A extravagância da mulher Betânia

De acordo com Mateus e Marcos, o evento onde uma mulher teria perdido o juízo ao desperdiçar um perfume caríssimo ocorreu numa recepção feita a Jesus em Betânia, periferia de Jerusalém. A recepção foi na casa de “Simão o Leproso”, alguém que provavelmente havia sido curado por intervenção de Jesus.

Algumas conjecturas apontam Simão como pai de Lázaro, o amigo que Jesus havia ressuscitado. Em Marcos, a mulher que se fez presente não é identificada pelo nome. João mostra que o encontro teria acontecido na casa de Lázaro, alguns dias antes da crucificação de Jesus. A casa de Lázaro ficava igualmente em Betânia, onde se acredita que Jesus tinha amigos íntimos.

João identifica a mulher da história como sendo Maria de Betânia, irmã de Lázaro. As aparentes discrepâncias nas versões evangelísticas que sustentam as narrativas podem ser vistas como informações complementares.

Maria aparece na história com um vaso de alabastro contendo um perfume caríssimo feito de nardo puro. De acordo com testemunhas presentes naquele encontro, o perfume foi avaliado em trezentos denários. Considerando que um denário era em média a diária de um trabalhador à época, é possível atualizar aproximadamente o valor do frasco de perfume.

Mateus e Marcos anotaram que Maria derramou o perfume sobre a cabeça de Jesus. João assinalou que Maria derramou o perfume sobre os pés de Jesus: “E a casa encheu-se com a fragrância do perfume”.

A extravagância de Maria causou estranheza entre os discípulos de Jesus ali presentes, principalmente em Judas Iscariotes, responsável por cuidar das finanças do grupo. De acordo com Marcos, os discípulos perguntaram indignados: “Por que este desperdício? Este perfume poderia ser vendido por alto preço, e o dinheiro dado aos pobres”.

Parece que Maria soube discernir o significado daquele momento melhor do que os discípulos de Jesus o fizeram. Foi a oportunidade de realizar um gesto com algo que possivelmente era o bem mais precioso que possuía.

Ao final, de acordo com Mateus, Jesus ainda teve que dar um basta às críticas dos que testemunharam o ato:
“Por que vocês estão perturbando essa mulher? Ela praticou uma boa ação para comigo. Pois os pobres vocês sempre terão consigo, mas a mim nem sempre terão. Quando derramou este perfume sobre meu corpo, ela o fez a fim de me preparar para o sepultamento. Eu asseguro que em qualquer lugar do mundo inteiro onde este evangelho for anunciado, também o que ela fez será contado em sua memória”.

Por Tarcísio Vanderlinde. O autor pesquisa sobre povos e culturas do Oriente Médio.

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