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Tarcísio Vanderlinde

Conteúdo que não tem preço

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No secularizado mundo que estamos a experienciar, registrou-se inusitado leilão de um exemplar da Bíblia Hebraica transcrita por qualificados escribas há 1.100 anos. A versão hebraica equivale ao Antigo Testamento dos cristãos.

De acordo com reportagem da BBC News Brasil, o texto ficará agora permanentemente exposto no Museu do Povo Judeu em Tel Aviv, Israel.

O valor atingido, cerca de 190 milhões de reais, coloca o artefato em forma de códice (como são conhecidos os livros primitivos), na condição do manuscrito mais valioso do mundo arrematado até agora. O leilão ocorreu em Nova Iorque em maio último.

A raridade leva o nome de Códice Sassoon, em referência a um proprietário anterior, que a adquiriu em 1929, e que reuniu em sua casa em Londres, a maior e mais importante coleção particular de manuscritos hebraicos do mundo.

O texto da Bíblia Hebraica esteve em constantes ajustes até o início da Idade Média, quando estudiosos judeus conhecidos como massoretas começaram a criar um corpo de notas para padronizá-lo.

O Códice de Alepo, outro manuscrito bíblico criado por volta do ano 930, é considerado o texto massorético de maior autoridade. No entanto, apenas 295 das 487 páginas originais permanecem conservadas, em razão de danos causados por um incêndio na cidade síria de Alepo em 1947.

De acordo com os organizadores do leilão, é a primeira vez que um livro quase completo (faltam apenas 12 páginas) da Bíblia Hebraica apareceu com as vogais, notas de rodapé e outros detalhes auxiliares, com o intuito de orientar os escribas a copiar corretamente o texto. Edições impressas só apareceriam meio milênio depois.

Anotações que acompanham o corpo do códice, revelam sua propriedade por pessoas ao longo de séculos até seu leilão em Nova Iorque. Em leilão anterior, ocorrido em Londres em 1989, o códice já havia sido arrematado pela quantia expressiva de R$ 12 milhões.

Não é novidade que o mercado de antiguidades costuma movimentar cifras consideráveis de investidores “refinados”. Em se tratando de um artefato caracterizado como “testamento de um povo”, e como tal, reconhecido por mais de 2 bilhões de cristãos no mundo, é compreensível que o Códice Sassoon tenha atingido um valor recorde no mercado de antiguidades.

Antiguidade costuma conferir um preço simbólico-especulativo aos que investem na forma física que o artefato se apresenta. Todavia, no caso de uma Bíblia, é temerário avaliar quantitativamente a palavra impressa ou transcrita, mesmo que seja muito antiga. Talvez fosse melhor concluir que, neste caso, o conteúdo, de fato não tem preço!

Praia de Tel Aviv no Mediterrâneo. Cidade onde o manuscrito ficará exposto para apreciação pública (foto do autor)

Por Tarcísio Vanderlinde. Ele é professor sênior da Unioeste

tarcisiovanderlinde@gmail.com

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