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Fátima Baroni Tonezer

Reflexões de final de ano

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Nos últimos dias inevitavelmente acabamos conversando sobre o final de ano, as correrias comuns da época, questionamentos, planejamentos e sofrimentos. É quase senso comum que 2023 foi um ano difícil, desafiador, complicado.

Geralmente a conversa se inicia por aí e então eu faço um pequeno desvio do “rumo da prosa”. Ao invés de reclamar e ficar olhando para o que não deu certo, peço para a pessoa fazer um breve inventario do que deu certo, de pequenas coisas que foram experimentadas como positivas e prazerosas. E é fácil perceber a mudança na expressão de cada um. Para alguns a primeira reação é dizer que não houve nada de bom, muito pelo contrário. Mas, com a insistência certa, começa a lista de pequenos gestos, das “coisas bobas” na fala de alguns e o semblante começa a se iluminar.

Procuro não levar a conversa para o terreno pantanoso e tão batido do “vamos achar algo de bom na coisa ruim”, “tudo é aprendizado”. Sim, isto também faz parte do balanço de fim de ano. Mas não é só. Criar o hábito de fazer um “inventario das coisas boas”, independentemente do tamanho, faz muita diferença na nossa química cerebral. Isto porque é natural do cérebro, que tem como objetivo último a nossa sobrevivência, estar atento aos perigos para nos proteger. Os recursos do estresse, com suas reações de luta e fuga, a ansiedade e o medo, são ferramentas a serviço da sobrevivência, que nos trouxeram, enquanto espécie, ao século XXI.

HORA DA REFLEXÃO

Estamos a sete dias do final de 2023. Mais um ano que se encerra, de tantos que você já viveu e ainda viverá. Mais um ciclo se fechando. É hora de rever o que deu certo e o que não deu tão certo, não necessariamente errado. Que aconteceu diferente da sua expectativa. É hora de arrumar as coisas, jogar fora papéis inúteis, arrumar as gavetas, despachar roupas, sapatos e tudo mais que já não serve. Isto inclui “arrumar a casa” da vida, do trabalho e do coração.

É hora de repensar nossas atitudes, o modo como vivemos, objetivos que perseguimos, quem de fato está no comando da nossa vida, e mudar aquilo que foi ruim ou não faz mais sentido continuar repetindo. É a hora da reflexão.

MAIS UM ANO ESTÁ TERMINANDO. E O TEMPO NÃO VOLTA

Essa frase me lembrou de alguém. Conhecido como o pai da ciência moderna, Galileu Galilei foi um cientista, físico, astrônomo, escritor, filosofo e professor italiano que nasceu em fevereiro de 1564. Reza a lenda que certa ocasião alguém perguntou a Galileu quantos anos ele tinha. A resposta: “oito ou dez”. Em evidente contradição com sua barba branca. E ele logo explicou: “tenho, na verdade, os anos que me restam de vida, porque os já vividos não os tenho mais”. Algumas pessoas podem achar essa uma afirmação pesada, afinal de contas nos acostumamos a contar nossa idade pelos anos vividos. O que tem sua lógica, claro. Mas acaba por deixar fora da consciência o tempo que talvez nos reste, já que não temos essa data específica.

O motivo de trazer essa “conversa” hipotética entre Galileu e seu interlocutor é porque combina com o momento e a reflexão proposta aqui, que é refletir e planejar o próximo ano. Que passa por encerrar este e outros ciclos antigos que ainda estejam abertos e incomodando. Ajudando a colocar nosso olhar nas coisas boas também, tirar lições das que não “deu tão bom”, que fugiram do controle, que tão ingenuamente acreditamos ter sobre a vida e ao invés de só planejar, criar as condições, usar os recursos para fazer do novo ano um novo ciclo, com novas atitudes, sonhos e esperanças.

EU ESPERANÇO, ELE ESPERANÇA, ELES ESPERANÇAM. E VOCÊ, ESPERANÇA?

O professor Mario Sérgio Cortella, teólogo, filósofo e professor brasileiro, nos ensina que é preciso esperançar, isto é, ter esperança, do verbo esperançar. Não esperança do verbo esperar. Qual a diferença? Esperançar é almejar, sonhar, agir e buscar. É o contrário de esperar, apesar de muitos associarem esperança ao verbo esperar, nos diz ele.

Segundo o professor Cortella, é preciso esperançar, olhar, reagir a tudo aquilo que não tem saída. Ele nos incentiva a sair da “zona de conforto” para nos lançar em novas perspectivas e provocar as mudanças que se fizerem necessárias. Ter esperança não significa não ter medo, não se sentir inseguro ou receoso, longe disso. É não se deixar dominar por esses sentimentos. A pessoa assim tem consciência de que em uma cabeça tomada por medo e insegurança não há espaço para sonhos.

Quem conjuga o verbo esperançar não é invulnerável. Compreende que mudar é difícil, mas também entende que há situações que é preciso enfrentar e alterar o que precisa ser mudado. Mudo quando tenho que mudar, quando repetir não é mais o caminho. Seja mudar meus pensamentos, meus projetos, metas, comportamentos, parceiros, amigos, trabalho… Mudo aquilo que não cabe mais na minha vida agora, no momento presente em que vivo.

Que tal em 2024 você pensar numa mudança no seu estilo de vida, começando aos poucos, treinar conjugar o verbo esperançar. Vem junto???

Até a próxima.

Fátima Sueli Baroni Tonezer é psicóloga, formada em Psicologia na Universidade Estadual de Maringá (UEM). Sua maior paixão é estudar a psique humana. Atende na DDL – Clínica e Treinamentos – (45) 9 9917-1755

@psicofatimabaroni

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