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Arno Kunzler

Encruzilhada

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Um pronunciamento lúcido e equilibrado feito da tribuna do Senado da República pelo senador Oriovisto Guimarães – um dos melhores senadores da nova safra – na quarta-feira (15) mostra bem o tamanho da crise brasileira.

Não que precisássemos ouvir o pronunciamento para conhecer a crise, mas ele consegue retratar com muita competência o seu verdadeiro tamanho.

E, mesmo diante de um desafio desses, estamos perdendo tempo discutindo picuinhas e fazendo verdadeiras quedas de braço.

Nosso governo – e nós brasileiros -, governo esse eleito com os votos da nossa esperança, especialmente aqui na região com a quase unanimidade dos votos, tem pela frente o que Oriovisto chama de “hora da verdade”.

Ou entendemos a “hora da verdade”, ou não nos restará outra coisa senão uma nova e profunda crise.

Nossa dívida interna, e ela não é fruto somente do governo PT, nem do PSDB, é bom que se diga, e muito menos responsabilidade de Bolsonaro, cresce um bilhão e seiscentos milhões por dia, segundo Oriovisto.

Enquanto o ministro Paulo Guedes, com toda sua competência e tolerância, anda agitado pelos corredores do Congresso tentando convencer nossos deputados a entender e votar o principal projeto do governo, que é a reforma da Previdência, precisa se esquivar das piadinhas e gracinhas de alguns parlamentares.

Por outro lado, o ministro Sérgio Moro não consegue sequer colocar seu projeto de reforma da legislação criminal em discussão.

Não bastasse a oposição aos projetos do governo, de dentro e de fora do governo, de dentro e de fora do Congresso, o próprio governo se atrapalha, tanto que na convocação do ministro de Educação teve apenas 80 votos, contrários à convocação, na Câmara Federal.

Com a economia estagnada, desemprego aumentando, sem ambiente para votar as reformas, o Brasil corre sério risco de viver um novo caos político.

A movimentação das ruas influencia os deputados que não querem votar seu próprio suicídio eleitoral.

E sem a votação das reformas o governo Bolsonaro não se sustenta. E sem um ambiente político favorável ao governo no Congresso Nacional nenhuma das propostas da reforma avança.

Enquanto isso, a grande e desprezada mídia atua para aniquilar o capital político do staff presidencial (leia-se filhos do presidente e seus principais ministros).

A continuar esse clima político, com o governo sendo derrotado em todas as votações na Câmara, não será surpresa nenhuma se o Brasil mergulhar em nova crise política semelhante à de 2014.

Muitos eleitores e defensores ferrenhos de Bolsonaro acreditam que sua postura de atacar adversários e se manifestar sobre questões polêmicas, contrariando e até desmentindo ministros, é saudável. Que ele tem que falar a verdade, doa a quem doer.

Mas, talvez, o Bolsonaro presidente devesse refletir melhor sobre o que fala e quando fala. Seria uma enorme ajuda ao seu governo, principalmente no Congresso Nacional, se é que o presidente está preocupado com a aprovação dos seus projetos.

Difícil acreditar nisso, mas, ao que tudo indica, a nova política proposta pelo presidente Bolsonaro está na UTI.

 

Arno Kunzler é jornalista e diretor do Jornal O Presente e da Editora Amigos da Natureza

arno@opresente.com.br

 

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