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Elio Migliorança

Nunca diga nunca

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Se há uma coisa que a vida me ensinou é nunca dizer nunca. Esta reflexão teve como ponto de partida uma cena que presenciei logo após o 2º turno das eleições deste ano.

Duas pessoas que se conhecem há muito tempo se encontram; uma era do candidato A e a outra do candidato B.

O encontro casual resultou num cumprimento protocolar de bom dia, quando a mão foi estendida para o aperto de mão, momento que o outro não estendeu a mão e o cumprimento não aconteceu.

Fiquei abismado e aquela cena continuou martelando meu cérebro até agora.

Vejo pela cidade pessoas que mudaram de atitude após as eleições. Vizinhos estão bicudos um com o outro e até amizades foram desfeitas por retaliação política.

Pois bem, é uma insanidade este tipo de atitude, afinal, amanhã você pode estar na estrada, acidentar-se e a pessoa que passa ali e pode te socorrer seja justo aquela que você desprezou ou boicotou.

Nunca diga que que desta água jamais beberei, pois a sede pode bater e aquela ser a única fonte disponível.

Vizinhos são mais importantes que irmãos. No meu caso, quando eu preciso de algo, meu irmão mais próximo está a 250 quilômetros, enquanto o vizinho está a 20 metros de distância.

Deixar que o ranço político estrague amizades ou desuna famílias é uma estupidez sem paralelo.

A propósito vou revelar um fato ocorrido em 1984, quando eu exercia o cargo de prefeito de Nova Santa Rosa. Havia um morador do interior que tinha consideração zero pela minha pessoa, por questões políticas, é lógico. Num dia de inverno, toca o telefone às 4 horas da madrugada. Uma enfermeira desesperada me pergunta se eu aceito doar sangue, pois há uma mulher que deu à luz um bebê e estava com hemorragia interna e precisava urgente de sangue. Levantei, corri para o hospital e doei 500 ml para a transfusão. No dia seguinte, após o meio-dia, fui ao hospital para saber como estava esta mãe e saber seu nome. Era a esposa daquele morador do interior. Três dias depois ele me procurou para saber quanto custava a doação. Respondi que sangue não se vende, se dá.

A curiosidade é: por que aquela enfermeira me chamou? Ela havia sido minha aluna e lembrou-se de uma aula de biologia sobre tipagem sanguínea, e naquela urgência foi a única pessoa que ela lembrou que tinha sangue compatível com o que aquela mãe precisava. A mulher vive até hoje e a enfermeira também.

Relatei o fato não por exibicionismo, mas para mostrar que não sabemos o que o futuro nos reserva, portanto aquilo que hoje desprezamos ou amaldiçoamos, no futuro pode ser a nossa oportunidade para viver.

É impossível viver sem depender dos outros. Alguém fabrica a roupa que você veste, o remédio que você toma, alguém produz o que você come e alguém vende tudo aquilo que você quer e precisa comprar.

Não pense que se você tem dinheiro pode comprar o que quiser sem depender de ninguém. Se você estiver perdido no meio do deserto ou num barco em alto mar, de nada adiantaria ter um milhão de dólares.

Diante da certeza de que somos seres sociais e todos precisamos uns dos outros, vamos incorporar o espírito natalino, pois Deus se fez homem e veio habitar entre nós para nos dizer que legal mesmo é viver em paz com todos, valorizando cada ser humano pelo trabalho que faz e por aquilo que ele é, e que desta vida só levaremos o bem e o mal que fizermos. 

Por Elio Migliorança. Ele é empresário rural, professor aposentado e ex-prefeito de Nova Santa Rosa

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