Arno Kunzler
Feliz ano novo, ou não…
O mundo vai ver as impressionantes imagens da praia de Copacabana, o lugar mais famoso da cidade maravilhosa, o Rio de Janeiro, e um dos lugares mais procurados pelos turistas de todo o mundo.
As carcaças das barcas, os fogos, as pessoas, tudo está organizado para uma das maiores festas do mundo, na qual dois milhões de pessoas, quase um milhão de turistas e outros cariocas, devem se acotovelar para encontrar o melhor lugar.
A vista panorâmica da praia de Copacabana é incrível, é espetacular. Então, feliz ano novo para quem estiver lotando as praias do Rio de Janeiro e tiver a oportunidade de ver o espetáculo feito pelos governos do Rio de Janeiro – prefeitura e Estado.
Pena que ali do lado existem em torno de 20 hospitais públicos sem remédio, sem médicos, sem enfermeiras e sem atendimento a centenas de cariocas que não podem ver a festa de ano novo.
O governo do Rio não tem dinheiro para pagar os funcionários e nem comprar material hospitalar para atender a rede pública de saúde.
Esse contraste que vivemos não só no Rio de Janeiro, mas em quase todo o Brasil, é que demostra como nossa política de Estado é falha.
Não é questão de não se fazer a festa de ano novo, claro que não. Ela atrai turistas que geram renda para a cidade. Mas não é concebível que ali ao lado um hospital tenha que parar por falta de material hospitalar, enquanto se gastam milhões para comprar fogos que duram 15 minutos.
A questão é invocar a seriedade dos governantes para que se façam os eventos que são necessários e importantes, mas também se dê prioridade às questões que envolvem as camadas sociais menos favorecidas.
E aí é o caso. Quem precisa da rede pública de saúde, via de regra, são as pessoas menos favorecidas.
Já disse um conceituado médico rondonense que um dia, se deputados e ministros, juízes e promotores tivessem que esperar na fila do SUS, certamente o SUS funcionaria.
É isso, onde os ricos e os que têm o poder vão se divertir não falta dinheiro; onde os pobres vão cuidar da saúde, simplesmente o governo diz que não tem dinheiro.
E todos nós sabemos que isso não é verdadeiro, que a desculpa é sempre a mesma e é sempre fajuta. Que dinheiro existe, mas ou é desviado da verdadeira finalidade ou simplesmente é embolsado indevidamente.
Essa é a mais triste realidade que vivemos neste fim de ano de 2015. Ver uma cidade tão bonita, tão procurada e tão maravilhosa tratar tão mal seus trabalhadores e seus cidadãos que precisam de atendimento médico.
Mas é bom lembrar que hospitais sem médicos, sem material hospitalar e sem atendimento não é um privilégio só dos cariocas. Se comparada com outras cidades e Estados, a arrecadação da cidade e do Estado do Rio de Janeiro é monstruosa, o que nos faz sempre entender que quanto mais recursos uma cidade ou Estado tem, menos sensibilidade existe em relação às pessoas.
O dinheiro faz as pessoas sonhar alto e ver coisas grandes, projetos gigantescos e faz esquecer do ser humano, do cidadão…
Isso é assim na vida e no Poder Público parece regra. É só verificar na nossa região as cidades que foram aquinhoadas com maiores recursos de royalties da Itaipu, e comparar os serviços.
Nem sempre recursos abundantes resultam em serviços de melhor qualidade.
* O autor é jornalista e diretor do Jornal O Presente
arno@opresente.com.br
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