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Tarcísio Vanderlinde

A cápsula babilônica do tempo

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Aqueles que buscam comprovação arqueológica para confirmar narrativas bíblicas concordam que os manuscritos datados de dois milênios, encontrados em 1947 nas cavernas à margens do Mar Morto, em meados do século XX, são possivelmente os objetos mais relevantes relacionados aos escritos do Antigo Testamento.

Contudo, houve descobertas mais antigas que também são consideradas respeitáveis para a confirmação dos textos sagrados. Uma delas é a do “Cilindro de Ciro”, descoberto em uma escavação em Babilônia no ano de 1879. O achado não se relaciona apenas aos textos bíblicos; constitui um objeto proeminente, se considerada a história geral da humanidade.

O cilindro acabou sendo danificado durante a escavação. Com isso, foram comprometidos parte dos escritos. Alguns fragmentos, porém, foram recuperados posteriormente. A peça encontra-se hoje sob os cuidados do Museu Britânico, entidade que patrocinou a expedição histórica responsável pela descoberta.

Em um procedimento que lembra práticas atuais de arquivamento de memórias em “cápsulas do tempo”, a forma cilíndrica da época de Ciro era típica de inscrições reais, geralmente enterradas nas fundações de edifícios e muralhas da Mesopotâmia no primeiro milênio a.C., sendo uma forma padrão utilizada nas proclamações oficiais.

Gravado em escrita cuneiforme, o cilindro foi confeccionado logo após a conquista de Ciro no ano 539 a.C.. Além de marcar o domínio persa sobre Babilônia, o cilindro indica que Ciro autorizou a restauração de santuários e permitiu que povos que haviam sido deportados para Babilônia pudessem voltar para casa.

Acredita-se que o decreto de Ciro coincide com o retorno a Jerusalém dos judeus exilados para reconstruir o Segundo Templo conforme descrição bíblica. O Primeiro Templo, construído à época do rei Salomão havia sido destruído pelos babilônios no ano 586 a.C..

A nova construção marcada pelo retorno dos exilados teria se iniciado em 516 a.C..

A memória de Ciro pela Bíblia aparece nos livros de 2Crônicas, Esdras, Isaías e Daniel. Em Esdras se lê: “No primeiro ano de seu reinado o rei Ciro promulgou um decreto acerca do templo de Deus em Jerusalém, nestes termos: Que o templo seja reconstruído como local para apresentar sacrifícios, e que se lancem seus alicerces”.

Por outro lado, o cilindro é considerado um artefato que contém um decreto considerado precursor da Declaração Universal dos Direitos Humanos. A declaração só seria promulgada pela Assembleia Geral das Nações Unidas cerca de dois mil e quatrocentos anos após o decreto de Ciro: 10 de dezembro de 1948.

Cilindro de Ciro. Acessável em: www.aventurasnahistoria.uol.com.br

Por Tarcísio Vanderlinde. Ele é professor sênior da Unioeste

tarcisiovanderlinde@gmail.com

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