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Chineses chegaram de busão em Cascavel

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No arrancadão do ônibus da Transitar, asiáticos largaram a 19 mil quilômetros de distância e cruzaram a linha de chegada antes da indústria local

Anote o endereço aí: Suhong Road, 288 Jiangsu, China. É logo ali, do outro lado do planeta, a 19.108 quilômetros da Prefeitura de Cascavel. Outro endereço: Avenida Aracy Tanaka Biazetto, 16.450 – Bairro Santos Dumont, Cascavel, distante 6,91 quilômetros do paço municipal.

No primeiro ponto do mapa mundi está a Higer Buss Company, listada entre as 500 empresas chinesas mais valiosas, maior fabricante de ônibus elétricos do planeta, com 35 mil veículos por ano. No segundo endereço, a cascavelense Mascarello Ônibus, uma das principais indústrias brasileiras no segmento.

Pois bem, a Prefeitura de Cascavel, através da Transitar, licitou a compra de 15 ônibus elétricos ofertando pouco mais R$ 43 milhões pela frota. Quem ganhou o certame? A turminha de perto ou os olhos apertados ao longe?

Sim, os chineses chegaram de busão a Cascavel. Aliás, já estão aqui há muito tempo. São os maiores clientes da turma do chapéu. A Mascarello, que chegou a desfilar um ônibus elétrico pela Avenida Brasil em março de 2020 em parceria com a também chinesa BYD, sequer participou do certame.

O embate dos asiáticos foi com a Caio, empresa nacional com 77 anos de tradição e que gera três mil postos de trabalho no interior de São Paulo.

O problema da Mascarello e da Caio não passa pelas competências de seus diretores. A questão é internacional: como competir com os chineses, se eles percorrem 19 mil quilômetros antes de vencermos os primeiros 6,9 mil metros?

SHANA DE CHINÊS

O Pitoco registrou, em março de 2011, a chegada dos primeiros veículos chineses a Cascavel. Para dar uma noção da distância cultural e mercadológica, eles batizaram o carro com o nome de Shana. Virou manchete do jornal e piada maliciosa. Mais tarde, no mesmo ano, trocaram o nome para Changan.

Em pouco mais de uma década os asiáticos puseram o cabo na tomada 220 e passaram a ostentar o maior parque automobilístico mundial. A BYD entrou em 2023 na condição de maior fabricante de carros elétricos do planeta, superando a norte-americana Tesla. E no arrancadão da Transitar, o ônibus chinês chegou na frente do nacional, apesar de largar do outro lado do planeta.

O elétrico da Higer que vai operar em Cascavel: motores a diesel ficarão na fumaça

TRANSPORTE PÚBLICO

Perfil da frota que vai circular em Cascavel

Para vencer a licitação em Cascavel, os engenheiros chineses tiveram que “inventar” um outro modelo, com portas dos dois lados, dadas as condições insólitas das paradas de ônibus da cidade.

E cumpriram as muitas exigências do edital, entregando até mais do que foi pedido: internet a bordo (wi-fi), ar-condicionado, vidros com tratamento para raios ultravioletas, conectores UBS e freio regenerativo – aquele da Fórmula 1 – que transforma a frenagem em carga para a bateria.

O biarticulado leva até 154 passageiros com autonomia de 270 quilômetros e uma curiosidade: o ônibus ajoelha, ou seja, a suspensão rebaixa o até o nível do solo para atender cadeirantes.

A EMPRESA

A Higer Bus fatura 5,5 bilhões de dólares (mais de R$ 25 bilhões) produzindo 35 mil ônibus a cada 12 meses para 138 países. A escala gigantesca de produção explica a vitória em Cascavel. Cidades como Shenzhen – a São Paulo da China – aposentou seus 16 mil ônibus a combustão e colocou em operação a maior frota elétrica do planeta.

Foi assim que a China ficou mais perto da prefeitura que a Mascarello. China não é mais
Shana. E também no segmento ônibus, quem continua apostando no fóssil vai ficar na fumaça.

Em tempo: a frota será abastecida com energia solar. A usina fotovoltaica será implantada no aterro sanitário. E os eletropostos – capazes de conceder mais de 200 quilômetos de autonomia em quatro horas de carga – serão instalados ao lado do Terminal Oeste. A Higer declarou ao Pitoco que entrega os veículos em 180 dias.

Higer articulado tem 18 metros de comprimento e transporta 154 passageiros: em breve na Avenida Brasil, sem barulho e sem fumaça

Por Jairo Eduardo. Ele é jornalista, editor do Pitoco e assina essa coluna semanalmente no Jornal O Presente

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