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Tarcísio Vanderlinde

Seguiu as tochas

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Pelas lentes dos críticos do século XXI a obra de Eusébio de Cesareia é vista como excessivamente positivista. Foi contudo, a produção histórica possível a partir das fontes que o historiador da Igreja dos primeiros séculos diligentemente coletou e analisou.
Ao propor “História Eclesiástica”, Cesareia discutiu a sucessão dos apóstolos até o terceiro século da era cristã. Atuou também como bispo na cidade portuária de Cesareia Marítima a partir do ano 313.

Sua obra é a primeira e única a tratar da história da Igreja nos três primeiros séculos de sua existência. Cesareia diz desconhecer qualquer escritor eclesiástico que o antecedesse e que tenha se preocupado com o gênero literário que adotou.

O bispo nutriu esperanças de que sua obra se mostrasse útil a todos quantos se ocupassem em adquirir uma “sólida instrução histórica”.

Não foram apenas pessoas ilustres que tiveram a atenção nos escritos de Cesareia, como foi o caso do imperador Constantino, do qual era amigo. Entraram no relato um sem número “daqueles que em cada geração, de viva voz ou por escrito, foram os embaixadores da palavra de Deus”.

Por outro lado, seu texto chama atenção às tendências, que segundo o bispo, se desviaram do propósito e da palavra de Deus. Grupos, “absorvidos pelo erro e levando ao extremo suas fantasias, proclamaram a si mesmos introdutores de um mal chamado saber e devastaram sem piedades, como lobos cruéis, o rebanho de Cristo”.

Aparece também em sua obra as “desventuras” que se abateram sobre a nação judaica após a crucificação de Jesus e a destruição de Jerusalém, bem como as perseguições e martírios sofridos pela Igreja até à época de Constantino.

Cesareia reconhece não ter encontrado apenas uma “simples pegada”. Segundo ele, muitas vezes pequenos indícios que se estendiam como tochas a iluminar os tempos transcorridos, acabaram revelando a senda por onde se deveria caminhar.

Um dos assuntos que mereceram imediata atenção de Cesareia foi a doutrina sobre a “preexistência” de Jesus e sua divindade pautadas em textos do Antigo Testamento.
De acordo com Cesareia, o Verbo preexistente se manifestou algumas vezes aos homens por meio de visões de anjos ou por si mesmo, “a alguns poucos varões amigos de Deus”.

A constatação teológica que levou Cesareia a concluir que o cristianismo “não é algo novo”, e que seria comprovado em teofanias (manifestações de Deus) e diversas prefigurações antes da era cristã, continua na pauta de idôneos estudiosos das Sagradas Escrituras no tempo presente.

Aqueduto romano nas imediações de Cesareia Marítima, cidade onde viveu Eusébio de Cesareia (foto do autor)

Por Tarcísio Vanderlinde. Ele é professor sênior da Unioeste

tarcisiovanderlinde@gmail.com

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