ou uma cadela só porque eles são fofinhos, fiéis aos donos, amáveis, protetores e carinhosos, melhor rever sua intenção. Provavelmente você é um sério candidato a abandonar o animal na primeira dificuldade que encontrar, quando tiver que gastar um bom dinheiro no veterinário ou se vai viajar e não tem com quem deixar o peludo. E por aí vai. Coloque na conta os infortúnios que um cão causa, e só depois de ter certeza de que a balança pende para a adoção, compra ou recria desses animais, decida. É uma atitude cheia de sentimentalismos, mas precisa ser feita sob a luz de muita lógica, bom senso e responsabilidade.
Abandonar animais é uma cachorrada, mas sobretudo é crime previsto na legislação brasileira, com pena de prisão, em alguns casos. É uma irresponsabilidade, é mau exemplo para os filhos, para a sociedade, é descaso com a vida e o bem-estar animal.
Aliás, cinco são os preceitos de bem-estar animal. Ele deve ser livre de fome e de sede; livre de desconforto; livre de dor, lesões ou doença; livre para expressar os seus comportamentos normais e livre de medo e aflição. Se nem isso você consegue oferecer a seu amigo, melhor nem chamá-lo de amigo, melhor nem tê-lo. Ter um animal de estimação é para estimá-lo, não para abandonar o bicho quando isso lhe convém. Não faça parte dessa cachorrada.

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