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O bônus Itaipu

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Na mesa de negociação de brasileiros e paraguaios duas opções: centavos de desconto na tarifa ou até meio trilhão de dólares na infraestrutura regional

Itaipu obteve um saldo positivo em 2022 que lhe permitiu creditar, esse ano, R$ 405 milhões nas faturas de 81 milhões de unidades consumidoras rurais e residenciais.

Embora o valor de até R$ 15 de desconto possa parecer significativo para famílias de baixa renda, o bônus modesto dá argumento para quem prefere ver a dinheirama da hidrelétrica em projetos mais ousados, como o grupo “Olhar Sem Fronteiras”, composto de técnicos e empresários paranaenses.

A discussão parte de fatos consumados: a partir da quitação da dívida multimilionária da usina, quando Itaipu pagou este ano o último boleto do imenso financiamento contraído para construí-la, chega o momento de discutir com o sócio do outro lado do rio o Anexo C – que irá definir as regras do jogo para os próximos anos e o que fazer com mais de US$ 2 bilhões anuais resultantes do fim da dívida.

Há basicamente duas propostas na mesa: repassar as “economias” para amortecer a conta da energia aqui e no Paraguai ou investir esses ativos em moeda forte no conceito “dinheiro faz dinheiro”.

O “Olhar” esteve reunido com a diretoria de Itaipu para propor a criação de um fundo de investimento gerido pela hidrelétrica para fomentar o desenvolvimento regional. Pelas estimativas do grupo, com o Fundo Itaipu seria possível atrair investimentos de até seis vezes os valores aportados pela hidrelétrica, criando, em um lapso de 50 anos, um ativo de meio trilhão de dólares.

PORTFOLIO BOMBADO

Por essa lógica não se trata de discutir sobras financeiras, e sim um amplo leque que vai da substituição da matriz energética – atacando as causas das mudanças climáticas – associado à ampliação do portfólio de Itaipu, incluindo a produção e armazenamento do hidrogênio verde, tido como o combustível a mover o salto tecnológico disruptivo do futuro.

Vídeo divulgado pelo “Olhar Sem Fronteiras” destaca ainda que o Fundo Itaipu poderia financiar uma revolução logística no entorno, com rodovias, ferrovias e portos a conectar as economias de Brasil, Paraguai e vizinhos do Cone Sul em desenvolvimento integrado, incluindo aí o corredor bioceânico, conectando os oceanos Pacífico e Atlântico – seria o “Canal do Panamá” do Cone Sul.

Enio Verri está com a palavra, mas também é bom ouvinte: recebeu empresários e técnicos paranaenses para ouvir os argumentos do potencial Fundo Itaipu

Segundo os técnicos do “Olhar Sem Fronteiras”, injetar as sobras nas tarifas traria uma redução de 1,6% na fatura da energia, “resultado pífio, que significa trocar meio trilhão de dólares em logística, emprego e educação por uma redução minúscula”, conforme o grupo.

PEDÁGIO PÍFIO

A lógica do “desconto pífio” faz lembrar a decisão dos procuradores da Lava Jato, quando assinaram acordo de leniência com a Ecocataratas por descumprimento contratual. Ao invés de usar integralmente o dinheiro devido pela empresa em obras estruturantes, a Lava Jato, com Deltan Dallagnol à frente, preferiu destinar centenas de milhões em desconto nas tarifas de pedágio.

Assim o dinheiro foi pulverizado à razão de centavos de desconto para milhares de usuários, a grana acabou e obras urgentes como a duplicação da BR-277, entre Cascavel e Matelândia, continuam na fila secular da espera.

Tanto o ato de rasgar dinheiro do pedágio como o potencial Fundo Itaipu colocam em confronto razão versus populismo. A ver se o Palácio do Planalto se alinha à tese lavajatista do “oba-oba” com dinheiro do pedágio ou decide por um legado duradouro e impactante da maior hidrelétrica do planeta.

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Reforma tributária, sim ou não?

Deputados federais do Paraná divergem sobre pauta tributária

Beto Richa – sim

A reforma tributária vai ajudar a destravar o desenvolvimento do país, aumentar a competitividade das empresas e gerar emprego e renda sem provocar qualquer aumento de impostos para o contribuinte. Destaco também a importância da simplificação do sistema fiscal, combatendo uma burocracia que gera um gasto de mais de R$ 400 bilhões ao ano para o Brasil.

Essa não é uma reforma deste governo. É uma iniciativa do Congresso e reflete uma necessidade do país. Conseguimos um consenso entre parlamentares, União, governadores, prefeitos, empresariado e representantes da sociedade. Trata-se de uma reforma racional que destrava o desenvolvimento do Brasil. Com a simplificação de impostos, teremos um crescimento vigoroso, estimulando o empreendedorismo e gerando empregos e renda. Ou seja: todos ganham.

Segundo o Banco Mundial, o Brasil tem um dos dez piores sistemas tributários do mundo. Nossas empresas gastam dez vezes mais para pagar impostos do que a média mundial. Isso precisa mudar. Pela lógica da reforma, os impostos serão cobrados no local de consumo, onde você faz compras ou contrata serviços. Assim, os impostos ficarão onde você mora e vão impulsionar investimentos em sua região.

Além da cesta básica, setores das áreas de saúde, educação, cooperativismo, produção rural, construção civil, entre outros, terão tributação reduzida.

Nelsinho Padovani – não

Fui um dos três deputados paranaenses que votou contra o texto da reforma tributária. Estados e municípios perderão autonomia na arrecadação, o que, de forma indireta, centralizará toda carga tributária em Brasília.

Sou a favor de menos Brasília e mais Brasil, menos Brasília e mais municípios. A indefinição de alíquota gera incertezas e receios na classe média, agricultores e empresários, que movimenta o setor produtivo do país. O prejuízo para setores da educação e saúde. O risco de desemprego com concentração industrial, e o risco de penalidade aos Estados que prezam pelo empreendedorismo.

Outro ponto importante está na perda da autonomia nos incentivos a empreendedores de Estados e municípios em gerir suas oportunidades locais e regionais, indefinição da alíquota a ser cobrada, penalização da cadeia do agro com impostos que não existiam no cálculo.

Se aprovada no Senado Federal, o setor do agro passará a pagar o Imposto sobre Valor Agregado (IVA), o mesmo praticado na Argentina. Além disso, o IPVA para carros mais velhos ficará mais caro. Já esse cashback que o governo planeja criar, que é o retorno de impostos, prioriza o gênero.

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Viu o passarinho azul?

Pássaros da Serra do Mar, como o saí-azul, são algumas das atrações da Estrada da Graciosa; adágios populares explicam “cegueira” da bananeira

A historieta que relato a seguir tem a ver com adágios populares e com a dificuldade que temos de enxergar para além do senso comum e de nossas misérias humanas.

Vamos a eles, os adágios: quando alguém chegava muito feliz era comum nossos antepassados largarem esta: – Nossa, até parece que viu o passarinho azul!

Eu vi, e muitos. Mas na mesma imagem, no mesmo lugar, houve quem não visse. Foi no recente passeio que fizemos pela Estrada da Graciosa – sinuoso e belo “atalho” para chegar ao litoral do Paraná. Após muitas curvas em “cotovelo” chegamos ao pé da serra num lugarejo chamado São João da Graciosa.

É na bifurcação da estrada – por onde se pode optar por Morretes ou Antonina. Ali teve quem só viu barracas precárias vendendo bananas e bugigangas. E houve quem visse os belos pássaros azuis beliscando frutas nas barracas.

Olha a sujeira que esses comilões fizeram aqui!, reclamava a barraqueira das bananas, armando barraco com os pássaros. Ela perdeu a condição de enxergar o belo ali. Talvez por ter se tornado uma imagem corriqueira, como são para nós, aqui, pardas pombas e pardos pardais.

Que pena. E que penas! São pássaros azuis, outros esverdeados, outros amarelos. Uma fauna incrível de penas e bicos que somente aquele lugar intocado da Serra do Mar poderia produzir. E a barraqueira só viu o barraco sujo. Voltando aos adágios: viu a árvore, não viu a floresta.

Não percebe a barraqueira que os pássaros são uma atração à parte capaz de lhe trazer clientes. Não viu que aquelas aves vendem bananas!

Imagine um outdoor com uma bela foto das aves a mil metros da barraca passando aos passantes a seguinte mensagem: apreciação de pássaros azuis a 1 km, na barraca da banana!

Já o Itamar Campos, aposentado da Petrobras, veio de Curitiba até a encruzilhada para fotografar os bichinhos. São dele as fotos que ilustram essa página. Itamar viu o passarinho azul, no caso, um exemplar do saí-azul, armou-se de uma câmera fotográfica profissional, um tripé e muita paciência para colher as melhores imagens. Já a bananeira… é bananeira que já deu cacho…

Por Jairo Eduardo. Ele é jornalista, editor do Pitoco e assina essa coluna semanalmente no Jornal O Presente

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