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Tarcísio Vanderlinde

Lugar extraordinário

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Longe daqui, em alguma estranha constelação nos céus infinitamente remotos, há uma pequena estrela que os astrônomos podem um dia descobrir.

Pelo menos eu nunca pude observar nos rostos ou comportamento da maioria dos astrônomos, ou homens da ciência, qualquer evidência de que eles a descobriram; embora, na verdade, eles estavam andando por ali e pisando o tempo todo.

É uma estrela que produz, de si mesma, plantas muito estranhas e animais muito estranhos e ninguém mais estranho do que os homens da ciência.

Essa, pelo menos, é a maneira pela qual eu deveria começar uma história do mundo, se eu tivesse que seguir o costume científico de começar com um relato do universo astronômico.

Eu deveria tentar ver de fora até mesmo esta Terra, não pela insistência banal de sua posição relativa ao sol, mas por algum esforço imaginativo para conceber sua posição remota para o espectador desumano. Entretanto, eu não acredito em ser desumanizado a fim de estudar a humanidade.

Eu acredito em morar a grandes distâncias que supostamente deveriam diminuir o mundo; acho que há até um ponto vulgar sobre essa ideia de tentar repreender o espírito pelo tamanho.

E como a primeira ideia não é viável, aquela de fazer da Terra um planeta estranho de modo a torná-lo significativo, não me inclinarei para o outro truque de torná-lo um pequeno planeta, a fim de torná-lo insignificante.

Prefiro insistir em que nós nem sabemos se é mesmo um planeta, no sentido de que sabemos que é um lugar; e um lugar muito extraordinário.

Gilbert Keith Chesterton (1874-1936)

(Fragmento do best-seller “O homem Eterno”, publicado originariamente em 1925)

Salar do Atacama nos dias atuais. Ambiente em risco decorrente da exploração maciça de lítio: matéria-prima para a fabricação de baterias (acervo particular)

Por Tarcísio Vanderlinde. Ele é professor sênior da Unioeste

tarcisiovanderlinde@gmail.com

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