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Elio Migliorança

Banalidade do mal

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A virada do ano cria muitas expectativas, renova esperanças, infunde novo ânimo e nos induz a acreditar que os problemas do ano que passou foram sepultados e que o ano novo será cheio de virtudes e realizações. Talvez para os que detêm o poder e decidem a vida dos outros seja muito interessante que a população acredite nisso. Melhor colocar os pés no chão, esquecer a música da virada do ano que diz “adeus ano velho” e conscientizar-se de que estamos começando um ano novo com velhos e conhecidos problemas.

Esta reflexão pode nos ajudar a não alimentar falsas esperanças e nos impedir de fazer alguma bobagem acreditando que agora o Brasil foi passado a limpo.

O primeiro impacto negativo é a frustração da safra de verão, cujo impacto na economia regional terá consequências danosas para todos. O segundo impacto é o abandono das obras da duplicação do trecho da rodovia BR-163, que vai de Marechal Cândido Rondon até Marmelândia, no Sudoeste do Estado. Serão concluídas pelas novas concessionárias do pedágio, só Deus sabe quando. Mas, enquanto o contribuinte sente no bolso os aumentos no custo de vida, com combustíveis e energia elétrica puxando a frente deste bloco macabro que empurra muitos brasileiros para a marginalidade, os quais aceitam qualquer proposta quando a fome bate à parte, há um setor que navega no mar da fartura e da folga financeira.

É o mundo da política. O fundo partidário teve um aumento brutal, acima de todos os indicadores econômicos, saltando de R$ 1,7 bilhão para R$ 5,7 bilhões. Neste setor nunca falta dinheiro quando se trata de “assaltar os cofres públicos”, mesmo que na teoria seja legal, porque aprovado pelo Congresso Nacional, a cor partidária não faz diferença, a maioria vota a favor, apostando na memória curta ou na ignorância do eleitor que não acompanha as manobras escusas dos bastidores de Brasília.

O Congresso apresenta o projeto, o presidente finge-se de indignado e veta parcialmente, mas depois os partidos de apoio ao governo derrubam o veto e assim todos festejam a fartura de recursos fruto do suor dos brasileiros que trabalham e pagam muitos impostos.

O dinheiro do fundão será utilizado para convencer o eleitor a votar nos mesmos que vão lhes prometer o paraíso, mas com certeza lhes entregarão o inferno. Sim, porque uma vez eleitos, vão trabalhar segundo seus próprios interesses, salvo honrosas exceções que formam uma minoria que sempre será voto vencido.

Há alguns anos, o discurso era o combate à corrupção. Agora não se fala mais nisso. A Operação Lava Jato foi sepultada e na maior cara de pau o teto de gastos não será mais respeitado. O governo foi autorizado a dar o calote nos precatórios, inventaram as imorais “emendas do relator”, uma carta branca ao descalabro incontrolável do dinheiro público.

Enfim, beneficiar-se do dinheiro público tornou-se tão comum que nada mais é considerado imoral. É a banalidade do mal que parece indignar apenas pequena parte da população que ainda tem vergonha na cara e gostaria de ver o Brasil melhor para todos.

Se queres fazer um bem ao Brasil e a ti mesmo não vote em candidato que tenha votado a favor do aumento do vergonhoso fundo eleitoral. Tudo vai dar errado quando você deixa de fazer o que é certo para fazer o que agrada.

 

O autor é empresário rural, professor aposentado e ex-prefeito de Nova Santa Rosa

miglioranza@opcaonet.com.br

 

 

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