Arno Kunzler
DE ONDE VEM A FORÇA…?
As pessoas equivocadamente acham que o povo tem a força. Que a força está na multidão, que, por vezes, ocupa algum espaço mobilizada para algum protesto. Mas isso é um grande equívoco: a força está nas ideias que mobilizam e convencem o povo.
Sem ideias, não há mobilização e nem força popular. Há isso sim, aglomerados de gente sem finalidade específica.
Podemos dizer que hoje o Brasil vive uma enorme carência de ideias e isso faz com que as mobilizações populares dispersem,sem um alvo, sem um objetivo e sem uma organização capaz de levar às conquistas desejadas.
A revolução de 64 (ou seria golpe militar) tinha uma ideia que era colocar ordem no país e a população, pelo menos a maioria, acreditou nisso e fez do regime militar um período de grande aceitação popular, sem eleições para presidente, governadores e prefeitos de Capitais e áreas de segurança nacional.
Depois veio uma nova ideia, a ideia de que o país precisaria eleger seu presidente pelo voto direto.
Mais uma vez o povo foi às ruas apoiar a ideia e com isso construiu um movimento extraordinário, que resultou na queda do regime militar e na volta das eleições diretas.
Depois veio a ideia de estabilidade econômica, de combate à inflação e aos marajás que recebiam salários acima do razoável sem produzir por isso.
Fernando Collor foi eleito presidente defendendo ideias, como combater a inflação e acabar com os privilégios… Não conseguiu, é verdade, mas até hoje temos a mesma necessidade.
Depois veio Fernando Henrique Cardoso com a ideia da estabilidade,já que o governo de Collor não conseguiu. Foi eleito duas vezes defendendo uma ideia, que o Brasil precisava de estabilidade econômica e competitividade no setor produtivo.
Depois veio Lula com uma outra ideia, que os pobres precisariam ter acesso aos resultados produzidos por um país que já era a sétima economia do planeta. Mais uma vez o povo acreditou na ideia, houve mobilização em torno dessa ideia e o PT se agigantou, fez dois mandatos com Lula e agora já está no segundo com Dilma.
E mesmo sabendo que as propostas do PT naufragaram, os políticos adversários do PT não conseguiram criar uma ideia, ou definir uma ideia que levasse o povo a acreditar num novo governo.
Portanto, eleito foi quem prometeu ajudar novamente os pobres e com o voto dos pobres, em sua grande maioria.
Até hoje não surgiu uma nova ideia que tivesse empatia coma população, mesmo aquela que já votou contra o PT.
Está se formando um juízo coletivo do que será necessário fazer para o país voltar a ter um crescimento sólido e distribuição de renda contínua, sem ser através de benefícios ofertados pelo governo. Mas ninguém conseguiu colocar essa ideia de forma palatável que convença os eleitores a comprá-la, num processo eleitoral, até agora.
Aécio Neves foi muito mais um adversário do PT do que um defensor de uma ideia inovadora, algo novo que mobilizasse a opinião pública. Ficou mais apontando defeitos do que oferecendo alternativas.
Nesse embalo do desgaste do PT, quase se elegeu sem ter uma ideia prática para o seu governo. E, talvez, para sua sorte, não foi eleito. Se tivesse que patrocinar os reajustes que o governo do PT acabou tendo que fazer, provavelmente teria o mesmo destino deFernando Collor e que ainda pode ter Dilma Rousseff.
Portanto, estamos, eu e você, os brasileiros, à espera de uma ideia que seja palatável e coloque a esperança de um Brasil melhor no nosso horizonte. Uma ideia convincente, como foram dos militares, as diretas já, a caça aos marajás, a estabilidade econômica e a distribuição de renda e a inclusão social.
Algo precisa acontecer, senão vamos ter eleições sem perspectivas de melhoras para o Brasil.
* O autor é jornalista e diretor do Jornal O Presente
arno@opresente.com.br
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