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Tarcísio Vanderlinde

Ecos da Igreja Confessante

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As primeiras referências que nos chegaram a respeito do testemunho e martírio do pastor luterano Dietrich Bonhoeffer foram através das cartas que escreveu na prisão. As cartas foram publicadas posteriormente em livro com o título “Resistência e submissão”.

Bonhoeffer nasceu na cidade de Breslau, Alemanha, em 4 de fevereiro de 1906. Participou da resistência alemã antinazista e foi membro fundador da “Igreja Confessante”, ala contrária à política nazista. Atuou como reitor e professor em um seminário clandestino que seguia a linha da Igreja Confessante.

Em 1943, após o fechamento do seminário pelos nazistas, Bonhoeffer foi preso, acusado de envolver-se numa trama para assassinar Hitler. Foi enforcado em 9 de abril de 1945 na prisão de Flossenbürg, em Berlim, poucas semanas antes do término da 2ª Guerra Mundial.

“Discipulado” é considerado o principal livro do pastor. O texto escrito em 1937 adquire uma estranha atualidade neste início de século ao ecoar o grito da Igreja Confessante: “A graça barata é a inimiga mortal de nossa Igreja. Hoje, nossa luta é pela graça preciosa”, escreveria Bonhoeffer.

Ricardo Barbosa, escritor e pastor da Igreja Presbiteriana, afirma que “Discipulado” desenvolve profunda argumentação, com base no Sermão do Monte, sobre o significado de seguir a Cristo.

No contexto da ascensão do nazismo, a preocupação de Bonhoeffer era combater o que ele chamou de graça barata, uma graça que oferece perdão sem arrependimento, comunhão sem confissão, discipulado sem cruz. Uma graça, enfim, que não implica obediência nem submissão a Cristo.

Barbosa é da opinião de que Discipulado precisaria ser lido pelos cristãos brasileiros do século 21, com sua fé secularizada, sua moral relativizada, sua ética minimalista e sua espiritualidade privada e narcisista. A graça barata denunciada por Bonhoeffer “tem nos levado a conceber um cristianismo medíocre e uma espiritualidade que não expressa a nobreza do reino de Deus”, conclui Barbosa.

Discipulado de Bonhoeffer é hoje considerado um best seller da literatura cristã. Pela relevância, pode ser colocado ao lado de clássicos como “O Peregrino”, de John Bunyan, e “Cristianismo puro e simples”, de C. S. Lewis.

“Estamos por aqui de passagem, numa colônia longe da Pátria”, escreveria Bonhoeffer.

O discípulo é chamado para fora deste mundo. Não existem promessas de prosperidade financeira aos discípulos enquanto peregrinos numa terra estranha.

As promessas existem, mas são de outra natureza e passam pela cruz. Para Bonhoeffer, os discípulos “deixam para trás a terra estrangeira e marcham em direção à pátria que está no céu”.

(Ref. BONHOEFFER, Dietrich. Discipulado. São Paulo: Mundo Cristão, 2016).

“Igreja da Memória”, na região central de Berlim. Foi mantida semidestruída como testemunho dos bombardeios sofridos pela cidade durante a II Guerra Mundial (foto do autor)

Por Tarcísio Vanderlinde. Ele é professor sênior da Unioeste

tarcisiovanderlinde@gmail.com

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