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Arno Kunzler

É o que faltava…

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Faltava encontrar algum deslize que desse margem para o discurso dos que não querem que a Justiça prossiga combatendo os corruptos no Brasil.

E com a revelação de trechos de conversas entre o ex-juiz federal Sérgio Moro, hoje ministro da Justiça do governo Bolsonaro, e o procurador Deltan Dallagnol, os defensores de Lula e demais condenados encontraram o que estavam procurando para fazer o discurso de “desacreditar” e “desmoralizar” a Operação Lava Jato. Parece engraçado, mas é muito sério isso.

Não se discute mais as provas contra os corruptos e nem os crimes que eles cometeram.

Agora ficou claro, “as provas eram ilegais”, Moro e Dallagnol conversavam…

Será que a conversa entre eles, mesmo que para combinar algumas ações para combater corruptos do colarinho branco, são tão condenáveis?

Mesmo sabendo que para pôr a mão em criminosos desse quilate, não se consegue fazendo apenas o óbvio, porque criminosos desse naipe sabem e conhecem a lei e conseguem se defender?

É uma boa discussão que agora nos coloca diante de duas situações.

Pode um magistrado conversar com um promotor, ainda que os dois estejam imbuídos do mesmo propósito, durante um processo de investigação?

Isso torna as provas nulas?

Um juiz pode pedir ao promotor que acelere as investigações, num processo de combate à corrupção onde os dois estão envolvidos?

Um juiz pode indicar ao promotor que tem uma fonte confiável para depor num processo onde ele é magistrado?

Isso tudo passa a ser visto como um erro judicial, ou até um crime, dependendo da ótica do cidadão, capaz de invalidar processos e anular provas.

E os crimes que eles combateram e descobriram voltam à estaca zero?

Isso tudo parece muito estranho para um leigo como eu…

Enquanto os defensores de Moro entendem que isso é normal, apoiando incondicionalmente suas decisões e que precisa ser feito desta forma para que se tenham provas para condenar crimes visivelmente existentes, os adversários encontraram algo para atacar Sérgio Moro.

Desta forma tentam anular provas e soltar criminosos, alegando que as prisões, agora provado, são ilegais.

E convenhamos, Sérgio Moro, agora ministro, tem muito mais adversários que se possa imaginar.

Inclusive, a grande maioria dos parlamentares brasileiros, que, silenciosamente atuam e torcem contra o sucesso do ministro, especialmente trabalham contra a aprovação do seu projeto de lei que endurece as penas.

E eles sabem que desmoralizar o ministro Sérgio Moro é fundamental para tirar do governo o que ele tem de melhor: o clamor e a força das ruas.

Sérgio Moro é o ícone desse grito, desse apelo por Justiça, que finalmente através da Lava Jato despertou nos brasileiros um sentimento de que a Justiça pode alcançar os criminosos do colarinho branco.

Sem a força do ministro Sérgio Moro o governo Bolsonaro perde muito.

O PT vai fazer de tudo para tornar essas revelações algo grave que depõe contra a Lava Jato e o ministro.

Se aqueles que defendem o ministro e a Lava Jato não levantarem sua voz, não encontrarem motivação para voltar às ruas, serão sufocados pelo PT.

Como escrevi quando Sérgio Moro aceitou o convite para ser ministro: “Sérgio Moro é mais importante para o governo do que o governo para ele”.

Agora pode mudar, o governo pode se tornar mais importante para ele do que ele para o governo.

 

 

Arno Kunzler é jornalista e diretor do Jornal O Presente e da Editora Amigos da Natureza

arno@opresente.com.br

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