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Editorial

Soja 18 quilates

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Quem vai ao supermercado sabe que o preço dos alimentos está nas alturas. Carne, leite e derivados dispararam nos últimos meses. Um dos motivos é óbvio: o preço das commodities. Milho e soja estão batendo recordes históricos de preços. A oleaginosa chega a ser comercializada a mais de R$ 170 a saca de 60 quilos. Para se ter uma ideia, em 30 de outubro do ano passado, há apenas um ano, o valor médio estava na casa dos R$ 70.

Soja e milho são a base da dieta dos animais para a produção de carnes, ovos e leite. Representam, em média, 70% dos custos da fazenda. O resultado não poderia ser outro a não ser o consumidor pagar a conta.

Aliado a isso, a cotação do dólar nas alturas estimula a exportação de grãos, diminuindo a oferta por aqui, o que ajuda a manter os preços das commodities em expansão. Também, o mercado mundial está com estoques de soja muito baixos. Além disso, o Brasil começou a produzir etanol de milho, em larga escala, que arrancou das fazendas uma fatia importante do estoque brasileiro. Mais um detalhe: a peste suína africana dizimou pela metade o rebanho chinês. Os asiáticos não param de comprar mais e mais do agronegócio brasileiro.

A previsão é que a próxima safra deva ser gigante, mas em grande parte do Brasil agrícola, onde se planta a maior parte dos grãos, a chuva demorou muito a chegar e o plantio atrasou. Plantando mais tarde o produtor vai colher mais tarde. Até aí, sem problema. O problema pode se acentuar na próxima safrinha, ou segunda safra. Também chamada de safra de inverno, ela é responsável pela maior parte do milho produzido no Brasil. Como a instalação das lavouras da safra do próximo ano certamente vai atrasar, o milho estará sujeito às geadas. As perdas podem ser colossais, o que elevaria ainda mais o preço do cereal.

E as previsões não são das melhores. As principais lideranças do agronegócio acreditam que os preços da soja e do milho vão continuar em patamares elevados pelo menos até a próxima colheita. Isso impacta, reforçando, diretamente nos custos de produção de praticamente tudo, não só das proteínas de origem animal. Até no chicletes, que leva milho em sua composição.

E como o dólar não deve baixar a patamares de um ou dois anos atrás, a tendência é de continuidade no estímulo às exportações de grãos, mas também de carnes. Lembrando que o Brasil tem o maior rebanho bovino do mundo, coloca seu produto em mais de 160 países. É também o maior exportador de frango e o quarto em suínos.

O mercado de alimentos sofre variações constantes, seja pelo clima, seja pelas incertezas políticas, seja pelas relações comerciais ou de consumo. São inúmeras variáveis que podem explicar o vai-e-vem dos preços nos supermercados. O problema é que o salário está comprando cada vez menos, já que a “inflação dos supermercados” (a mais importante para milhões de famílias) é muito mais alta que os 2% ou 3% ao ano divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

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