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Tarcísio Vanderlinde

Diplomata e escritor

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Flavio Josefo era descendente da classe sacerdotal hebraica e desde cedo teve uma educação esmerada. Em seu tempo, Israel encontrava-se sob domínio do Império Romano, e o clima era de revolta.

No ano 64, com apenas 26 anos, Josefo se envolveu numa empreitada diplomática em Roma. Na Corte Imperial de Nero intercedeu com sucesso pela libertação de alguns sacerdotes que se encontravam presos. O feito lhe deu notoriedade diante de seus compatriotas.

Por outro lado, a experiência lhe trouxe um grande fascínio sobre o poder de Roma. Convencido de que os romanos eram invencíveis, em vão tentou convencer seus conterrâneos a não se revoltarem contra o império. Acabou sendo designado pelo sinédrio para pacificar e organizar a resistência judaica na Galileia.

Não conseguiu lidar com os extremistas, além de ser acusado de traição por ter tido aparentemente uma atitude dúbia entre judeus e romanos. A necessidade de se justificar sobre o assunto em um longa autobiografia – parte do conjunto de sua obra – é entendida pelos críticos como uma confissão de culpa.

Sua rendição obscura como líder da fortaleza de Jotapata apenas engrossou as suspeitas de traição. Pela sua capacidade intelectual, acabou sendo acolhido entre os romanos, dos quais recebeu apoio financeiro para se dedicar aos escritos que tiveram dois focos principais: a história do mundo a partir do ponto de vista judaico e o conflito com os romanos que levou à destruição de Jerusalém no ano 70.

Josefo é considerado um importante apologista da cultura e do povo judeu no mundo romano numa época de conflitos e tensões. Através de sua obra, procurou revelar o judaísmo aos letrados e sua compatibilidade com o pensamento helenista.

Ressaltou a antiguidade da cultura judaica, apresentou seu povo como civilizado, devoto e filosófico. A maior parte de sua obra foi escrita em Roma nos 30 anos em que lá viveu sob patrocínio de Vespasiano, Tito e Domiciano.

Curiosamente, Josefo só é citado na literatura judaica a partir do século 10. Em contrapartida, seus escritos interessaram aos cristãos, que, desde cedo, passaram a citá-lo e a utilizá-lo. Orígenes, Jerônimo e muitos outros viram em Josefo o complemento neotestamentário, já que viveu no mesmo século de Jesus e dos Apóstolos.

Jesus e Pôncio Pilatos aparecem citados em sua obra. Herodes aparece com grande destaque em seus textos. Seus escritos revelam que a forma de Herodes governar tem semelhanças com práticas políticas que ainda persistem em nossos dias.

 

O autor é professor sênior da Unioeste

tarcisiovanderlinde@gmail.com

 

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