Tarcísio Vanderlinde
Guardiões da palavra
Como saber se o texto do Antigo Testamento (AT) ao nosso alcance reflete com precisão o que os autores antigos escreveram, e que eventuais erros dos escribas (aqueles que copiavam) não comprometeram a mensagem?
Uma resposta plausível ao questionamento reside no fato de que os textos antigos e as versões do AT são as próprias ferramentas que os estudiosos utilizam num trabalho criterioso de cruzamento de fontes com o intuito de transmitir com fidelidade a forma como o texto foi escrito originalmente.
Sabe-se que o AT foi escrito predominantemente em hebraico, com alguns trechos no aramaico. Porém, os judeus da diáspora adotaram outros idiomas e até inventaram dialetos. Por outro lado, na medida que o cristianismo alcançava os gentios, surgiu a necessidade de traduções.
Assim surgiram traduções do AT em grego, aramaico, egípcio, latim e outros idiomas. Ao mesmo tempo, os escribas judeus continuaram copiando e preservando o AT hebraico.
Existem na atualidade milhares de textos do AT disponíveis em rolos de couro e papiro e em fragmentos que podem chegar a mais de dois mil anos de existência.
A não ser que ainda se encontre, não existe mais nenhum manuscrito bíblico original. Os testemunhos mais significativos do escrito hebraico original são conhecidos como o Texto Massorético e os Rolos do Mar Morto.
Massorético vem de “massoreta”, alguém que no judaísmo tinha por missão a guarda e a preservação da tradição. Entre 500 e 1000 d. C., um grupo de massoretas desenvolveu um sistema de acréscimo de vogais, acentos e notas no hebraico no intuito de garantir maior precisão na leitura e na cópia de textos antigos.
Considera-se que nenhum texto do mundo antigo foi protegido com tanto cuidado quanto o Texto Massorético. Sua tradição pode ser considerada uma autoridade em si mesma, e extremamente confiável.
O Códice de Leningrado (1009 d.C.) é o manuscrito massorético completo mais antigo. Ele é utilizado como edição padrão da Bíblia hebraica.
Com a descoberta dos Rolos do Mar Morto em 1947, os vestígios dos manuscritos mais antigos do AT ampliaram-se cerca de mil anos. Os Rolos do Mar Morto contêm manuscritos e fragmentos hebraicos, gregos e aramaicos, muitos dos quais textos das Escrituras.
É significativo saber que um grande número dos manuscritos da Bíblia hebraica encontrados ali refletem essencialmente o mesmo texto herdado pelos massoretas, confirmando a antiguidade e a legitimidade da escrita realizada pelos guardiões da palavra.
Por Tarcísio Vanderlinde. Ele é professor sênior da Unioeste
tarcisiovanderlinde@gmail.com