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Tarcísio Vanderlinde

O filho de Matias

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Referências a Flávio Josefo aparecem em diversos momentos na “História Eclesiástica” escrita por Eusébio de Cesareia. Josefo foi um historiador hebreu que viveu no primeiro século da era cristã. Nasceu no primeiro ano da efêmera gestão do imperador Calígula (37-38). Passa a ter contato com os romanos em 64. Em 66 comanda forças revolucionárias contra os romanos na Galileia entrincheiradas na fortaleza de Jotapata.

Depois de um exaustivo cerco e muitas mortes entre os revolucionários, Josefo é feito prisioneiro. Desde sua libertação em 69, toma parte dos acontecimentos atuando ao lado dos romanos e vive em Roma o restante dos seus dias. Josefo é autor da principal fonte histórica sobre o cerco e a queda de Jerusalém no ano 70.

Cesareia destaca as origens do historiador: “Josefo, filho de Matias, sacerdote originário de Jerusalém, que primeiro fez guerra pessoalmente contra os romanos e logo, por necessidade, ficou à mercê dos acontecimentos posteriores”. Por seu gesto, o “vira-casaca” é criticado até os dias atuais por seus conterrâneos.

Cesareia, entretanto, tem um visão positiva do historiador hebreu. Para ele, Josefo foi o mais famoso de todos os judeus de sua época, e não somente entre seus compatriotas, mas também entre os romanos, ao ponto de ser honrado com uma estátua em Roma, e seus livros serem considerados dignos de uma biblioteca.

Em grego e em hebraico, Josefo expôs toda a antiguidade judaica em vinte livros completos, e a história da guerra romana contra os hebreus de seu tempo em sete volumes. Além dessas obras, Josefo ainda teria escrito outros livros com foco na antiguidade dos Judeus. Num deles, por exemplo, refuta o gramático Apion, que tinha elaborado um tratado contra os judeus. Mas outros detratores do povo judeu também foram alvos de refutações de Josefo. Cesareia reitera que a obra de Josefo é autêntica e digna de crédito.

É oportuno mencionar a maneira como Josefo destaca a distribuição dos textos considerados sagrados e que fazem parte do que se chama hoje de Velho Testamento. Sobre os textos em destaque, e considerando a utilidade do estudos desenvolvidos por Josefo, Cesareia transcreve as palavras atribuídas ao historiador:

“Assim é que, transcorrido já tanto tempo, ninguém se atreveu a acrescentar, nem tirar, nem mudar nada nelas, antes, é natural a todos os judeus, já desde o seu nascimento, crer que estes escritos são decretos de Deus, e aferrar-se a eles e prazerosamente morrer por eles caso seja necessário”.

Arco de Tito, em Roma. O general Tito liderou o Exército romano na conquista de Jerusalém no ano 70. Flávio Josefo, o filho de Matias, viveu seus últimos dias nesta cidade (foto do autor)

Por Tarcísio Vanderlinde. O autor pesquisa sobre povos e culturas do Oriente Médio.

tarcisiovanderlinde@gmail.com

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