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Fátima Baroni Tonezer

É lícito amar a si próprio?

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Falar de amor-próprio é adentrar uma seara sensível, pois o limiar entre o que é amar a si próprio do que é narcisismo ou egoísmo é muito tênue. Por outro lado, é essencial falar de amor-próprio. O amor-próprio não é dado, não acontece de repente, não é um aplicativo que se baixa e instala, como estamos acostumados a fazer em nossos celulares. Ele é conquistado, construído e reconstruído todos os dias, por toda nossa vida. Nos nossos relacionamentos, afetivos, profissionais ou sociais, temos altos e baixos.

A intimidade comigo mesma(o) é a precursora da intimidade com os outros. Além do mais, amar o outro sem amar a si mesmo(a) pode virar uma tragédia, um decepção, nos mantendo em relações abusivas ou falidas por acreditar que não merece nada melhor ou que nunca vai aparecer ninguém melhor.

O autoamor tem o poder de destruir coisas ruins da nossa vida, ranços, magoas. A visibilidade externa, a importância, o status fica vazio sem autoamor. Na infância dependemos do amor externo, de nossos pais, cuidadores, de uma adulto que nos acolha e guie. Mas com a maturidade vamos percebendo que seremos nós mesmos os responsáveis pelo cuidado, bem-querer, carinho, compaixão e empatia por nós. Nos acolhendo e fazendo escolhas mais apropriadas as nossas necessidade e desejos.

COMO DESENVOLVER O AMOR-PRÓPRIO?

Para desenvolver o amor-próprio precisamos olhar para dentro de nós. E aprender a não fugir dos nossos sentimentos, quaisquer que sejam. E apesar de estar na moda, não dá para cancelar sentimentos e dores. Eles fazem parte de nós, não é olhar e concordar que é isso e pronto, acabou. Não. Quando você tem consciência do comportamento que essas dores e sentimentos traz, você consegue modificar o comportamento. Só que sem consciência, não há mudanças. É ruim, desconfortável, mas negar perpetua o sofrimento. A dor já aconteceu. Não há como impedir, ficou no passado, continuar repetindo o sofrimento não é necessário nem saudável.

Quando negamos, evitamos entrar no processo de mudança. Optamos por fugir. E para fugir, buscamos qualquer forma de entorpecimento, comer muito, beber muito, dormir muito, comprar muito. Isso tudo são formas de fugir de si mesma(o), de negar fatos. É necessário aceitar, o que não significa concordar nem achar que mereceu. Mas foi o que ocorreu, pronto. É fato. É preciso aceitar e ajustar, aprender como aquilo te afetou. Sem entender cada experiência, sem vivê-la plenamente não há aprendizado nem cura do sofrimento. É se permitir entrar no processo, assumindo que aquilo não te define, não é você. Anote o que está acontecendo, sentindo. Assim você percebe o padrão que se repete e então pode quebrá-lo.

O autoamor não é simples, ele é treino, exige muito esforço e dedicação. Não é a repetição de frases positivas na frente do espelho, livros de autoajuda … se não ajustar o amor-próprio de maneira prática, não acontece. Comece seu dia se perguntando: o que eu posso fazer hoje por mim? Isto é um gesto concreto de amor. Olhe para a sua trajetória e veja os eventos significativos, validando suas ações e recursos. A maneira como estou agindo está funcionando para mim. Se sim, verifique os ajustes necessários, atualize e continue. Se não, faça um checklist e perceba o padrão que está te atrapalhando e escolhas as ações e estratégias práticas que precisa começar. Avalie seus recursos, a vida e suas demandas. Tudo o que já vivenciou forneceu uma “maleta” cheia de recursos, escolha a que vai usar, a mais apropriada ao momento atual.

O que te impede de chegar aonde quer? As circunstâncias, as pessoas, quais as suas necessidades. Você sabe quais são? Se você não reconhece suas necessidades como importantes, se você não se valoriza, você está ensinando os outros como tratarem você. Pois se você não se cuida, não se respeita, os outros percebem e tratam você igual. Logo, defina como você quer ser tratado? Tenha consideração, consciência disso e então ensine aos outros. Como? Praticando na sua vida, na sua rotina. Quando você não reconhece as suas necessidades, você mostra isso aos outros e depois sofre e repete: “viu, ninguém me ama”, “faço tudo para todos e na minha vez, ninguém me ajuda”.

Isso acontece no nosso inconsciente. E como sair do inconsciente e entrar no consciente? Pergunte-se, o que preciso para me sentir amada? O que tira a minha paz que não estou considerando? Faça uma lista, escreva para que fique claro para você, por exemplo, quando você está buscando reconhecimento, quais são as suas necessidades? Em que situações você precisa colocar limites e dizer “não” para ser respeitado? O que está por trás dos “sim” que você está dizendo para o outro?

Quando você desconsidera suas necessidades, tratando como não importante ou irrelevante, você ensina isso aos outros. Trate a si mesma(o) como você trata os outros. Tudo o que você acha importante para você, de fato é importante. Se você não estabelecer limites, as pessoas vão te atropelar mesmo.

Responda essas questões para você e deixe claro para os outros, se alguém não respeitar, considere se afastar dela, se puder ficar longe. Se não puder, aprenda a conviver com elas, criando barreiras para que ela te afete o mínimo possível. Aprenda a pedir e dar a si mesmo(a) o que te faz bem, busque fazer o que traz bem-estar. Procure harmonizar, equilibrar. Tenha paciência consigo mesma, é um processo, não é mágica. Perceba os benefícios disso para você. Aprenda a se ouvir, acolher e respeitar. Amor-próprio cura, mas a tarefa é sua. Não terceirize atitudes simples, diárias. Esse hábito consolida em você a crença que você merece amor e respeito.

Você não pode duvidar do seu merecimento, isto facilita a suportar as pressões externas. Quanto mais convicta(o) dos seus valores e amor-próprio, maior a capacidade de suportar as agressões externas.

Nessa trajetória de desenvolver o amor-próprio e construir nossa autoestima, vamos convivendo com nossos sentimentos e emoções. Outro assunto delicado para lidar, já que não faz parte na nossa educação familiar ou formal. Daí a pergunta como posso aprender a me amar e cuidar de mim, se não aprendi a reconhecer minhas emoções, não sei identificá-las e nem lidar com elas?

Há inclusive aquelas, que mesmo não sabendo identificar quais são, não posso sentir ou dizer que tenho. E os seres humanos nascem com um arsenal de emoções, adequadas para cada momento e demanda da vida. No próximo artigo vamos conversar sobre emoções e sentimentos? Continue me acompanhando, aqui e nas redes sociais. E lembre-se que se quiser conversar comigo, é só me chamar.

Até a próxima…

Fátima Sueli Baroni Tonezer é psicóloga, formada em Psicologia na Universidade Estadual de Maringá (UEM). Sua maior paixão é estudar a psique humana. Atende na DDL – Clínica e Treinamentos – (45) 9 9917-1755

@psicofatimabaroni

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