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Tarcísio Vanderlinde

O tesouro do mosteiro

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Só no retorno da escalada ao monte Sinai, já ao amanhecer do dia 17 de maio de 2014, é que pudemos visualizar o histórico Mosteiro Ortodoxo Santa Catarina. O convento fora construído no vale, ao sopé do monte, no século VI, por ordem do imperador bizantino Justiniano I. A edificação é considerada a mais antiga ainda em uso para a função pela qual fora construída.

Os anacoretas, cristãos isolados do Sinai, desapareceram no século VII. No topo da montanha onde se acredita que Moisés recebera os mandamentos ainda se identificam escombros de um dos mosteiros. Apenas o mosteiro Santa Catarina, fortificado por maciças muralhas, permaneceu.

A presença de cavaleiros cruzados na região provocou um súbito interesse nos cristãos europeus e aumentou o número de peregrinos que apareciam para visitar o mosteiro. Foi neste mosteiro que o filólogo alemão Constantin von Tischendorf descobriu, em 1859, um precioso tesouro. Trata-se de um manuscrito da Bíblia, talvez o mais importante de todos, e que ficou conhecido como o Códice Sinaítico.

Estando à procura de manuscritos a serviço do czar russo, Tischendorf convenceu os monges a deixarem-no levar a Bíblia para ser copiada em São Petersburgo.

Os estudos demonstraram que o texto foi escrito em grego, por vários escribas, que utilizaram pergaminhos de pele de boi. A compilação do texto foi feita com cuidado e rigor, o que o torna um dos achados arqueólogos mais significativos para a cristandade.

O códice, que nada mais é do que o nome atribuído a livros primitivos, foi compilado no século IV. Ele é considerado um documento importante para a história por ter contribuído na fixação do cânone bíblico.

Nos primeiros anos do século IV, o Códice Sinaítico já continha todos os livros que viriam a permanecer na Bíblia cristã: todos os do Antigo Testamento na versão da Septuaginta, utilizada pelos judeus da diáspora, e todo o Novo Testamento tal como é conhecido hoje.

A importância do códice traduz-se por ele demonstrar que as comunidades cristãs dos primeiros séculos utilizavam a versão da Septuaginta como favorita.

É interessante observar que o Códice Sinaítico continha ainda dois outros livros, que acabaram por não permanecer no cânone bíblico. Trata-se do “O Pastor de Hermas” e da “Carta de Barnabé”. “O Pastor de Hermas”, por exemplo, é um livro apocalíptico e sabe-se que ele era apreciado pelos cristãos primitivos. Todos os textos encontrados no mosteiro encontram-se hoje digitalizados e disponibilizados em sítios da internet.

Mosteiro ortodoxo de Santa Catarina, no sopé do monte Sinai, que se situa em território egípcio (foto do autor)

Por Tarcísio Vanderlinde. Ele é professor sênior da Unioeste

tarcisiovanderlinde@gmail.com

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