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E agora, José?

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Empresários suspeitos de financiar atos de 8 de janeiro são aconselhados a fugir do país; custas da defesa chegam a R$ 3 milhões; primeiro cascavelense condenado é sentenciado a 17 anos de prisão

“Não tinha boca para nada”. A expressão popular, tão comum em conversas informais para definir pessoas avessas à controvérsia, é uma das características do cascavelense condenado na última instância, pelo temido STF, a 17 anos de prisão por envolvimento no vandalismo de 8 de janeiro na Praça dos Três Poderes, em Brasília – a descrição é de uma ex-empregadora dele, proprietária de uma empresa de jardinagem em Cascavel.

Segundo a Procuradoria Geral da República (PGR) e o ministro relator Alexandre de Moraes, o cascavelense produziu provas contra si próprio no celular e deixou material genético no Palácio do Planalto naquele oitavo dia do ano.

“PAPAI DO CÉU”

Além das referências da ex-patroa, é possível encontrar informações dele também nas redes sociais. O perfil dele no Facebook é consonante com sua devoção evangélica. Traz trechos bíblicos e postagens de vídeos que alertam para a chegada de um anticristo. Que circunstâncias levaram o “evangélico que não tem boca para nada” até o ônibus que partiu de Cascavel dois dias antes do quebra-quebra em Brasília?

“Na verdade, assim, particularmente falando, eu não defendia a pessoa nenhuma. Eu só defendia os ideais das escrituras sagradas, a moral implantada pelo nosso papai do céu”, disse o cascavelense no depoimento para a Justiça.

O cascavelense não é o único frequentador do acampamento estabelecido em frente ao 33º Batalhão do Exército, em Cascavel, que teve a vida virada ao avesso a partir do 8 de janeiro. O Pitoco apurou que há pelo menos mais dez cascavelenses investigados por financiar os atos. E que o perfil destes é bem diferente do “boca pra nada”. São empresários, gente grande do agro, contra os quais pode haver provas robustas de financiamento do acampamento e do deslocamento a Brasília.

As provas foram obtidas em vídeo e áudio por agentes da Polícia Federal e da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), infiltrados em grupos de WhatsApp. Os agentes à paisana também frequentaram o acampamento “patriota” estabelecido aos fundos do Centro Esportivo Ciro Nardi. “Os infiltrados passavam por manifestantes, até ajudavam em algumas tarefas, e carregavam câmeras escondidas em suas roupas. Filmaram todo mundo”, disse uma fonte do Pitoco.

CUSTAS MILIONÁRIAS

É por essa razão que a cada repique da chamada “Operação Lesa Pátria”, que vem prendendo gente em todo o Brasil e já está em sua 17ª edição, cascavelenses do andar de cima sofrem pesados impactos psicológicos.

Não é para menos: as penas têm sido duríssimas, entre 12 e 17 anos em regime fechado. “Em primeira instância é possível, pontualmente, obter sucesso na causa, mas advogado que disser que absolveu cliente em Brasília, mesmo recebendo altíssimos honorários, está mentindo”, diz o criminalista Ricardo Augusto Bantle.

Ele peticiona para um grupo de empresários cascavelenses e se queixa da margem apertada para enfrentar os canetaços do “Xandão”: “São mais de três mil inquéritos, você acha que alguém vai ler minhas petições?”, questiona ele.

Além do pavor da “Lesa Pátria”, a defesa exige bolsos profundos. “As custas judiciais de alguns empresários investigados poderão chegar fácil a R$ 3 milhões”, estima o doutor Bantle.

SAÍDA É O AEROPORTO

O cenário para absolvição dos acusados de financiamento é tão improvável que um grupo de empresários cascavelenses recebeu a seguinte recomendação de prestigiada (e cara) banca de Brasília: “Sumam do mapa, escolham um país que não tem acordo de extradição com o Brasil e desapareçam até a chapa esfriar”. Informação que circula entre os apavorados com a “Lesa Pátria” é de que pelo menos dois cascavelenses investigados já encontraram uma saída para o Brasil: o aeroporto internacional.

E AGORA?

Para o fulano dos bolsos rasos que embarcou naquele buzão lotado de “patriotas” para Brasília restaram somente alguns trechos do mais conhecido poema de Drummond: “E agora, José? A festa acabou, a luz apagou, o povo sumiu, a noite esfriou, e agora José? Você que é sem nome, que ama, protesta, e agora José? Sozinho no escuro, qual bicho-do-mato, sem cavalo preto que fuja a galope, você marcha, José! José, para onde?”

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Moro despista emissário

Líder graúdo do agro oestino tenta estabelecer ponte com o ministro Alexandre de Moraes via inimigos históricos, os petistas de alto coturno

Diante das severas canetadas emanadas do STF e da disposição da Corte de impor duras sentenças aos envolvidos nos atos de vandalismo de 8 de janeiro, nomes e sobrenomes famosos do agro oestino, investigados pela PF, enviaram emissários a Brasília para atenuar politicamente o ímpeto punitivo do ministro relator, Alexandre de Moraes.

Um dos implicados, gente grande do agro, chegou a apelar para ninguém menos que a influente presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, antes tratada por ele aqui em vocabulário impublicavelmente misógino.

“Em um primeiro momento, lideranças governistas até demonstraram boa vontade de mediar a questão, de fazer uma ponte institucional. Mas diante das reações duras do Moraes a qualquer tratativa, se recolheram temendo ser implicados”, disse um advogado cascavelense ao Pitoco.

A tentativa de construir uma ponte entre o mundo político e o STF é confirmada pelo criminalista Ricardo Bantle. Ele, pessoalmente, foi a Brasília em busca de uma audiência com o senador Sergio Moro para interceder por seus clientes.

“A princípio o senador iria me receber, fui aluno dele aqui na Univel. Quando cheguei ao gabinete, percebi que a assessoria dele havia puxado os processos em que defendo clientes investigados e aí a coisa mudou. De repente disseram que o Moro acabara de sair”, relata Bantle, em tom indignado.

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RH multinacional

Quando o ato de empregar se transforma em causa humanitária: empresa de Toledo, cuja diretoria emigrou da Alemanha após a 2ª Guerra, já recebeu trabalhadores de 15 nações diferentes

Rainer no chão de fábrica da Fiasul: mil postos de trabalho, muitos deles para estrangeiros em busca de uma nova oportunidade na vida

Vindos de todos os continentes, os imigrantes e refugiados que desembarcam no Brasil, obrigados a deixar tudo para trás, a terra onde nasceram, seus lares, família e carreira profissional, em função de guerras, perseguições religiosas e desastres naturais, trazem no coração o sonho de começar uma vida nova e promissora, mas representam um grande desafio para as empresas dispostas a abrigá-los em seus quadros funcionais.

O problema é que não se trata apenas de dar um emprego. Vai muito além disso. Exige um enorme esforço de compreensão cultural envolvendo inúmeros aspectos, onde o idioma é só a primeira de muitas barreiras a serem transpostas.

É nesse contexto que a Fiasul, maior fábrica de fios de algodão e de poliéster do Paraná e uma das dez maiores do país, vem se destacando por seu exemplo inspirador na adoção de políticas que fazem dela um lugar acolhedor e respeitoso para essa gente que, apesar de tantas provações, não perdeu a esperança.

Fundada há quase 30 anos em Toledo, empregando mais de 1.000 colaboradores, a Fiasul virou uma referência nacional na contratação de migrantes e refugiados. Seus códigos de conduta para esse procedimento chamaram a atenção de agências da Organização das Nações Unidas, que enviaram representantes para conferir de perto o clima de cooperação, generosidade e pertencimento existente no ambiente de trabalho.

AFEGÃOS EM TOLEDO

Por sinal, a experiência recente e bem-sucedida de contratar um grupo de afegãos levou o Ministério do Trabalho a reconhecer as boas práticas da empresa na seleção de mão-de-obra estrangeira e incluí-la no mapa da ONU sobre empregabilidade.

Cabe ressaltar que a história da Fiasul com migrantes já vem de tempos. A primeira contratação se deu ainda em 2010 e, de lá para cá, a companhia, literalmente, abriu suas portas para o mundo. Nessa bonita caminhada, a empresa já registrou em sua folha de salários homens e mulheres oriundos de mais de 15 países.

CEO da Fiasul, o empresário Rainer Zielasko compartilha com seus sócios o entendimento de que, para além do mero preenchimento de vagas nos diferentes setores da indústria, a empregabilidade de migrantes e refugiados tornou-se um propósito institucional para a construção de um mundo socialmente mais justo e igualitário.

Ele lembra que, para a consolidação desse posicionamento da empresa, muitos obstáculos tiveram que ser superados, como, por exemplo, a língua, os costumes e até mesmo a forma, o preparo e o sabor da comida servida no refeitório. Cada uma dessas adaptações foi, por si só, gerando mais empatia e integração.

Para efetivar as contratações, a Fiasul atua em parceria com a Embaixada Solidária, uma organização da sociedade civil também sediada em Toledo, que atende migrantes e refugiados de mais de 30 países nos municípios da região Oeste do Estado.

MADE IN GERMANY

Pode-se dizer, ainda, que se a Fiasul é uma empresa que tem alma, é porque também tem memória, pois Rainer conhece muito bem a trajetória de um migrante em busca de oportunidade. Seu próprio pai, logo após o término da Segunda Guerra, zarpou junto com centenas de alemães no navio Flandria rumo ao Brasil. Já a bordo, o colar de pérolas que a avó de Rainer trazia no pescoço teve que ser trocado por um punhado de pães, que foi o alimento da família durante toda a viagem.

Com muito trabalho nas décadas que se seguiram, eles, enfim, venceram no país que os acolheu. É o que a Fiasul espera também propiciar àqueles que hoje batem à sua porta em busca de uma chance para recomeçar uma nova história de vida.

(Texto postado originalmente no caiogottlieb.jor.br)

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Prefeito pistola!

O vídeo viralizante da semana veio do celular do prefeito Paranhos. “Pistola”, ele gravou um desabafo com alvo não identificado, mas que, supostamente, deve ser algum veículo de comunicação. Um recorte do vídeo bombou no Tik Tok e saltou de zap em zap.

Eis a íntegra:

“Vou repetir, não vão mamar na prefeitura! Esqueça, pode descer o sarrafo! Estou lá para cuidar o dinheiro público, pode bater! Vem de gente que estava elogiando até ontem, aí cortei umas coisinhas lá que descobri, pronto, Paranhos virou pior prefeito. Pra você eu quero ser o pior prefeito, picareta! Avisa aí para pagar os IPTUs para eu poder botar mais dinheiro na saúde”.

Por Jairo Eduardo. Ele é jornalista, editor do Pitoco e assina essa coluna semanalmente no Jornal O Presente

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