Fale com a gente

Elio Migliorança

Auschwitz do Sul

Publicado

em

A Dra. Janaína Ramos, professora aposentada e advogada na cidade de Casca (RS), denunciou em recente live com o médico psiquiatra Dr. Táki Cordás, ligado à Universidade de São Paulo, que na sua cidade está em curso um processo de intimidação dos mais absurdos de que tenho ouvido falar nos últimos tempos. Circula na cidade, em grupo de WhatsApp, a sugestão de boicote e represálias contra todos aqueles que votaram no presidente eleito do Brasil, filiado ao Partido dos Trabalhadores (PT).

A sugestão do grupo é a de colocarem uma estrela vermelha na porta dos estabelecimentos comerciais e de prestadores de serviço que tenham votado no mencionado candidato.

A Dra. Janaína apresentou denúncia ao Ministério Público, pois tal atitude é crime, segundo o artigo 301 do Código Eleitoral.

Está em curso também um processo coletivo de intimidação e discriminação contra todos aqueles que não se declararam abertamente a favor do atual presidente e que era candidato à reeleição.

Ouvindo tais relatos, imediatamente recordei da viagem à Polônia, em agosto de 2018, quando visitamos o campo de concentração de Auschwitz, onde ouvimos os relatos da crueldade e do horror nazista durante a Segunda Guerra Mundial e os bárbaros crimes cometidos nos campos de concentração.

Por que esta associação automática do que está ocorrendo em Casca com o horror de Auschwitz?

Porque esse tipo de coisa a gente sabe como começa, mas nunca sabe como termina.

O processo de extermínio do povo judeu também começou com uma estrela. A primeira medida de segregação do povo judeu foi a obrigatoriedade imposta a cada um de que só podia sair na rua com uma estrela amarela no peito para identificá-lo como judeu. Depois vieram os guetos e, mais tarde, os campos de concentração. E o final da história todos nós conhecemos.

Agora voltemos ao ponto inicial. O espanto é o fato das pessoas terem a ideia de discriminar e perseguir aqueles que exerceram o seu direito ao voto e à livre escolha do candidato. Esse é um dos mais sagrados princípios da democracia e do direito à liberdade de escolha.

O resultado pode não ser o que eu queria ou o que eu esperava, mas eu preciso ter o equilíbrio para aceitar o resultado quando as regras do jogo foram respeitadas.

Dentro de alguns dias começa a Copa do Mundo. Seria o caso então de, na hipótese de não sermos campeões, fecharmos as estradas e exigir que a Fifa nos entregue a taça para depois liberar o tráfego novamente?

Seguindo esta linha de raciocínio, em que eu só respeito o resultado que me interessa, qual é o limite da perversidade? Onde podemos chegar?

As pessoas que sugeriram isso se dizem defensores de Deus, pátria e família. Que Deus e que pátria são essas?

Espero que esta ideia, denunciada pela Dra. Janaína, tenha sido uma iniciativa isolada e que em outros lugares não se avente esta criminosa iniciativa. E se em Casca isso realmente acontecer, que se mude o nome da cidade para Auschwitz do Sul.

Que Deus nos defenda da maldade dos bons.

Por Elio Migliorança. Ele é empresário rural, professor aposentado e ex-prefeito de Nova Santa Rosa

miglioranza@opcaonet.com.br

Copyright © 2017 O Presente