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Pitoco Somos cinco Curitibas

Choque de oferta com expansão do perímetro urbano injeta ativos de R$ 7,5 bilhões no mercado imobiliário de Cascavel

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Paço municipal pede licença para pôr Cascavel do tamanho que é

Cabem cinco Curitibas dentro do município de Cascavel. O território da Capital paranaense mede 432 quilômetros quadrados. A Capital do Oeste dispõe de um “quintal” de 2,1 mil quilômetros quadrados, cinco vezes maior. A partir desta conta rasa é que – contraditoriamente – se constrói argumentos profundos: por que os imóveis estão tão caros em uma cidade com território tão vasto, a ponto de se tornarem inacessíveis para
uma interminável fila que pode chegar a 25 mil pessoas?

Para arrepio dos liberais – que devem totalizar 1% do eleitorado local –, o Poder Público vai interferir pesado no mercado imobiliário. O novo plano diretor de Cascavel vai gerar um choque de oferta no mercado.

“Difícil achar terreno hoje por menos de R$ 300 mil. Vamos acrescentar 30 mil lotes ao perímetro urbano e trazer os preços dos imóveis para mais perto da realidade, tornando-os mais acessíveis para a população”, argumentou o prefeito Leonaldo Paranhos durante o “Café com Pitoco”, na terça-feira (2).

Alguns podem ler a medida como uma típica intervenção estatal da cartilha heterodoxa keynesiana. Outros podem ler como um choque de capitalismo, pois aumenta consideravelmente o número de competidores. Fato é que será – caso aprovada na Câmara – a maior expansão da história da cidade desde que um emissário de Lerner, Cassio Taniguchi (que depois seria prefeito de Curitiba), esteve aqui nos anos 1970
e desenhou no mapa da cidadezinha um quadrilátero urbano entre as ruas Manaus, Vitória, Bartinik e Rocha Pombo.

RH vale ouro

Para quem consegue enxergar mais ao longe, o pano de fundo apresenta uma disputa pela atração de recursos humanos para as cidades. O apagão de mão de obra tem custos para os municípios. Quem vem para a região Oeste para trabalhar é disputado por municípios agro-industrializados como Cascavel, Medianeira, Palotina, Toledo, Cafelândia, Nova Aurora e Assis Chateaubriand. “Para se estabelecer em uma cidade a primeira preocupação do profissional que está migrando é: onde morar, valor do aluguel, preço de um terreno. Se essas condições não estiverem dadas, não tem mão de obra. Se não tem recursos humanos, não tem ampliação dos projetos empresariais já estabelecidos aqui e não tem novos investimentos”, raciocina Paranhos, ciente que está competindo com seus vizinhos oestinos.

Os beneficiários

Para quem o acusa de esgaçar o mapa da cidade, o prefeito tem resposta na ponta da língua: “Antes falava-se em abrir um flanco nas franjas de Cascavel para desenterrar um tesouro imobiliário na área de fulano de tal por interesse do loteador X. Aqui não há um beneficiário por encomenda, haverá milhares de cascavelenses beneficiados com terrenos mais baratos, inclusive mais compactos, de 150 metros quadrados, acessíveis
para famílias de baixa renda”, diz Paranhos.

Há interesses multimilionários na expansão? Claro que há. Se os interesses são legítimos ou não, caberá ao mercado remunerá-los ou não, conforme a pertinácia de cada projeto. Certo mesmo é que irão pôr a mão fundo no bolso e movimentar a economia.

Para ficar em alguns nomes que terão áreas rurais convertidas em tesouros urbanos, pode-se citar Assis Gurgacz, Fernando Mantovani, Job de Paula (em parceria com Nelson Padovani), Francisco Simeão, Marcos Urio, Wilson Albiero e família Scanagatta entre muitos outros.

Os bilhões e o nariz

Quanto valem 30 mil terrenos, mesmo considerando localização nas franjas da cidade? R$ 250 mil um pelo outro, já que pode-se prever condomínios de luxo na Porção Oeste do município? Se a conta for essa, estamos versando de ativos em terra nua (sem levar em conta a infraestrutura que os loteadores irão implantar), de R$ 7,5 bilhões.

É muita oferta? Vai saturar? Todos ganharão? São questões para o tempo responder, já que a mão invisível do mercado preconizada pelo liberal Adam Smith não parece dar conta do acúmulo de riquezas em Cascavel.

“Quem cultivava uma reserva de mercado para especulação imobiliária torceu o nariz para a expansão, paciência…”, comenta Paranhos.

Câmara tem a palavra final

O Legislativo de Cascavel deve apreciar ainda neste maio o projeto que expande o perímetro urbano. A aprovação já esteve mais tranquila, porém informações que pulularam de zap em zap questionando a demora dos vereadores em definir a questão causou irritação na Câmara.

Há resistências abertas no Legislativo. Uma delas parte do vereador Vilmar Melo.

“Precisamos entender como a essas áreas que margeiam a rodovia 277 e mesmo a 369
serão ligadas à cidade. Não podemos repetir os problemas causados pela expansão da
cidade para além da 467, na região Norte, em que as vias de acesso não foram projetadas de forma adequada e hoje estão congestionadas”, pontua.

O prefeito Paranhos atenua. Cita o exemplo da Avenida Guaíra, pavimentada e duplicada pelos loteadores, e assegura que é possível produzir um entendimento entre a prefeitura e os investidores para assegurar uma malha fluída.

A bancada governista na Câmara tem 12 votos firmes entre os 21 vereadores, eventualmente 15. Basta maioria simples para aprovar o projeto. Na Comissão de Constituição e Justiça, a matéria foi aprovada por unanimidade. Agora está com a Comissão de Obras, presidida por Cidão da Telepar. É o último estágio antes de o
presidente Alécio Espínola, também da base paranhista, colocar o projeto a voto.

Na foto de Nery Cardoso, a Cascavel da “roça” para a urbe: tesouros imobiliários cultivados nas franjas da cidade trarão choque de oferta ao mercado

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Capivaras e celulares

O verde é a cor predominante na tela de fundo do WhatsApp por acaso? Não, é ali que a capivara pasta…

O marido desconfiado sabe ou suspeita que a capivara mora dentro do celular da esposa. A recíproca é verdadeira. A esposa ou namorada ressabiada será levada a suspeitar que o maior dos roedores pode habitar o telefone do parceiro. Por capivara, entenda-se: algo que não pode ser revelado, e que precisa ser mantido sob sigilo de 100 anos.

Nada pode expor mais um vivente deste século XXI que esse dispositivo retangular de tela multicolorida que se move ao suave toque de um dedo. Tudo está lá, inclusive, talvez, ela, a capivara.

Xandão, como é conhecido o ministro Alexandre de Moraes, sabe bem. Quando ele determinou busca e apreensão na residência do empresário Luciano Hang, visava principalmente a tal “quebra do sigilo telemático”, em outras palavras, acessar supostas varas de capivaras. Hang foi investigado por participar de um grupo de zap-zap com empresários bolsonaristas onde alguém sugeriu um golpe de Estado. Aparentemente
a ligação de Hang com a tramoia não foi configurada. Mas a partir dali, o “Véio da Havan” sumiu do debate político.

O celular de uma figura pública pode revelar para muito além da suposta capivara que estava na alça de mira daquela operação específica. Pode trazer à luz desde eventual flerte clandestino até operações milionárias e ligações inconvenientes. Não é à toa que
a cor da tela do WhatsApp seja verde. É ali que a capivara pasta.

Quando Xandão autorizou a PF a visitar o casal Bolsonaro na quarta-feira (3), e lhes subtrair os telefones, havia ali um olho no peixe e outro no gato. E um terceiro olho na capivara. O ministro queria mesmo o celular do Jair. De um lado “fulano” dirá: – Abuso de autoridade! Estado policialesco! Ditadura do Judiciário! De outro lado “beltrano” exclamará: – A lei é para todos!

E assim segue a caçada às capivaras. Recomenda-se cautela, com direito à defesa, mas se os roedores existem, eles serão encontrados. Capivara é o maior roedor do planeta, bicho grande demais para esconder em um celular.

Por Jairo Eduardo. Ele é jornalista, editor do Pitoco e assina essa coluna semanalmente no Jornal O Presente

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