Fale com a gente

Tarcísio Vanderlinde

Tempos que não podem mais ser retidos

Publicado

em

 

Se a guerra em muitas circunstâncias parece inevitável, quando se tem uma chance, a paz deve ser festejada com força total.

No dia em que nasci (27 de julho de 1953), se assinava um acordo de paz que decretava o fim da guerra entre as Coreias. As tensões, contudo, continuariam até o tempo presente. Neste ano, passamos a ver imagens da Coreia do Norte improváveis de serem vistas em anos anteriores.

O conflito entre irmãos teve origem dos escombros da 2ª Guerra Mundial. A partir dali começava a disputa pelo controle geopolítico da península coreana pelas duas superpotências vitoriosas da guerra mundial: Estados Unidos (EUA) e União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). A disputa levaria ao 1º conflito armado da “Guerra Fria”, expressão cínica para uma guerra que provocou mais de quatro milhões de mortos, a maioria civis.

Independente da participação diplomática da China, Rússia e Estados Unidos, Moon Jae-in, atual presidente da Coreia do Sul, já vinha trabalhando pela aproximação entre os coreanos. A participação dos norte-coreanos nos últimos jogos de inverno na Coreia do Sul fez parte da estratégia. A reunificação terá ainda muitos desafios. Mas percebe-se que há disposição para superá-los. Um dos parágrafos da declaração conjunta entre os países assinada durante o primeiro encontro dos líderes dirigentes das duas coreias estabelece:

“As Coreias do Sul e do Norte vão reconectar as relações de sangue do povo e anteciparão o futuro da co-prosperidade e unificação liderada pelos coreanos, facilitando um avanço abrangente e inovador entre as Coreias. Melhorar e cultivar as relações intercoreanas é o desejo predominante de toda a nação e o chamado urgente dos tempos que não podem mais ser retidos”.

Embora ainda restritos, vive-se um tempo de abraços nas Coreias. Reaviva-se com força mística a música “Arirang”, conhecida de todos os coreanos. É a música mais respeitável depois do hino nacional coreano. É um hino cultural, identitário, capaz de construir coesão social. Acho que falta uma música destas por aqui. A propósito, temos ultimamente muito barulho e pouca música.

Historiadores coreanos costumam apresentar teorias sobre o surgimento da música e os significados diversos da palavra arirang. Há uma colina próximo a Pyongyang, Capital da Coreia do Norte, que leva o nome da música. A música incita o caminhar juntos para atravessar a trilha no passo de Arirang. A partir dali, são mitos, lendas e histórias milenares de resistência e reconciliação do povo coreano associado à melodia.

Arirang tem uma poesia simples (pode ser acessada no Youtube em várias versões), mas que é capaz de desencadear metáforas para tempos que não podem mais ser retidos. Foi a música mais cantada nas Coreias no ano de 2018.

 

O autor é professor da Unioeste

tarcisiovanderlinde@gmail.com

 

Continue Lendo

Copyright © 2017 O Presente