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Arno Kunzler

Milei, Milei

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Estive na Argentina pelo menos cinco vezes, em lugares diferentes, desde que começou a campanha presidencial naquele país.

Nunca ficou qualquer dúvida que a direita iria vencer as eleições, tamanho era o descontentamento dos argentinos com a inflação e a queda acentuada do poder de compra.

Um país, cujo povo traz na memória um passado de grandeza, agora chora e lamenta a pobreza onde quase metade da população foi parar e não vê perspectiva de sair de lá.

Triste realidade, até para nós, brasileiros, que costumamos fazer “gracinha” com a desgraça dos portenhos, especialmente por causa da rivalidade futebolística.

A eleição confirmou o que ouvíamos em cada depoimento de eleitores insatisfeitos com o estado de coisas que produziram uma série de governos populistas e com políticas equivocadas.

Mas o que assustava era a postura do candidato favorito, escolhido para liderar e mudar a Argentina.

Com frases espetaculares e afirmações que assustam até os mais fanáticos extremistas, Javier Milei foi ganhando a confiança dos argentinos e domingo (19) venceu a eleição com boa margem de votos, enquanto as pesquisas teimosamente insistiam em mostrar apertada.

O que vem agora assusta mais que as frases eloquentes e provocativas do presidente eleito.

Fazer o que com a inflação de 142,7% nos últimos 12 meses, com a moeda desvalorizada ao extremo, quase mil pesos por um dólar e com tanta gente dependendo do Estado até para comer?

Só um governo de união nacional e um pacto pela governabilidade serão capazes de oferecer as alternativas e dar ferramentas que precisam ser colocadas em prática para vencer um desafio desse tamanho.

Não há solução fácil.

E, a continuar com o discurso agressivo que o notabilizou, Milei terá dificuldades para conseguir o apoio que precisa para fazer o que prometeu durante a campanha eleitoral.

Vamos torcer pela Argentina e que a brilhante capacidade de comunicação do presidente eleito sirva para contagiar seu povo na busca frenética por melhores dias.

Será um grande teste para a direita latino-americana, inclusive aqui no Brasil.

Por Arno Kunzler. Ele é jornalista e fundador do Jornal O Presente, da Editora Amigos e da Editora Gralha Azul

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