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Elio Migliorança

Vida e morte sobre rodas

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Desde que o ser humano inventou a roda e o martelo, o mundo nunca mais foi o mesmo. Com o martelo aprendemos a juntar duas ou mais peças e com a roda transportamos sem muito esforço as coisas de um lado para o outro. Como consequência, muitos séculos depois inventaram o automóvel e aí, sim, foi um salto para o futuro.

Com o automóvel veio o progresso e uma vida mais confortável e prazerosa. Com o aumento do número de veículos foi necessário estabelecer regras, conhecidas como “leis do trânsito”.

O Brasil anda sobre rodas. Qualquer ameaça de greve dos caminhoneiros deixa a todos à beira de uma crise de nervos, pois tudo depende deste transporte.

Eficientes meios de transporte de pessoas doentes para centros especializados de atendimento já salvaram muitas vidas, assim como em casos de uma grave intempérie, o rápido socorro preservou muitas vidas.

Este é o lado bonito em que o mundo sobre rodas salva vidas. Mas, nas mãos de seres humanos insensatos, mesmo a melhor ideia pode ser transformada em instrumento de dor e morte. Entram em cena neste momento aqueles que são responsáveis por muitas vidas ceifadas ainda no amanhecer da existência.

No início deste ano um jovem motorista de ônibus de Entre Rios do Oeste foi “assassinado” por uma irresponsável que teria bebido e saído dirigindo numa rodovia federal provocando aquela tragédia. No último fim de semana, duas jovens jornalistas de Cascavel se despediram da vida, naquilo que foi injustamente chamado de “acidente” de trânsito. Um irresponsável dirigindo um caminhão em janeiro atropelou várias pessoas e atingiu 12 carros em Curitiba. Poderiam ser citados aqui centenas de casos semelhantes. A questão central é: o que fazer diante deste cenário assustador, já que ao sair nas estradas estamos correndo risco de morte?

Há várias medidas urgentes que precisam ser tomadas. A primeira é mudar a nomenclatura do acontecido. Acidente é aquele em que um problema mecânico provocou a colisão. Nos outros casos é assassinato ou suicídio.

Quem está alcoolizado e sai em alta velocidade assume o risco de matar ou morrer. A segunda medida é acabar com a impunidade. O causador da colisão assumir a responsabilidade das despesas com tratamento médico e sustento da família das vítimas em caso de morte. A terceira medida é responsabilizar quem deve fiscalizar e não o faz. E punir exemplarmente quem se deixa corromper para não aplicar a lei. E talvez a maior de todas as atitudes que deixam os contraventores seguros de si é a impunidade. É uma questão crônica e está no DNA da cultura nacional; apronta-se à vontade e sem maiores consequências.

Maior prova de que a impunidade é marca registrada: semana passada o ex-governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, foi libertado. Detalhe: havia sido condenado a 400 anos de prisão em 22 condenações.

Não podemos nos deixar levar por esta onda, porque podemos ser a próxima vítima. É preciso começar por nós mesmos e multiplicar esta ideia para que outros a abracem, e exigir de quem nos representa nos poderes constituídos para que se dê uma chance à vida, já que, muitas vezes, os inocentes é que pagam o maior preço.

Há várias guerras pelo mundo, mas uma verdadeira guerra é travada todos os dias nas estradas do Brasil. Faça a sua parte, a vida agradece.

Por Elio Migliorança. Ele é empresário rural, professor aposentado e ex-prefeito de Nova Santa Rosa

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