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Elio Migliorança

OBMEP MAL GESTADA

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Dia 25 de agosto os alunos das escolas públicas do Brasil participaram da 5ª Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (Obmep). Para a realização do evento, o governo deve ter gasto um bom dinheiro, pois durante semanas os veículos de comunicação noticiaram o evento e incentivaram sua participação. Quem assiste a propaganda e não está envolvido no processo de aplicação e correção das provas deve imaginar uma prova bem elaborada, conteúdo planejado, questões adequadas a cada nível de ensino e série, afinal é prova aplicada em todas as escolas do país. Não foi exatamente isso. Ainda descobrirei como é possível que um evento de tal envergadura tenha sido tão mal elaborado. A cabeça ou cabeças que elaboraram as provas as fizeram num dia de “nenhuma inspiração”. Ou então o responsável pela elaboração da prova deve ser um daqueles alunos que passou por “conselho de classe” porque não sabia o conteúdo e acabou chegando lá porque era filiado a um partido político ou namorado da neta de algum político influente, porque não entra na cabeça dos professores de Matemática o que aconteceu nesta Olimpíada. Vou esclarecer.
Foram aplicadas três provas diferentes. Nível 1 para alunos de 5ª e 6ª séries. Nível 2 para alunos de 7ª e 8ª séries. Nível 3 para as três séries do Ensino Médio. Até aí tudo bem. Acontece que sete questões da prova de nível 3 também estavam na prova de nível 2. Isto significa que alunos da 7ª série do Ensino Fundamental tinham 35% das questões de sua prova iguais às da prova dos alunos do 3º ano do Ensino Médio. Quem leu isto e ficou abismado ainda não viu tudo. Cinco questões que estavam na prova do 3º ano do Ensino Médio também estavam na prova da 5ª série do Ensino Fundamental. Isto pode ser considerado uma avaliação normal? É racional e aceitável que seja exigido dos alunos de 5ª série o mesmo raciocínio e capacidade exigida dos alunos que estão concluindo o Ensino Médio?
Com milhões de problemas de Matemática que existem por aí, os organizadores da prova preparam uma prova para ser aplicada no Brasil inteiro e não têm capacidade para encontrar 20 problemas de Matemática diferentes para cada nível e adequados a cada um deles?
De posse dos resultados, o MEC classifica as escolas conforme o resultado e criticam o baixo rendimento dos alunos na avaliação. Talvez a incompetência com que a prova foi elaborada seja o espelho da situação da educação no Brasil, tão ruim como nunca antes na história deste país. Cheguei à conclusão que o “útero” que gestou esta prova deve ter um defeito de fabricação ou está acometido de uma doença grave e pariu uma criatura defeituosa. Se a prova tivesse sido elaborada pelos professores de Matemática de cada escola com certeza ela estaria melhor dimensionada para cada nível de ensino. Mas como alguém precisava ganhar “algum”, a elaboração foi centralizada e imposta de cima para baixo, sem direito a palpite de quem está na base, onde as coisas acontecem.
Esta coluna será enviada ao MEC, à Secretaria de Estado da Educação e ao Impa – órgão que elaborou a prova para sua manifestação, que, oportunamente, será publicada nesta coluna para conhecimento dos leitores.

* O autor é professor em Nova Santa Rosa
miglioranza@opcaonet.com.br

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