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Pitoco Conexão Cascavel-Itapema

Começa a sair do chão em Cascavel o 2º maior edifício do Paraná

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Inversão do ciclo “interior-praia” tem explicação lógica

Há dois Lucianos muitos badalados no eixo Camboriú-Itapema, no litoral de Santa Catarina. Um deles é o Hang, por motivos óbvios. O outro é Luciano Dallo, fundador da construtora que leva seu sobrenome.

As semelhanças terminam no primeiro nome. Nem no portal da Dallo é possível encontrar fotos do construtor, embora seu staff esteja ali apresentado em imagem e legenda. Luciano Dallo não precisa aparecer. A visibilidade está nas obras.

Neste minuto há 1,1 mil apartamentos em construção com a marca da família capanemense que se estabeleceu na praia uma década e meia atrás. Destes, 950 saem no chamado “padrão Dallo”: quatro suítes, duzentos e poucos metros de área privativa e três vagas na garagem.

É a métrica que será aplicada no edifício Parige, jeito italianado de nominar a capital francesa. O empreendimento, há dois meses, cava fundo para estacar um terreno nobre no alto da Neva, confluência das ruas Curitiba e Visconde de Guarapuava.

O Parige será, pelo menos por alguns meses ou anos, o segundo maior prédio do Paraná, com seus 46 pavimentos. Nem Curitiba chegou a essas altitudes. A cobertura no 45º andar, novo ponto culminante de Cascavel, poderá ser compartilhada pelos moradores e visitantes, pois lá no alto estará instalada a área de lazer.

Nestas alturas não tem sombra, mas será possível enxergar o Heritage, espigão da JL – maior construtora da cidade e 4ª do Brasil – em obras também na rua Curitiba, distante 300 metros.

Será uma disputa de mercado ornada por mármore, pedras finas, sofisticação, glamour e pés de gente de bolsos profundos sobre pisos laminados vinílicos à prova d´água, térmicos e acústicos.

Ambas as construtoras miraram o céu como limite em ambientes muito competitivos. A Dallo tem mais de 200 concorrentes para uma orla de 8 km em Itapema, onde cada centímetro quadrado é disputado por arranha-céus como na vizinha Camboriu.

Não esperem de Luciano Dallo qualquer provocação. Ele costuma dizer que a construtora veio para crescer junto com a cidade e que será ótimo que todo o mercado imobiliário se beneficie desse crescimento.

POR QUE AQUI?

Fica a pergunta: por que Cascavel, se parece mais lógico expandir operações no vasto litoral barriga verde? A resposta está no fluxo inverso: Oeste/Leste. A Dallo já tem mais de 100 clientes vips cascavelenses na praia.

Parece óbvio: se são clientes lá, potencialmente podem ser clientes aqui, onde são residentes e domiciliados. É a conexão Cascavel-Itapema.

A aposta é alta. Não se constrói um Parige com esse grau de sofisticação por menos de R$ 100 milhões de aporte com recursos próprios, já que a Dallo não trabalha alavancada.

E o Parige, com data de lançamento para o próximo dia 4, é apenas o “ponta de lança”. Haverá Dallos no bairro Country e outras áreas em prospecção.

Se reprisar aqui a tradição dos 37 empreendimentos anteriores, o segundo maior prédio do Paraná vende tudo antes de subir aos céus. Em nenhum dos 20 prédios anteriores havia apartamento novo a venda após a conclusão.

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“Chega o mio nele!”

Se fosse na minha infância, o grito de gol iniciado pelo tradicional “tá na rede” seria substítuído por “tá no saco de batatas”

A foto captei em agosto último. Transitava ali pelo bairro Coqueiral, onde vivi parte da infância e juventude, quando vi a gurizada correndo atrás da bola no campinho de chão batido.

Me veio a lembrança de que ali perto, não mais que 150 metros, na divisa dos bairros Coqueiral e Alto Alegre, nós construímos nosso próprio “templo do futebol” em um terreno baldio.

As redes eram feitas de sacos de batata que buscávamos – sempre a pé, em longas caminhadas, nas imediações da Avenida Tancredo Neves quando ainda se chamava Avenida Foz do Iguaçu.

Alguns sacos até imitivam as redes dos estádios, pois eram perfurados. Outros eram de ráfia mesmo. Quando a bola de capotão número cinco batia neles ouvia-se um som característico, abafado. “Tá na rede”? Não, tá no saco de batatas.

TERRÃO ESFOLEANTE

As traves eram de troncos de árvore, eventualmente algum caibro aliviado de construtores desatentos. O chão era terrão mesmo e logo os joelhos e cotovelos descobririam da pior forma possível como a terra compactada pode servir de esfoleante.

As linhas do campo eram demarcadas a cal e a escalação das equipe nas peladas era feita pelos dois melhores atletas, ou eventualmente pelos goleiros. Tirava-se o par ou impar para determinar quem escolheria o primeiro atleta, e assim seguia-se alternadamente.
Os bagres, notórios pernas de pau ou “fominhas” ficavam por último nas escolhas e, por incrível que possa parecer, mantinham a auto-estima relativamente preservada, apesar do notório constrangimento.

”CHEGA O MIO!”

Não havia uniforme. Para distinguir um time do outro faziam os “pelados contra os peludos”. Ou seja, um time jogava sem camisa.

“Chega o mio nele!”, gritava o torcedor, invocando uma entrada mais dura. Sim, mio é milho, o caboclês era regra geral. Cláudio Coutinho, técnico da seleção canarinho na época, virava “Cráudio”.

O arremesso lateral se cobrava com os pés mesmo e uma “bimba”, bolada acertada em alguém por obra do acaso, poderia gerar uma peleia. Bola dividida era chamada de “imprenssada”, e nestes casos, o arremesso lateral ficava para a defesa.

A CAMA DO “GUAPO”

Se não havia atletas suficientes para compor dois times, jogava-se “meia linha” ou rebatida, uma competição em que, coverter bola que deu na trave, poderia valer até 7 pontos.

Não eram incomum ver a piazada com sacos nas costas em direção ao campinho. Era para levar o pó de serra, ou serragem, e fazer uma “cama” para o goleiro poder saltar sem ralar joelhos e outras áreas expostas. Eventualmente, embora compactado, o chão do campinho precisava ser capinado. A tal guaxuma, ou no popular, Guamchumba prospera em qualquer terreno e precisava ser debelada no fio da enxada. A propósito, mamães e vovós faziam vassouras com guachumbas.

“FILHO DA TUTA!”

A pelada não tinha hora para acabar, podia ser cinco vira, dez ganha. Em regra terminava quando o astro rei abandonava o campo. A iluminação pública era precária e os bairros muito escuros. Sem ver a bola, não dava para prosseguir.

São Pedro, no entanto, não era problema. Antes pelo contrário: com o chão liso, o carrinho ficava mais comprido e os tombos agregavam emoção ao certame. Pobres mamães: era barro até dentro do olho.

Expressões como “Tomate cru”, “Filho da Tuta” ou xingamentos homofóbicos eram corriqueiros, ninguém se ofendia muito, mas sempre podia surgir aquela cena clássica dos valentes tirando a camisa e o relógio para ensaiar uma briga.

O tempo passou, o mercado imobiliário em expansão devorou os campinhos de várzea, e os meninos costurando sacos de batata para confeccionar a rede são cenas de um tempo que não volta mais.

Por Jairo Eduardo. Ele é jornalista, editor do Pitoco e assina essa coluna semanalmente no Jornal O Presente

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