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Editorial

Velhas máximas

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Existe a máxima de que no Brasil, plantando, tudo dá. De fato, em princípio esse ditado pode parecer correto, haja vista a abundância de alimentos que o país produz. Na produção, o país é o maior em açúcar, café e suco de laranja; segundo em soja, frango e carne bovina; terceiro em milho e algodão; quarto em carne suína. Nas exportações, primeiro em café, suco de laranja, açúcar, soja e frango. Segundo em carne bovina, milho, farelo de soja, óleo de soja, algodão… São mais de 145 países consumindo produtos do agronegócio brasileiro. Isso representa aproximadamente ¾ do planeta.

Mas engana-se quem acha que o agronegócio brasileiro é uma joia inquebrável. Deixe de colocar as várias toneladas de calcário e adubo para corrigir a terra para ver o que acontece. As fazendas agrícolas precisam constantemente regular o solo para garantir um ambiente equilibrado e sugar o máximo potencial produtivo de cada planta.

Mesmo assim, é uma terra abençoada. As generosas chuvas dos últimos meses estão propiciando uma das melhores safras de milho da história, seja na produtividade alcançada, que deve superar anos anteriores, seja pela qualidade do grão. A colheita já avança sobre boa parte do Paraná e o que era para ser motivo de alegria está virando preocupação: os grãos estão parados nos caminhões, pois os silos e armazéns não estão suportando a quantidade produzida.

A superprodução revela que, por aqui, até pode dar tudo o que se plantar, mas as dificuldades depois da porteira são assustadoras. O Brasil, por exemplo, tem capacidade de estocar apenas a metade dos grãos que produz. A falta de silos e secadores, e isso não é de hoje, compromete a qualidade dos grãos. Os caminhões viram silos improvisados, esperando dias nas filas para poder tratar e vender esse grão para a indústria. É como passar o tempo todo ganhando o jogo e tomar a virada aos 45 do segundo tempo.

A infraestrutura do chamado país do agronegócio deixa muito a desejar. Falta espaço, sobra falta de investimento, falta logística, sobram rodovias esburacadas e pedagiadas, faltam trens, sobram promessas vazias, faltam incentivos, sobram impostos e burocracia. O Brasil, que tem nas riquezas extraídas da terra seu ponto forte, seu alicerce econômico, não dá a devida importância para o agronegócio.

Por essas e outras há outra máxima, que diz que Deus é brasileiro. Essa parece mesmo ser verdadeira. O sol, a água e a terra (fertilizada e corrigida) estão presentes em abundância. As condições climáticas permitem, no caso do Paraná, até cinco safras em dois anos. O povo tem talento, é trabalhador e empreendedor. Parece mesmo que Deus é brasileiro… e bem amigo do produtor rural.

Mas a fé não é suficiente para ser vitorioso no mundo dos negócios. Se o Brasil não mudar drasticamente esses cenários desafiadores, o homem do campo e a indústria de alimentos vão perder competitividade e espaço no mercado mundial. Deus dá a água, a terra, o sol, não as estradas e os silos.

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