O sussurro das paisagens

A Fonte dos Cabritos, em En-Gedi, está localizada ao lado Oeste do mar Morto. A arqueologia indica que aquele lugar já estava ocupado no IV milênio a. C., período no qual foram datadas as ruínas de um templo descoberto no lugar.

Próximo ao local foram descobertos níveis de ocupação datando do século VII ao século V a.C. No tempo presente um kibutz e um parque natural estão localizados em En-Gedi.
No passado, enquanto estava sobre ocupação israelita, a região pertenceu ao território de Judá. Quando fugia de Saul, Davi procurou refúgio em En-Gedi e se escondeu numa caverna. Numa delas o próprio Saul teve a vida poupada por Davi.

Ainda há diversas cavernas na região. A Bíblia fala de certos “lugares de difícil acesso em En-Gedi”. Em 1Samuel, as características do relevo em En-Gedi aparecem como um lugar de “rochas calvas dos cabritos monteses”. Os visitantes atuais concordam com a descrição paisagística do lugar feito pela Bíblia: um lugar de perigosos desfiladeiros rochosos e escarpas.

Em 2Crônicas, o sítio de En-Gedi recebe o nome de Hazazom-Tamar, que no hebraico sugere um bosque de palmeiras. Em Cântico dos Cânticos, a jovem sulamita fez alusão à fertilidade dessa região, referindo-se a um cacho de hena entre os vinhedos de En-Gedi: “Como um ramalhete de hena nas vinhas de En-Gedi, é para mim o meu amado”.

Foi em En-Gedi que os moabitas, amorreus e edomitas tentaram invadir Judá. Pelo fato de o terreno ser muito acidentado, jamais se esperaria dali um ataque. Entretanto, o líder Josafá descobriu o plano deles, e numa ação miraculosa decorrente de resposta de oração, os invasores, em descontrole de “espada amiga”, se voltaram uns contra os outros, de modo que o exército hebreu não teve trabalho, encontrando depois apenas cadáveres e despojos.

En-Gedi foi destruída por Nabucodonosor em 582 a.C., logo após a destruição de Jerusalém. Quando os israelitas voltaram do cativeiro babilônico, reconstruíram o local, que foi mais tarde ocupado pelos hasmoneus. Herodes, o Grande, destruiu a cidade e depois a reconstruiu e a fortificou. Mais tarde, durante a guerra judaica, ela foi destruída novamente.

Nas cavernas próximas do sítio foram encontradas algumas cartas escritas por Bar Kokhba, líder da insurreição judaica sufocada pelos romanos em 135 d.C., indicando que o líder e seus homens, a exemplo do rei Davi, utilizaram En-Gedi como esconderijo.

É fascinante o suporte fisiológico e geográfico dos lugares associados a eventos bíblicos. Na falta de qualquer outro elemento, em muitos lugares da Terra Santa, as paisagens sussurram testemunhos sobre a procedência das narrativas bíblicas.

Por Tarcísio Vanderlinde. Ele é professor sênior da Unioeste

tarcisiovanderlinde@gmail.com