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Padre Marcelo Ribeiro da Silva

Pelo fogo da purificação

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Andando entre os túmulos no Dia de Finados me lembrei de uma lição das aulas de teologia que me acompanha pela vida. A professora Elenira Aparecida Cunha Moreira, uma biblista e catequeta a quem admiro muito, nos explicou sobre o purgatório do seguinte modo: ninguém vai ao céu sem ser purificado, ninguém chega ao Santo dos Santos sem alcançar a santidade. Pensem o purgatório não como um lugar, mas como uma situação de encontro com a verdade de nossa vida, como um tempo de purificação do nosso coração e consciência e de assumir a responsabilidade por tudo o que fizemos, tempo para o nosso juízo individual.

Meus irmãos, interpreto o que ela nos ensinou com a ajuda de uma passagem do livro do Apocalipse. Lá o apóstolo diz: “[…] foi aberto outro livro, o da vida. Os mortos foram julgados conforme sua conduta, a partir do que estava escrito nos livros” (Ap 20, 12).

A Palavra não nos deixa sem a certeza de que chegará o momento em que teremos que prestar contas da nossa vida. Haverá um momento em nossa história individual em que iremos nos reencontrar com a aquilo que fizemos neste mundo e em que o fogo da verdade purificará o nosso coração.

Se geramos amor no coração dos outros, vamos sentir a força desse amor dentro de nós; se geramos dor, angústia, infelicidade, injustiça, iremos nos encontrar com os frutos amargos que cultivamos e os colhendo seremos purgados.

O livro do Apocalipse nos conta ainda que haverá aqueles que preferirão ser destruídos a ter que passar pela experiência de se confrontar com o que fizeram em terra. Dirão eles aos montes e às pedras: “Desmoronais sobre nós e escondei-nos da face daquele que está sentado no trono, e da ira do Cordeiro, pois chegou o Grande Dia da sua ira, e quem poderá ficar de pé?” (Ap 6, 16).

Para esses o inferno será uma possibilidade, não pelo fato de Deus os condenar, mas por eles preferirem a morte eterna a atravessar pessoalmente o fogo da purificação. Sentirão medo por verem queimar como palha seca tudo o que construíram em vida. Sentirão medo não de Deus, mas de enxergar suas vidas em plena nudez.

E a nós, irmãos e irmãs, que, por enquanto, aqui peregrinamos, o que devemos fazer?

Tomemos consciência do mal que em vida podemos estar provocando: as calúnias, as mentiras, as traições, os preconceitos, as ofensas, as infidelidades, os abusos, os cinismos, as crueldades, as violências, as falsidades. E busquemos remediar com o bem o sofrimento que causamos, antes que chegue também para nós o dia da satisfação.

Já quanto aos nossos entes queridos, que entre os túmulos caminhamos, tenhamos a certeza que o nosso amor chega até eles, que nossa oração os ajuda em seu trajeto para além da fronteira da morte, que nosso sinal de bondade, lembrança e gratidão os ajuda a caminhar com confiança pelo fogo da purificação para o encontro com Jesus Cristo, nosso Senhor.

Não temamos o juízo de Deus, ele é misericórdia infinita; temamos a nós mesmos, e a coragem que temos para colher os frutos do que nesta terra plantamos.

Por Marcelo Ribeiro da Silva. Ele é padre da Diocese de Toledo
Reitor do Seminário São Cura D’Ars
Doutorando em Filosofia – Unioeste

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