Tarcísio Vanderlinde
Como um bolo de camadas
Megido é um dos sítios arqueológicos que consta na maioria dos roteiros de caravanas que se dirigem à Terra Santa. A cidade histórica de Megido ficava na região que foi destinada à tribo de Manasses Ocidental durante a partilha da Terra da Promessa.
Megido era entroncamento de rotas na antiguidade e dominava a passagem entre o Vale de Jezreel e a Planície de Sarom. Além disso, controlava as vias que rumavam para a Fenícia na costa leste e Damasco no oriente. Decorrente da posição estratégica, Megido foi palco de sangrentas batalhas.
Durante a conquista da Terra Prometida, o rei de Megido é relacionado entre os líderes derrotados por Josué, mas a tribo de Manassés, a quem foi destinada a região, jamais conseguiu tomar a cidade que só teria sido conquistada tardiamente à época do rei Davi.
O nível de ocupação do século X a.C., que coincide com o reinado de Salomão, indica que a cidade foi um centro administrativo do governo de Israel. Nesta camada histórica escavaram-se portas com multicâmaras e muros duplos, do tipo casamata, semelhantes aos encontrados em outras cidades datadas do mesmo período como Hazor e Gezer.
Conforme a narrativa de 1Reis, pode-se concluir que o estilo de construção adotado em Megido e em outras cidades do mesmo período, era o preferido dos arquitetos de Salomão.
O faraó Sisaque que reinou de 945 a 924 a.C. teria sido responsável pela destruição de Megido, durante uma campanha que incluiu ataques a Judá e Jerusalém.
As camadas arqueológicas revelam que Megido foi reconstruída e utilizada outra vez como centro militar e/ou administrativo nos séculos IX e VIII a.C. Entretanto, a cidade caiu novamente sob domínio da Assíria por volta de 733 a.C.
Com a queda do Império Assírio, Megido volta a ser controlada por Judá, época em houve o confronto do rei Josias e o faraó Neco resultando na morte do rei. Mais tarde, durante o período persa, a cidade foi definitivamente abandonada.
Por ser entroncamento de rotas e palco de batalhas envolvendo povos diferentes, o sítio se sobressai como fonte de vários achados arqueológicos notáveis que revelam os diferentes domínios que sofreu durante o período bíblico.
Entre as descobertas ocorridas se destaca um fragmento de tablete acádio que contém uma parte da Epopeia de Gilgamés. A menção ao dilúvio é um detalhe curioso que consta nesse achado, algo que chama atenção por causa da semelhança com a narrativa bíblica sobre o dilúvio e a trajetória de Noé.
Por Tarcísio Vanderlinde. Ele é professor sênior da Unioeste
tarcisiovanderlinde@gmail.com