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Fátima Baroni Tonezer

Por que é difícil lidar com a frustração de não ser feliz o tempo todo?

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Nas duas últimas semanas estamos conversando sobre emoções, como frustração e impotência. Já entendemos de onde vem, com algumas propostas de como lidar com isso. E hoje vamos aprofundar um pouco mais o assunto. 

Você já parou para se perguntar onde nasceu essa ideia de que temos que ser felizes o tempo todo. Que todos nós nascemos para sermos felizes e se não somos é porque alguém ou alguma coisa está me impedindo. Qual é a resposta?

Parece simples, mas é mais complexa do que gostaríamos. Porque vivemos numa cultura onde somos inundados diariamente pela ideia de que temos que ser felizes o tempo todo, ter satisfação e reconhecimento em tudo. E que não podemos errar. Errar é inadmissível.  E assim vamos nos distanciando da noção de que é impossível ser feliz o tempo todo. Não é assim que a vida acontece. E a frustração vem quando nos deparamos com a realidade de que nossa vida não é como imaginamos, que não há conto de fadas. Aliás, a vida começa exatamente depois do “E foram felizes para sempre”. Que tem boletos a pagar, chuva no lugar do sol na hora que mais precisávamos dele, desafios que não damos conta de resolver.

COMO “ATUALIZAR” O SISTEMA?

A maneira de lidar com isso é aceitar a realidade dos fatos, isto é, que há coisas que não podemos controlar, pois não dependem de nós. Ajustar nossas expectativas, “baixar a régua” daquilo que esperamos. Estar consciente de nossos valores e das nossas necessidades. O mundo idealizado, retocado e perfeito das redes sociais não existe. Lembra que você também escolhe e ajusta tudo o que vai publicar nas redes sociais?

Há alguns meses surgiu um documentário na Netflix, “Como viver até os 100 anos: os segredos das zonas azuis”, no qual o escritor Dan Buettner viaja por cinco comunidades únicas onde as pessoas têm vidas muito longas e felizes. Ele conta durante o documentário o que essas pessoas fazem para chegar aos 100 ou mais anos com autonomia e clareza mental. Se não assistiu, fica a dica. Mas vou te dar um “spoiler” sobre o documentário. A conclusão a que chegaram é que para além de uma alimentação mais saudável e natural, de atividades físicas regulares e sono de qualidade, essas pessoas cultivam um hábito incontestável, que faz toda a diferença.

O que aparece em todas as “blue zones” visitadas, nos diversos continentes e que essas pessoas, de nacionalidades e hábitos diferentes tem, é que eles cultivam relacionamentos verdadeiros. Isto é sobre ter relacionamentos afetivos, não redes de relacionamento ou network. É sobre convivência entre gerações, da família ou da comunidade, com respeito, com afeto. É sobre o que faz sentido para você. Sobre onde você vai colocar seu esforço para conseguir, sobre coisas ou pessoas, sobre afeto ou aparência?

Depende de você. A vida não é justa. Longe disso. Não se trata de meritocracia, conceito inventado para tirar a responsabilidade de algumas pessoas sobre condutas e leis injustas e por vezes até maldosas. Não é sobre dizer que o dia tem 24 horas para todos. Sim, é fato que o dia tem 24 horas. Mas nem todos têm acesso aos recursos que quem diz isso teve e tem. Aliás, que muitas vezes está só seguindo o “script” que outros disseram ser a fórmula do sucesso.

É sobre você olhar para seus valores, colocar esforço naquilo que vai gerar bem-estar e paz no seu coração, que vai proporcionar relacionamentos afetivos, onde o que importa é o amor e respeito, não as marcas e aparências. Não é sobre um jantar numa mesa finamente preparada, com louças e talheres combinando, um cardápio refinado, taças e bebidas caras. É sobre tomar café em xícaras comuns que não combinam entre si, mas que aqueles que os seguram combinam, e conseguem rir de coisas comuns, lembrar de coisas vividas e olhar com ternura para o outro. Compartilham histórias, desafios, vitórias e fracassos, risos e choro.

Estabeleça objetivos e metas que estejam em sintonia com seus valores, que façam sentido para você. Que você saiba o que vai estar lá, te esperando quando alcançar. E que nada é conclusivo. Faça coisas que você gosta, que deem prazer a você. E escreva suas conquistas, no seu diário pessoal, não nas redes sociais. Você é a primeira pessoa a reconhecer e validar suas experiências. E por fim, escute-se, esteja atento aos seus sentimentos e pensamentos. Seja gentil consigo.

E posso emendar aqui uma dica muito importante: faça o bem. Seja voluntário em alguma causa. Ser generosa(o) e se envolver com atividades voluntárias aumenta a satisfação pessoal e a autoestima. Cabe também abraçar quem você gosta ou você percebe que precisa de um abraço. O abraço para quem dá e para quem recebe libera hormônios que ajudam a reduzir o medo, a ansiedade e o estresse. São coisas simples, fáceis de adaptar a sua rotina, que não necessitam de grandes investimentos financeiros e que fazem a diferença na vida de quem pratica.

No vemos na próxima semana para continuar a conversa sobre saúde mental, autoestima e emoções.

 Até a próxima.

Fátima Sueli Baroni Tonezer é psicóloga, formada em Psicologia na Universidade Estadual de Maringá (UEM). Sua maior paixão é estudar a psique humana. Atende na DDL – Clínica e Treinamentos – (45) 9 9917-1755

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