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Editorial

Mea culpa

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A troca das peças para o Ministério da Justiça no domingo (28) pegou o meio político de surpresa e botou mais fogo nas investigações que estão desmontando grandes esquemas de corrupção no Brasil. A demissão do ministro Osmar Serraglio e a nomeação de Torquato Jardim para o cargo traz inquietação na Lava Jato e demonstra que o governo quer se manter cada vez maios longe das investigações, nem que para isso precise inibi-las. Escancaradamente, o presidente assume que trocou as figurinhas porque o então ministro paranaense não estaria blindando o governo e o próprio Michel Temer nos assuntos que permeiam a Lava Jato.

Em miúdos, o discurso da grande imprensa, de analistas políticos e de próprios líderes do governo é que Serraglio não estaria atuando na Polícia Federal para proteger o presidente de eventuais denúncias e para protegê-lo das garras afiadas da Lava Jato. Com o novo ministro, na opinião de muita gente, a Polícia Federal (PF) pode ficar engessada e, com isso, engessar a operação que está moralizando o país.

Mudar ministros com essa justificativa é o mesmo que assumir a culpa pelos crimes que lhes são imputados. Pior, o fazem descaradamente, como se dissessem que é preciso parar com a única coisa certa e agradável que acontece no cenário político brasileiro nos últimos meses. Impedir a Lava Jato, seja da forma como for, é um verdadeiro golpe de direita, que mostra a fragilidade democrática nacional e a manipulação ainda intrínseca proposta por quem está no poder para que consiga se perpetuar. Temer está zombando do brasileiro. A imunda política que se faz em Brasília parece não ter mesmo limites.

As investigações contra Michel Temer, contra o senador afastado Aécio Neves e contra o deputado paranaense e mui amigo do presidente Rodrigo Rocha Loures, entre todos os outros, precisam ser levadas adiante, sem interferências dos próprios governistas investigados, para que a pressão da lavadora não perca força. Torquato não pode mexer em time que está ganhando. Caso contrário, o governo assume mea culpa.

Apesar de ser carta descartada, Serraglio está com grandes poderes. Se não aceitar a proposta de comandar o Ministério da Transparência, Fiscalização e Controladoria Geral da União – o que é bastante estranho para alguém citado na Operação Carne Fraca -, pode voltar ao cargo de deputado federal e, com isso, pegar a cadeira de Rocha Loures, suplente e que assumiu o posto no Congresso em março, com a ida de Serraglio para a base do Executivo em Brasília. Além de perder o foro privilegiado, Rocha Loures, flagrado pela PF com uma mala contendo R$ 500 mil que seriam destinados a Temer, poderia fazer um acordo de delação premiada, o que provavelmente está fazendo o presidente ficar sem sono.

Mais alguns capítulos da fétida política brasileira surgem para envergonhar a nação, promovendo instabilidade e afundando o país em um poço de lama que a nação esboçava sair. Essa tropa de bandidos não pode parar a Lava Jato e acabar com a esperança de dias melhores para esta nação. O povo precisa reagir a isso.

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