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Tarcísio Vanderlinde

Germinação surpreendente

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Massada entrou para a história como foco de resistência dos judeus contra os romanos no primeiro levante de Israel contra as tropas invasoras. A Sudoeste do mar Morto, deserto da Judeia, Massada caracteriza-se como um imponente rochedo de aproximadamente 400 metros de altitude e que à época servia como fortaleza natural de defesa.

Flávio Josefo descreve Massada como um rochedo rodeado “de todos os lados de vales profundos cujo fim não se alcança com a vista, porque outras rochas a ocultam”.
O lugar havia sido fortificado à época de Herodes com palácios e edificações como cisternas e depósitos de alimentos para suportar períodos prolongados de cerco. A facção zelote dos judeus soube tirar proveito do lugar na cruel resistência ao exército romano.

A fortaleza considerada inexpugnável foi tomada pelos romanos a partir da construção de uma rampa monumental de acesso ainda visível nos dias atuais. Massada é hoje um parque nacional procurado por visitantes de todas as partes do planeta.

O lugar mantém o simbolismo de resistência dos zelotes do primeiro século marcado pelo trágico suicídio coletivo dos 960 ocupantes da fortaleza, que no ano 73, convencidos pelo seu comandante Eleazar Bem Yair, decidiram que a morte seria melhor do que a escravidão sob os romanos.

Os serviços de arqueologia realizados no local a partir dos anos de 1960, além dos vestígios relacionados ao conflito, revelaram estoques de sementes de tamareiras que a datação radioativa do carbono considerou ser do período da guerra, ou mesmo de tempos mais antigos.

Mais recentemente, uma equipe de botânicos e agrônomos liderada pela cientista israelense Sarah Sallon obteve sucesso em experimento que culminou com a germinação de algumas destas sementes. Concluiu-se que as tamareiras que germinaram são de uma espécie hoje extinta, e que pode ter nos dias atuais um aproveitamento genético sem precedentes.

Os cientistas acreditam que as condições climáticas do deserto tenham contribuído para a preservação das características originais das sementes. Sallon acredita que a habilidade das sementes permanecerem viáveis por longos períodos de tempo é condição importante na preservação dos recursos genéticos da planta.

O sucesso da experiência foi compartilhada recentemente em um vídeo da youtuber Aline Szewkies, para quem a germinação das sementes de espécimes de tamareiras consideradas extintas identifica-se com profecia de Ezequiel sobre os “ossos secos” que voltaram a ter vida.

Neste caso, as sementes que voltaram a ter vida, personificariam metaforicamente – não sem tensões e resistências – a reterritorialização de Israel após quase dois milênios de diáspora do povo judeu pelo mundo.

Tamareiras na orla do Mar Morto próximo ao local onde foram descobertas as sementes milenares (foto do autor)

Por Tarcísio Vanderlinde. Ele é professor sênior da Unioeste

tarcisiovanderlinde@gmail.com

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