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Mansões suspensas do Country

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Verticalização fará do bairro nobre a Batel de Cascavel; quem quiser pé no chão e sair da sombra, terá que migrar para condomínios horizontais; gigante da barriga verde e pé salgado ronda o bairro

Mansão no chão, prédio no espigão. O bairro Country e suas largas ruas de nomes amazônicos e mansões cinematográficas nunca mais serão os mesmos. Desde que a legislação passou a permitir a verticalização ali, os passantes passaram a olhar para cima: é um lançamento atrás do outro.

O engenheiro civil Marco Guilherme não foi o primeiro a verticalizar por lá, porém dá pra dizer que o edifíco Ville Napoleon, com seus 16 pavimentos, traduz fielmente o fenômeno imobiliário que se passa nas imediações da concha acústica, mais precisamente nos binários da Vicente Machado e Voluntários da Pátria.

Para ser erigido o edifício – ofertado a investidores ao preço de custo acrescido de taxa de 15% de administração para Guilherme gerir o emprendimento – a primeira missão foi “tratorar” uma mansão icônica, que serviu de morada para o “rei do gado” cascavelense, Benjamin Sbaraini (in memoriam). A mansão deu lugar ao espigão.

Afinal, Napoleon é conquistador ou invasor? Guilherme tem seus argumentos e é concordante com qualquer das alternativas. “Edificamos o prédio em um terreno grande, de quase meia quadra. Na frente do edifício tem um praça pública de 10 mil metros, o impacto de vizinhaça é mínimo, porém acho que estão exagerando, é preciso pôr um freio na verticalização de bairros como Country e Incra”, diz o engenheiro.

Nada indica que a legislação irá retroceder neste ponto. Os incomodados que vendam seus amplos terrenos por algo como R$ 2 mil o metro quadrado, abram alas para os tratores que irão demolir suas mansões e mudem para condomínios horizontais se quiserem pôr o pé no chão e fugir da sombra.

Ao fundo, o “Napoleon”, conquistador dos céus do Country, abrindo as porteiras celestes para o gigante da barriga verde; no primeiro plano da foto de Luís Eduardo, o sinal aberto para a Batel cascavelense (Foto: Luis Eduardo)

GIGANTE CHEGOU…

O gigante tem a barriga verde e os pés salgados. Mas conhecem bem as barrancas do rio Iguaçu. Os irmãos Dallo, de Capanema, foram para a praia em 2008. E por lá ficaram. Construíram um império imobiliário no litoral catarinense a ponto de posicioná-los no “top 5” em um mercado que inclui a Embraed e a FG, construtoras que espigaram Balneário Camboriu a ponto de carimbá-la de “Dubai da América”.

Os barrigas verdes da Dallo adquiriram área na Voluntários da Pátria para espetar uma torre de 38 andares e amplos apartamentos de mais de 200 metros quadrados. Os “catarinas” não têm medo de altura. Leva a marca da construtora um dos maiores residenciais em construção no Brasil, em Itapema, com 54 andares e 201 metros de altura, totalizando 58,1 mil metros quadrados.

Os Dallo estão construindo mil apartamentos simultaneamente, logo alguns deles – em altíssimo padrão, acessíveis somente para os bolsos mais profundos – estarão lançados ali no Country. O metro quadrado dos apês poderá vir por algo entre R$ 6 mil e R$ 8 mil, se acompanhar a métrica local para áreas nobres, mas cogita-se que o gigante pode “amassar” esses números no lançamento.

CASAS SUSPENSAS

Décadas atrás o Pitoco cunhou o termo “mansões suspensas da Minas” para definir os apartamentos de luxo habitados pela fina flor da sociedade na Rua Minas Gerais. Adequado será dizer que elas, as mansões suspensas, também estarão disponíveis – para poucos – na rua Vicente Machado.

O pioneiro por ali foi o Le Prestigie, edifício de contornos roliços erigido em frente ao Country Club. Foi só para abrir a porteira. Agora já são três prédios ali e um na planta: o Vicente, da We Incorporadora.

O conceito do Vicente é tirar a casa do chão e elevá-la às alturas. Serão 30 andares com a cobertura de quase R$ 12 milhões pré-contratada por um empresário cascavelense do ramo varejista. Lançamentos multimilionários como esse são precedidos de pesquisa de mercado.

Segundo o jovem à frente da We, Douglas Popenga, filho do lendário gráfico Alcione, a pesquisa detectou um nicho interessante para empreendimentos como o Vicente.

“Adultos jovens, de até 45 anos, vinham procurando residência em condomínio fechado para morar em casas com segurança. Esses condomínios foram ficando cada vez mais distantes do centro. Construímos uma alternativa para eles: as casas suspensas”, diz Popenga.

O desafio é “imprimir” apartamentos cujas linhas se aproximem de casas, com varandas amplas, abertura do chão ao teto na sala social, janelas grandes e arquitetura biofílica, conceito que combina ambientes naturais e orgânicos com o espaço construído. “Haverá espaço para amplos jardins, campo de grama, beach tennis, é para pôr o pé no chão mesmo”, conceitua Popenga. O lançamento será em setembro e as obras começam em janeiro.

Ao que parece, as construtoras locais estão se preparando para enfrentar o “gigante da barriga verde”, visto discretamente a sondar projetos de mansões suspensas no binário do Country, o futuro Batel de Cascavel, replicando aqui a intensa verticalização do bairro curitibano.

Grandalhão gera “efeito nanismo”

O edifício Soleil, com seus 27 andares de frente para a Praça Getúlio Vargas, embora inconcluso, é o maior prédio de Cascavel, desbancando o líder anterior, o Abraham Lincoln, do bairro Cancelli. O próprio Lincoln já está “ameaçado” por um vizinho, o Giardino, que se agiganta na mesma rua, a Natal, e que terá alguns pavimentos a mais que o “norte-americano”.

O Soleil passou a contrastar com edifícios vizinhos, gerando uma espécie de “efeito nanismo”. Prédios como o Florença, outrora absoluto na Praça Getúlio Vargas, parecem diminutos ao lado do grandalhão. Não há uma competição aberta para produzir o maior prédio – como claramente há em Camboriu – afinal, tamanho não é documento, já dizia a resignada e pouco sincera namorada do asiático – mas o Soleil não segura o título por muito tempo.

Edifícios na casa dos 40 andares já saíram do chão. Um deles é a torre residencial do Square Life Center, no Centro Cívico, ao lado do JL Shopping.

O Florença, à esquerda, em contraste com o Soleil, hoje o maior prédio de Cascavel, mesmo inconcluso (Foto: Luis Eduardo)

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Balneário Camboriú tem 7 dos 10 maiores edifícios do Brasil

Metro quadrado teve valorização de 22% nos últimos 12 meses; cidade catarinense é uma das mais verticalizadas do país

O aquecimento da construção civil em Balneário Camboriú, no litoral norte de Santa Catarina, é apontado por especialistas como reflexo dos números positivos da valorização imobiliária.

Conforme dados do FipeZap, nos últimos 12 meses Balneário Camboriú registrou acréscimo 21,27% no valor do metro quadrado. Inclusive, a cidade é uma das mais verticalizadas do país e com os maiores arranha-céus, incluindo o prédio mais alto do Brasil e segundo da América Latina.

“Balneário Camboriú se tornou uma cidade fora da curva, os investimentos públicos e privados realizados no município ao longo das últimas décadas colocaram a cidade em um patamar elevado de desenvolvimento. Nota-se que tanto os turistas de alto poder aquisitivo, bem como investidores imobiliários têm priorizado por investirem em locais com níveis de segurança e qualidade de vida”, comenta o especialista em mercado imobiliário Bruno Cassola.

A cidade possui o edifício mais alto do país, com 89 pavimentos e 290 metros de altura. O One Tower (foto) é atualmente o mais alto edifício frente mar da América Latina. Já as imponentes torres gêmeas do Yachthouse possuem incríveis 81 pavimentos, heliponto particular e acesso direto à marina, além de ter assinatura do renomado estúdio de design italiano Pininfarina. Além desses, há mais cinco empreendimentos com mais de 200 metros de altura em frente ao mar.

OS MAIS ALTOS PRÉDIOS DO BRASIL

1 – One Tower – Balneário Camboriú/SC – 290 metros
2 – Yachthouse – Balneário Camboriú/SC – 281 metros
3 – Boreal Tower – Balneário Camboriú/SC – 240 metros
4 – Titanium Tower – Balneário Camboriú/SC – 238 metros
5 – Infinity Coast – Balneário Camboriú/SC – 234 metros
6 – Empire – Itapema/SC – 234 metros
7 – Vitra – Balneário Camboriú/SC – 226 metros
8 – Alto das Nações – São Paulo/SP – 219 metros
9 – Sapphire Tower – Balneário Camboriú/SC – 215 metros
10 – Dubai Business – Balneário Camboriú/SC – 210 metros

Por Jairo Eduardo. Ele é jornalista, editor do Pitoco e assina essa coluna semanalmente no Jornal O Presente

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