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Arno Kunzler

Um país dividido

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Seja quem for o próximo presidente, não será fácil governar o Brasil.

Muito mais difícil ainda será aprovar mudanças.

Sairemos da eleição divididos e será necessário somar para governar.

Estamos caminhando para a eleição de outubro de uma forma inédita.

Nunca antes na história das eleições, a poucos meses do pleito, houve tanta polarização entre extremos como agora.

É provável que essa polarização, inclusive, faça com que não tenhamos segundo turno.

Não que segundo turno acrescente lá tantas vantagens, mas é bom o eleitor não esperar pelo segundo turno quando pode não haver.

Se a polarização nos extremos tem sua lista de desvantagens, também podemos enaltecer aqui algumas vantagens que certamente o Brasil do futuro viverá.

O lado bom é que vamos ter bancadas na Câmara e no Senado bem definidas, mais alinhadas e comprometidas.

Não será tão fácil os deputados de direita (hoje) se “venderem” para um presidente de esquerda, como ocorreu em um passado recente, quando o Congresso Nacional votava de forma praticamente unânime nos governos Lula e Dilma, facilitando o que ficou conhecido como mensalão, petrolão e outros…

Se o Brasil formar uma bancada razoável de deputados vinculados aos projetos políticos do presidente Bolsonaro e do ex-presidente Lula podemos ter um Congresso muito mais equilibrado e moderador.

Ambas as bancadas sabem que não haverá votação importante (que exige 2/3 dos votos) sem negociação com a oposição.

Negociação, neste caso, não é para significar comprar os votos dos deputados – e, sim, convencê-los a votar em um projeto pela sua importância.

Não estamos acostumados a lidar com um Congresso que tenha esse perfil, nem com presidentes que queiram convencer os deputados a votar.

Tirando o PT, que sempre foi fechado com os seus governantes ou oposição quando os governantes eram de outros partidos, o resto foi sempre composto por grupos que negociavam conforme seus interesses, inclusive quase todos os deputados aqui da nossa região.

Aí surgiu o famoso centrão.

Agora os deputados que se elegerem sob a bandeira do presidente Bolsonaro não terão facilidade para mudar de lado, caso o presidente seja outro.

Terão que arcar com o desgaste que lhes será imposto pela “traição”.

Quem já passou por isso, tendo Bolsonaro como inimigo, sabe bem o que significa.

O que precisamos fazer com maior assiduidade, enquanto eleitores, é cobrar dos nossos representantes posições mais claras e firmes em defesa das bandeiras que os elegeram.

Por exemplo, não se admitirá que um deputado eleito com o apoio de Bolsonaro vote a favor da demarcação de áreas produtivas para reservas indígenas. E isso os eleitores terão que cobrar do seu deputado.

Assim como não será aprovada pelo eleitor dos deputados aliados de Lula a privatização da Petrobras, do Banco do Brasil e da Caixa, por exemplo.

São posições políticas claras que os deputados precisam respeitar para não cair em desgraça com seus eleitores.

E isso, acreditemos ou não, ajuda a construir uma democracia mais sólida e mais equilibrada, que não vai permitir a um presidente tomar medidas que prejudiquem a população.

Democracia pressupõe negociação permanente, pressupõe diálogo entre adversários, pressupõe formar maiorias através do convencimento.

Oxalá, tenhamos aprendido a lição deixada pelo passado recente, quando nosso Congresso foi omisso, para não dizer algo muito pior.

 

Arno Kunzler, jornalista e fundador do Jornal O Presente, da Editora Amigos e da Editora Gralha Azul

arno@opresente.com.br

 

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