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A bola está com ele?

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Presidente do FC Cascavel é escalado pela alta cúpula do PP para disputar a cadeira de Paranhos; mistura de bola e política é tradicional aqui; Valdinei é candidato ou está só jogando para a torcida?

Valdinei, que já jogou na lateral esquerda, agora poderá ser escalado na ponta direita: bolsonarista com potencial para embaralhar o jogo da sucessão municipal

O atleta jogou o jogo da vida na equipe fraldinha de um time modesto, na “região metropolina de Cascavel”, Lindoeste. Dali veio para a pobre periferia Norte de Cascavel nos anos 1980. As franjas nortistas da cidade eram conhecidas pelos rachões no terrão, peladas que já haviam projetado outro jogador: Adelino Silva.

O lindoestino em questão é outro Silva: Valdinei Antonio. Sua trajetória de menino pobre ao top cinco dos novos ricos de Cascavel foi estonteante. Valdinei chapelou a miséria, caneteou a exclusão e meteu um cartão vermelho na escassez de outrora.

Construiu uma seleção que escala seus 32 CNPJs e mais de 120 sócios em posições do campo tão distintas como seguradora, energia, mercado imobiliário e até um laboratório que veste a camisa azul, vermelha e branca do país do vizinho.

Após uma breve passagem pela lateral esquerda, quando apoiou o professor Lemos, do PT, para prefeito de Cascavel, Valdinei firmou posição mesmo na ponta direita. O time dele – desde que Bolsonaro gerou um efeito manada na torcida – passou a ser a “DOP” – Direita Oeste Paraná, confraria organizada que fez colar cartazes na cidade defendendo o mitológico capitão dos ataques que vinham do flanco canhoto.

Valdinei está escalado para a grande final marcada para outubro de 2024 em Cascavel? Se depender do principal cacique do Centrão no Paraná, Ricardo Barros, sim. O dono do PP paranaense está aqui nesta sexta-feira (25) para entregar o bracelete de capitão da sigla pra Valdinei.

Como a data sugere – 25 de agosto – Valdinei poderá dizer que é um “soldado do partido”, e que poderá até aceitar missão, embora os jargões militares estejam em baixa no flanco direito desde que a alta cúpula dos milicos se recusou a virar a mesa e melar o jogo de 2022.

Barros vai amassar barro para ter a revelação de Lindoeste no jogo de Cascavel. E ele, o ex-deputado, é tarimbado nas quatro linhas, tendo jogado em várias posições: jogou lá atrás no time de Lula, depois da Dilma, foi escalado ministro do Temer e na sequência líder do Mito na Câmara. Ou seja, cobra o escanteio, corre para a área, faz o gol de cabeça e corre para a torcida.

A ESCALAÇÃO

Já se sabe quem vai atuar pelo flanco esquerdo na eleição para prefeito de Cascavel: o ex-deputado Ernani Pudel (PT), energizado pela hidrelétrica da fronteira e por uma eventual melhora na avaliação do governo Lula.
Na área central, mais precisamente na meia direita, figuram ali dois republicanos: Renato Silva e o xerife Márcio Pacheco, outro que já jogou na meia esquerda. Não tem lugar para os dois no time, um vai para o banco.

Na direita, o campo está menos congestionado. Surge ali inesperadamente um Edgar Bueno, que já vergou o lenço vermelho do socialismo moreno brizolista, mas recentemente aderiu ao bolsonarismo, com apaixonadas declarações de voto ao Mito nas eleições do ano passado, a exemplo de seu principal algoz cascavelense, Leonaldo Paranhos.

Não se sabe se o histórico de apoio ao Mito atrairá ou repelirá torcedores no jogo de 2024. Afinal, Bolsonaro já está impedido pelo TSE e em 2024 dificilmente poderá vir para o jogo, já que poderá estar preso a outros compromissos, pois, sabe-se, o juiz Xandão não gosta dele e, após consultar seu Rolex, poderá apitar o fim do jogo por entender que o capitão jogou fora das quatro linhas do campo.

O prefeito não está na quadra. Mas estará operando o VAR, e dirá quem de seu campo político estará em posição legal e quem estará em impedimento. Valdinei poderá ser o camisa 9 de Paranhos? Não se descarta.

Questionado diariamente sobre quem irá escalar, Paranhos tem dito Renato. Ele pôs o vice para jogar desde já. Porém, não se incomoda em ver a revelação lindoestina no aquecimento. No derby político local, o prefeito quer mesmo é derrotar Bueno. E neste caso, “inimigo de inimigo meu, é meu amigo”.

Vazios no campo

Por que Valdinei pode ser competitivo? Pela associação de dois fatores: 1) perfil executivo semelhante ao que consagra Paranhos com mais de 70% de aprovação popular; 2) nome novo em meio a veteranos já tantas vezes testados nas urnas, que parecem jogadores cansados, em alguns casos com sintomas de câimbras.

A questão a saber é se ele topa ser escalado, se está flertando mesmo com a mosca azul ou apenas jogando para a torcida. O que se sabe é que a pressão será do tamanho do Olímpico Regional: Ciro Nogueira, presidente nacional do PP e chefão dos ministros de Bolsonaro, ligou para o cascavelense dando todas as garantias.

O Pitoco apurou que a histórica resistência dos sócios dele (Jorge Tasaki, Rosani Ferrari, Gilberto Lorenzi e outros menos votados), atenuou. Mas que Valdinei tem a preocupação de primeiro formar seu sucessor dentro do núcleo familiar. E para tanto vem preparando seu primogênito para a missão. Também precisa sincronizar as embaixadinhas com dona Marcia, a esposa.

Enfim o campeonato tem muitas rodadas, está longe do mata-mata e até aqui não passa de resenha de peladeiro. Portanto, tudo pode acontecer, inclusive nada. Afinal, treino é treino, jogo é jogo.

MISTURA DE BOLA E URNA É HISTÓRICA

Bola dá voto? Sim e não. Quando se supõe que o presidente do FC Cascavel, Valdinei Antonio da Silva, pode disputar a eleição para prefeito em 2023, e que o futebol é uma estratégia política, pode-se tranquilamente afirmar que não é nada original.

Antes dele outros “cartolas” do planeta bola se aventuraram no mundo das urnas. Um deles foi Nelson Vetorello, empresário do mercado imobiliário.

Outro foi o industrial do ramo moveleiro, Ivo Roncáglio. Ambos, Vetorello e Roncáglio, ex-presidentes do futebol profissional do Cascavel, foram goleados nas urnas e acabaram arruinando seus negócios.

Mas há casos de sucesso também, embora relativo. Edgar Bueno presidiu o Cascavel, candidatou-se a prefeito e não foi eleito nas primeiras rodadas. Porém, na sequência do torneio venceu, e até hoje é o político mais vencedor da cidade, com três mandatos de prefeito na galeria de troféus.

Valdinei será Edgar, ou será Roncáglio? Ou será Vetorello? “Quem é o Valdinei na fila do pão? Embarcou ontem no ônibus e já quer sentar na janela” – a frase é de um ex-vereador, engajado da campanha do outro Silva, o Renato.

O tom da prosa demonstra a preocupação da torcida meio-centrista ao ver o direitista no aquecimento e anuncia que esse vai ser um jogo de muita pancadaria.

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Pastel, perereca e tilápia

Vereador propõe comprar conteiners de dentes para produzir milhares de dentaduras a cascavelenses desdentados

Melo em sua suíte vermelho-amarelada na chácara em que serviu a tilápia para obter a perereca: “cai no bairrão pra ver!”

O vereador Vilmar Melo, popularmente conhecido como “Melo do Pastel”, empresário do ramo de alimentação, propõe escalar a compra de dentaduras para triturar os preços e fornecer dentes para a população desdentada de Cascavel. É o “Projeto Perereca” que, segundo ele, pode reduzir em 80% o custo da aquisição e atender até 10 mil cascavelenses de baixa renda.

Melo do Pastel preparou um jantar à base de tilápia frita, na última segunda-feira (23) em sua chácara em São Salvador para apresentar o projeto. O Pitoco estava lá:

Pitoco – Prá que tanta perereca, Melo?

Melo do Pastel – Para ter preço. Se comprar acima de mil dentaduras, pagaremos 20% do preço. Paciente teria que pagar cerca de R$ 2 mil para por uma chapa comprando no varejo, no atacado é possível obter a mesma perereca por R$ 400.

E por que distribuir perereca para o povo?

É um projeto social importante, questão de saúde pública. Pessoa sem dentes não tem autoestima nem saúde, já que não faz a mastigação correta.

De onde vêm as dentaduras baratas, da China?

Virão de laboratórios nacionais, possivelmente com insumos e componentes da China. Se importar um conteiner inteiro de dentes, o preço da perereca vai lá pra baixo.

Tem certeza que há demanda em Cascavel para tanto dente?

Cai nos bairrão para você ver, é muita gente precisando. Município não tem uma política para isso, não podemos ser a segunda melhor cidade do Brasil com tanta gente sem dente. Se conseguirmos 10 mil pererecas, encontraremos 10 mil pessoas para por perereca na boca.

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É o fim da mordida no PY?

Medida tomada pelo governador de Alto Paraná para conter as “pistolas da extorsão” é equivalente a tirar o sofá da sala para evitar o adultério

O governador Torres tenta conter as “pistolas da extorsão”

Não dá para oferecer um “cafezinho” para o pardal, até porque o pretinho não está no cardápio da ave, que prefere pequenos insetos. Então as autoridades paraguaias poderiam se utilizar dos radares – batizados aqui de pardais – para tentar conter as mordidas dos maus policiais e agentes de trânsito do país vizinho.

No entanto, o governador do Departamento do Alto Paraná, cuja capital é Ciudad Del Este, César Torres, preferiu proibir o uso da fiscalização móvel, as pistolas, na tentativa de coibir a corrupção da polícia rodoviária.Segundo o governador, não haverá mais nenhum tipo de controle com as famosas “pistolas de extorsão”, nome com o qual esses equipamentos foram batizados pelos motoristas.

Agora, os controles nas rotas nacionais que atravessam o departamento serão realizados exclusivamente nos postos fixos, que são sete no departamento. Os pardais ainda não estão nos planos, e o controle em postos fixos pode permitir um efeito oposto, o do abuso da velocidade.

Torres age como o marido desconfiado que tirou o sofá da sala para evitar o adultério. “Falamos também sobre veículos com placas estrangeiras, como é sabido nossa região é muito visitada, pois recebemos muitos turistas. Eles não serão abordados”, garantiu o governador.

Ele determinou, ainda, que os testes de bafômetro continuarão sendo realizados apenas à noite e nos finais de semana e em locais estratégicos.
As medidas parecem insuficientes, mas já trazem algum acalento. Afinal, é até difícil dimensionar quanto o Paraguai perde em turismo e desenvolvimento econômico toda vez que um agente do estado visita o bolso do turista.

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O sapateiro

Não há ali um computador para registrar o que é de quem. É tudo analógico, replicando o ofício de milênios atrás

“Sempre tive pena de mim mesmo porque não tinha sapatos, até um dia que encontrei um homem que não tinha pés.”

A frase do filósofo chinês Lao-Tsé produzida séculos atrás remete ao clássico Desiderata, texto que nos desaconselha comparações. “Se você se comparar a outros, pode tornar-se vaidoso e amargo porque sempre haverá pessoas superiores e inferiores a você”, pontua a Desiderata.

Na manhã do último dia 18 tive a oportunidade de trocar rápidas palavras com o sapateiro Angelo Angonese. Fui buscar um objeto deixado ali semanas antes para um reparo.

Boa dia, Angelo. Vim buscar uma bola Topper…

Lembra da cor? respondeu ele.

Passei os olhos por aquele ambiente apertado e absolutamente abarrotado de calçados, bolsas, artigos de couro em geral, tudo que se possa imaginar, e perguntei:

Como você consegue saber o que é de quem aqui?

Olha, se a pessoa souber seu próprio nome, fica mais fácil…, disse o sapateiro.

Achei graça na resposta. Cada um tem um jeito de trabalhar. Não há ali um computador para registrar o que é de quem. É tudo analógico, replicando o ofício do sapateiro de milênios atrás.

Percebi que o incômodo do Angelo é outro: clientes que deixam seus sapatos ali para o reparo e nunca mais retornam…

Há até um cartaz imenso alertando os distraídos: “Atenção, prazo máximo para retirada é de 90 dias, caso não seja retirado, o produto será encaminhado para doação”. Como jornalista, observo que o sapateiro tratou o idioma com respeito no aviso.

Especula que sou, mando outra pergunta enquanto vejo o bico da bola ser extraído ali na minha presença:

O senhor é filho de sapateiro?

Não, responde Angelo, mas meu filho está aprendendo, disse ele apontando para Anderson, o sapateiro que largou o que estava fazendo para reparar a bola. Senti orgulho do filho na fala do pai sapateiro.

Está pronta, pelo bico não vaza mais – diz Anderson, passando a bola.

Paguei os R$ 20 do reparo e saí matutando… Naquele ambiente humilde, despojado, espartano, em que as pessoas sentam-se sobre cadeiras rústicas e transitam por corredores apertados por milhares de bugigangas a reparar, o pai surge com um sorriso discreto por ver o filho seguir o ofício milenar que – diferente de minha profissão – não me parece ameaçado pela inteligência artificial.

Enquanto as pessoas, mesmo se queixando, tenham pés, sem dúvida haverá sapatos. Enquanto houver sapatos, haverá sapateiros como o Angelo da rua Visconde de Guarapuava, centro de Cascavel.

Por Jairo Eduardo. Ele é jornalista, editor do Pitoco e assina essa coluna semanalmente no Jornal O Presente

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