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Elio Migliorança

Quando menos é mais

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Quando este artigo começou a ser escrito o Brasil registrava uma morte por minuto causada pela Covid-19. É impossível prever quantos mortos teremos no dia da sua publicação, o fato é que nem a mais pessimista das previsões no fim do ano passado podia apontar para a tragédia nacional que está sendo escrita em 2020. Uma história trágica que em menos de 90 dias já produziu dezenas de milhares de mortos, o que nos fez sair do zero para ocupar o 3º lugar em número de mortos no mundo dentre mais de 180 países que já registraram a presença do vírus.

Nada honrosa esta posição que nos coloca na triste situação de isolamento internacional, já que o mundo proíbe a entrada de cidadãos vindos de países com alto índice de contaminação. Se esta questão internacional está sob controle pelo simples fato de não viajarmos, temos outros problemas graves no ambiente doméstico.

O que temos visto nos últimos meses é um processo de divisão social crescente, com a radicalidade tomando conta dos debates e o confronto aberto entre instituições e pessoas. O confronto entre apoiadores e adversários que até pouco tempo se resumia a acalorados debates nas redes sociais foi pra rua e começou um perigoso confronto em campo aberto.

A escalada da intolerância com as opiniões contrárias tem sido a erva daninha a contaminar muitas famílias no momento em que elas mais deveriam estar unidas contra o inimigo comum chamado Covid-19.

Toda esta realidade, inimaginável no fim do ano passado, é o tempo do “quando menos é mais”. O que significa realmente isso?

Quanto menos intolerantes formos com aqueles que pensam de forma diferente do que nós pensamos estaremos contribuindo para termos mais harmonia e solidariedade.

Quanto menos política partidária misturarmos na grave situação vivida por aqueles que estão contaminados, mais estaremos respeitando a dor daqueles que perderam algum ente querido.

É importante lembrar que dentro daqueles caixões, enterrados em valas comuns ou em belos castelinhos nos cemitérios do Brasil, não estão apenas números; lá estão pais ou mães de família, estão filhos, avós, irmãos e amigos. São sonhos sepultados enquanto algumas autoridades dividem o país entre os contra e a favor, entre os que acreditam que a Covid-19 é mortal e aqueles que menosprezam o perigo achando que só os fracos e os velhos vão morrer.

É certo que um dia todos vão morrer, mas é inaceitável que não se utilizem os meios disponíveis para evitar que tantas vidas sejam abreviadas. Enquanto muitos insensíveis fazem comparações esdrúxulas com o número de mortes causadas por outras doenças ou acidentes ao longo dos últimos anos, minimizando o valor das vidas que se perdem agora, os profissionais de saúde estão mergulhados de corpo e alma entre os infectados, lutando bravamente para salvar o maior número de vidas possíveis.

Quanto menos energia gastarmos com discussões inúteis, mais força e disposição teremos para contribuir com aqueles que foram mais duramente golpeados pela doença.

Quanto menos radicalismo, mais compreensão e solidariedade estaremos espalhando entre nós.

E quanto menos agressões e mentiras sofisticadas espalharmos por aí, sobrará mais amizade e fraternidade no final da pandemia.

 

O autor é professor em Nova Santa Rosa

miglioranza@opcaonet.com.br

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