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Tarcísio Vanderlinde

Discerniram o tempo

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A peça literária “O último discurso” aparece ao final da ficção cinematográfica “O Grande Ditador”, protagonizada por Charles Chaplin (1889-1977). A película, que é uma crítica aos regimes totalitários, estreou em 1940 e é considerada uma das obras primas de Chaplin. “Sinto muito”, começaria a discursar o Grande Ditador:

“Não pretendo ser um imperador. […] Gostaria de ajudar, se possível – judeus, gentios… negros… brancos. Todos nós desejamos ajudar uns aos outros. Os seres humanos são assim. Desejamos viver para a felicidade do próximo, não para o seu infortúnio. PORQUE HAVEMOS DE ODIAR – DESPREZAR UNS AOS OUTROS? Neste mundo há espaço para todos. A terra é boa e rica, pode prover a todas as nossas necessidades”.

A história real não terminaria da forma como o artista imaginara. Em meio ao caos, porém, pessoas se arriscaram para proteger seres humanos demonizados pela sua ancestralidade. Museus guardam evidências de uma era obscura que ainda nos assombra com seus resíduos no tempo presente.

Uma das listas destinadas a salvar 1.200 judeus de serem enviados para um campo de extermínio foi elaborada pelo industrial tcheco-alemão Oskar Schindler. O empresário tinha estreita ligação com o regime nazista, mas acabou utilizando sua rede de influências para outra finalidade.

Schindler empregou mão de obra judia para alavancar seus negócios em Cracóvia (Polônia ocupada). De acordo com biógrafos, de início, Schindler não nutria grande simpatia por seus colaboradores. Com o progresso da guerra, porém, e a convivência com os empregados, a situação mudaria.

O avanço russo no front Leste pressionou Schindler a transferir sua fábrica de esmaltes e munições para a atual República Tcheca. Foi quando elaborou uma lista para levar consigo seus empregados. A atitude os livrou de serem enviados para as câmaras de gás. A história de Schindler é bem documentada e foi levada às telas pelo cineasta Steven Spielberg.

Uma cópia da “Lista de Schindler” pode ser vista hoje no Museu do Holocausto, em Jerusalém. Sabe-se, contudo, que existiram outras listas preparadas com criatividade por pessoas que discerniram o tempo em que viviam e decidiram agir. Uma delas foi a da paranaense Aracy de Carvalho Guimarães Rosa, segunda esposa do escritor brasileiro João Guimarães Rosa.

A serviço da diplomacia brasileira, e contrariando ordens superiores, Aracy viabilizou incontáveis vistos de saída da Alemanha com o intuito de preservar vidas inocentes. Também conhecida como “Anjo de Hamburgo”, faleceu em 2011, aos 102 anos. Quando lhe perguntavam por que fez o que fez, ela respondia: “PORQUE ERA JUSTO!”.

Que possamos celebrar o Natal e o Ano Novo no espírito das LISTAS SOLIDÁRIAS DE PROTEÇÃO AO PRÓXIMO!

Inscrição multilíngue (nunca mais) flagrada no campo de concentração e extermínio de Dachau, nos arredores da cidade de Munique – Alemanha (foto do autor) 

Por Tarcísio Vanderlinde. Ele é professor sênior da Unioeste

tarcisiovanderlinde@gmail.com

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