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Anton e Ferroni, soldados vizinhos

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Separados 109 quilômetros, ou 90 minutos pela rodovia Cascavel-Missal, Anton e Ferroni não se encontraram na Europa nos anos 1940; melhor que tenha sido assim…

O ex-combatente da II Guerra Mundial, Mário Ferroni, faleceu no último dia 30 de agosto, aos 104 anos. Ele viveu 14 anos mais que outro ex-guerreiro longevo, Anton Josef Dasenbrock. Ambos combateram na carnificina europeia no mesmo período. Sobreviventes, eles “vizinharam” por décadas no Oeste do Paraná, sem que haja notícias que tenha sido apresentados, nem lá, nem cá.

Foi bom que não tenham se conhecido na Europa, pois lutavam em campos opostos: Anton no Exército de Hitler, Ferroni na Força Expedicionária Brasileira. O alemão viveu em Missal por décadas, era sócio-fundador da Cooperativa Lar. Ferroni morou em Cascavel até o óbito recente, fato que ensejou resgatar o texto histórico abaixo, que relata a odisseia do “inimigo” que ele nunca conheceu, embora ambos tenham morado na mesma região.

QUEM FOI ANTON?

Morreu em um abril de 2016, aos 90 anos, em Missal, Anton Josef Dasenbrock, pai do presidente da Central Sicredi PR/SP/RJ, Manfred Dasenbrock. Casado com Elisabeth, deixou nove filhos, 18 netos e cinco bisnetos. Natural de Sögel, Alemanha, a família Dasenbrock migrou no início da década de 1950 para a cidade gaúcha de Rolante e posteriormente, em 1964, para Missal (PR).

LIVRO

O escritor Roberto Marin (in memoriam) editou, em parceira com o jornalista Heinz Schmidt, um livro que contou a história da família. No livro publicado em 2013, Marin relata que Anton combateu na II Guerra Mundial. “Esteve na famosa batalha do Dia D (6 de junho de 1944) quando as tropas aliadas invadiram as praias da Normandia e libertaram a França do domínio nazista e, praticamente deram o tiro de misericórdia no III Reich de Hitler ensejando o fim da guerra. Salvando-se do intenso bombardeio dos aliados, Anton Josef virou prisioneiro de guerra durante três longos anos na Inglaterra, Estados Unidos e Bélgica”.

CONVOCAÇÃO

Marin relata que Anton Josef era um jovem estudioso, devorador de livros, agricultor que, aos 17 anos, recebeu a convocação para o serviço militar alemão, no ano de 1943. Após breve treinamento é encaminhado para o campo de batalha na França, ocupada pela Alemanha. Relata Anton Dasenbrock: “Fui designado para um batalhão de infantaria, e quando os aliados entraram na Normandia (praia francesa), em junho de 1944, fomos enviados para uma das frentes de combates, ao norte de Saumur”, relembra.

Quando começou a batalha do “Dia D”, Anton Josef tinha em mãos uma metralhadora MG.42, “capaz de disparar até 1.200 tiros por minuto”. A arma potente pouco ajudou, pois “os americanos chegavam a largar duas mil bombas por dia. Bombardeavam continuamente, até que nenhum alemão mais se mexesse. Era um tapete de bombas. E ai vieram os paraquedistas para liquidar de vez com a minha companhia”, relatou o sobrevivente.

COMBATE

Dos 180 homens que formavam a terceira companhia, restaram apenas 13 ao final dos combates. O já experimentado soldado Dasenbrock teve a sorte de figurar entre eles. Mas sentiu seu corpo atingido de raspão por duas balas e estilhaço de granada, e viu seu melhor amigo, Werner Bork, “morrer silenciosamente com um tiro na cabeça”.

Texto produzido em 2016 pelo jornalista Samuel Z. Milléo Filho, da assessoria de imprensa da Ocepar

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Santa Helena, 40 graus

Advogado denuncia remoção de centenas de árvores cinquentenárias; prefeitura assegura ter autorização e diz que irá repor a vegetação

Perspectiva arquitetônica do projeto que remodela avenidas em Santa Helena gera debate entre moradores e administração pública.

“Enquanto a grande maioria das cidades busca se destacar como sustentáveis e referência na arborização, como é o caso de Maringá, que se destaca por ser a mais arborizada do Paraná com 97,5%, Santa Helena nos últimos anos tem feito o cominho inverso com a remoção de centenas de árvores cinquentenárias das ruas e praças da cidade, cujo calor no verão chega a mais de 40 graus”.

A frase é do advogado Neri Mazzochin, indignado com a retirada da arborização em várias ruas e avenidas da cidade em que vive.

Segundo Mazzochin, a queixa é geral, especialmente dos comerciantes das principais avenidas em que as árvores foram removidas, “pois mesmo que replantadas, a espera para ter algum sombreamento é de mais de dez anos”.

Conhecedor da fornalha que os verões podem impor ao município, o advogado vai adiante: “Quem tiver sua residência, empresa ou pretender estacionar nas principais avenidas de Santa Helena, tais como a Avenida Brasil, Rio Grande do Sul e outras ruas, durante a próxima década, vai ter que conviver com o sol escaldante que, nas tardes de verão, com o reflexo do espelho d’água do Lago da Itaipu, tornará o calor em Santa Helena insuportável”.

OUTRO LADO

Segundo o assessor de imprensa da Prefeitura de Santa Helena, Elder Boff, a remoção das árvores está autorizada pelos órgãos ambientais, já que serão substituídas por espécies mais adequadas à arborização urbana. Boff argumenta que muitas das árvores retiradas já representavam risco de queda. “Estavam fora do padrão e muitas delas inclusive condenadas; serão substituídas dentro do que prescreve a legislação ambiental”, assegura.

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Governador e a buzina do berro

Ao inaugurar planta de biogás em Toledo, Ratinho Junior afina o discurso para herdar flanco direito aberto com a inelegibilidade do ex-presidente Bolsonaro

Governador recebe o “porco de ouro” das mãos do prefeito Beto Lunitti: Toledo pode ser a “Arábia Saudita” do esterco suíno transformado em biogás e biometano

Pré-candidato a presidente da República no vazio deixado no flanco direito pela inegibilidade de Jair Bolsonaro, Ratinho Junior tem intensificado a exposição pública e buscado um selo verde do agro como credencial para voos mais altos.

Ele esteve no Oeste do Paraná no último dia 15 cumprindo extensa agenda que incluiu visitas a Toledo, Cascavel e Medianeira. Em nenhum momento citou o ex-presidente nem o oponente dele, hoje inquilino do Palácio do Planalto.

Antes pelo contrário, Ratinho apontou para a bandeira branca. “É preciso criar um ambiente de paz, prosperidade, é pôr todo mundo no mesmo rumo. Assim o investidor acredita e vem. O que o empresário não quer é encheção de saco de político, ninguém aguenta mais! É olhar para frente”, disse.

Ao defender o processo de agroindustrialização, o governador brincou com um adágio bem conhecido porteira adentro, atestando que do boi só não se aproveita o berro. “Agora vamos começar industrializar o berro do boi para fazer buzina, vamos aproveitar até o berro do boi”, descontraiu ele.

O Pitoco esteve acompanhando a visita em Toledo, e reproduz aqui os principais trechos do pronuciamento, incluindo cutucadas nos europeus, relutantes em aprovar o acordo comercial com o Mercosul alegando questões ambientais.

VENDENDO O PARANÁ

“Estive em Nova Iorque em maio a convite para falar com uma plateia de 300 investidores internacionais. Eram fundos árabes, americanos e de Singapura. Estavamos lá, eu e mais oito governadores apresentando oportunidades de negócios em países emergentes. Mostrei para eles que o Paraná é o supermercado do mundo, que ninguém produz tanto alimento em quantidade e variedade por metro quadrado no planeta.”

1 MILHÃO DE DÓLARES

“Mostrei para os investidores que não há outro lugar no mundo que uma pequena propriedade de três hectares produz frango, suíno, peixe e energia a partir do biogás e de placas fotovoltaicas, faturando um milhão de dólares/ano, como temos exemplo aqui em Toledo. Vale dizer que para instalar uma usina solar pequena demorava três meses, implantamos o descomplica e agora é a licença é automática.”

ENTREGANDO O OURO

“Para sermos o supermercado do mundo não é só produzir soja e milho. Tem que industrializar os alimentos. Não é inteligente colocar grãos no navio e mandar para os chineses ou europeus. Estamos entregando ouro para eles. É preciso fazer o que as cooperativas estão fazendo, transformando grãos em proteína animal, picado, embalado, refrigerado e só então vendido para esse pessoal com valor agregado.”

BICHO DE GRIFE

“Temos uma terra privilegiada, entre as quatro mais férteis do planeta, só comparável as terras da Ucrânia. Somos o maior produtor de mandioca do Brasil, respondendo por 90% da produção. E o que podemos fazer com o amido da mandioca? Luva cirúrgica, camisinha para proteger equipamentos usados pela Petrobrás para perfurar o pré-sal. Nosso bicho da seda vira lenço de grife da Hermês e da Chanel no Japão e na França. São lenços de mil dólares produzidos no Paraná. Isso é agregar valor.”

SUSTENTABILIDADE I

“Tem muita conversa fiada de europeu sobre sustentabilidade. Aqui sim, há alimentos com valor agregado e sustentáveis. Eles exigem selo verde? Nós temos. Se é isso que exigem, mesmo usando energia do carvão e nuclear na Europa, tenho a dizer que no Paraná 94% da energia é limpa e renovável. Produzimos 20% da energia do Brasil. Nós podemos falar de sustentabilidade. Somos, em três anos consecutivos, o estado mais sustentável do Brasil.”

SUSTENTABILIDADE II

“Preocupação ambiental também é bom negócio. Vimos aqui em Toledo a agricultora que gastava R$ 750 por mês com energia e agora paga zero com financiamento a juro negativo do nosso projeto. Somente com a usina solar, ela colocou R$ 10 mil a mais como receita no orçamento familiar por ano. Incentivar propriedades autosustentáveis é bom negócio e é bom para qualidade de vida de nossos produtores.”

PRÉ-SAL DO PORCO

“Liberamos mais de 6,5 mil financiamentos a juro zero para projetos de energia limpa para pequenos agricultores. Temos uma Arábia Saudita aqui indo embora, quando desperdiçamos os dejetos de animais. Temos um pré-sal de biogás sendo desperdiçado. Vamos criar uma teia de dutos e gasodutos para integrar essas plantas de biogás como é feito no sistema de energia. Vamos canalizar a produção e integrar, suprindo uma grande usina de biogás para transformar propriedade autosuficiente, vendendo os excendente para cooperativas e para o mercado.”

BERRO DO BOI

“Passamos a ser a 4ª economia do país, atraímos R$ 240 bilhões de novos investimentos, sendo R$ 30 bi nos próximos quatro anos das cooperativas aqui da região. Estive com o Alfredo Lang, presidente da C.Vale. Eles vão inaugurar ainda este ano a maior esmagadora de soja do Brasil, com capacidade para processar 2,5 mil toneladas/ dia, projetada dobrar esse número em breve. Isso é industrializar. Daqui a pouco vamos começar industrializar o berro do boi para fazer buzina, vamos aproveitar até o berro do boi.”

Por Jairo Eduardo. Ele é jornalista, editor do Pitoco e assina essa coluna semanalmente no Jornal O Presente

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